CLASSICISMO
(1527-1580)
(1527-1580)
O
Classicismo surgiu no auge do movimento renascentista, estimulado pelo poder
econômico que se concentrava em Portugal. Elaborado durante o período áureo da
Renascença na Itália, adotou como modelos os textos gregos e latinos. Suas
características são: racionalismo, universalismo, nacionalismo. Sua forma de
inspiração clássica foram os Sonetos, de Luís Vaz de Camões.
Na
segunda metade do séc.XV, o Renascimento começa a se expandir aos demais países
europeus. Em cada país esse movimento vai adquirindo aspectos diferentes.
Apesar dessa diversidade o movimento mantém uma característica comum: o
rompimento com o principal marco do feudalismo: o teocentrismo. Com a
decadência do sistema feudal, os renascentistas passam a tomar interesse pelo
ser humano e a valorizá-lo. O homem é considerado o centro do Universo, a sua
principal figura (antropocentrismo). Para os renascentistas, a natureza é tida
como o reino do homem, o qual é capaz de dominar as coisas do mundo, aberto às
pesquisas e investigações científicas. O classicismo, como movimento literário,
resulta do Renascimento. E ele foi elaborado durante o período áureo da
Renascença da Itália. Para bem entendermos essa época literária, é importante o
conhecimento de fatos que compõem o panorama histórico da Europa nesse período:
O
Universalismo
Para os clássicos, a obra de arte
prende-se a uma realidade idealizada; uma concepção artística transcendente,
baseada no Bem, no Belo, no Verdadeiro - valores passíveis de imitação. A
função do artista é a de criar a realidade circundante naquilo que ela tem de
universal.
O
Racionalismo
Os
autores clássicos submetem suas emoções ao controle da razão. Ao abandonar o
teocentrismo, o homem deste período afasta os temores da idade média e passa a
crer em suas potencialidades, incluindo nelas a habilidade de raciocinar. A
cultura clássica é uma cultura da racionalidade.
A
Perfeição Formal
Preocupados
com o equilíbrio e a harmonia de seus textos, os autores clássicos adotam a
chamada medida nova para os poemas: versos decassílabos e uso frequente de
sonetos (anteriormente chamava-se a medida velha: redondilhas). A rima e a
métrica atendem a esse ideal de perfeição, sendo cuidadosamente elaboradas
pelos autores clássicos.
Estilismo
Os clássicos evitam a vulgaridade.
O Classicismo tende a realização de uma arte de elite, o que reflete a
organização social da época. A concepção clássica foi introduzida em Portugal
por Sá de Miranda, ao regressar da Itália, onde conheceu novos conceitos de
arte e novas formas poéticas.
Uso
da Mitologia
Voltados para os valores da
antiguidade, os autores clássicos utilizam-se, com freqüência, de cenas
mitológicas, as quais simbolizam com propriedade as emoções que o autor quer
exteriorizar. Assim, a imagem do cupido, por exemplo, simboliza o amor.
Sá
de Miranda
Foi o introdutor das idéias
renascentistas em Portugal. Tendo estado na Itália, Sá de Miranda conheceu as
novas tendências e trouxe-as para a sua terra, em especial a concepção poética
denominada Medida Nova.
Luis
Vaz de Camões
Luis
de Camões é considerando o poeta máximo da língua portuguesa. Desde muito cedo
ganha fama de conquistador. Apaixona-se por Catarina de Ataíde, cujo nome é
celebrado no poema Natércia. Fica cego da vista direita, quando luta pelas
tropas portuguesas, na África. É preso por envolver-se em uma rixa durante uma
procissão de Corpus Christi. No cárcere, inicia o poema épico Os Lusíadas.
Livre, embarca para as Índias, onde exerce o cargo de provedor dos ausentes e
defuntos. Nas Índias, escreve mais seis cantos de sua obra. De volta a terra
natal, é vítima de um naufrágio; salva-se a nado com o seu manuscrito. Na
cidade do Porto conclui Os Lusíadas. Dedica a obra a Dom Sebastião, que lhe
concede uma pensão de 15.000 réis anuais. Camões escreve ainda: Anfitriões,
El-Rei Seleuco e Filodemo. A obra de Camões se divide em duas fases de sua
vida, lírico e épico. Os Sonetos, a forma de inspiração clássica desta escola
literária. Possuem como características o neoplatonismo, onde o tempo é
passageiro, sentimentos contraditórios, instabilidade dos sentimentos. Os
sonetos de Camões contêm um grande lirismo, descrevem bem o ambiente, grande
preocupação técnica e presença de elementos pagãos e católicos. A técnica dos
sonetos é impressionante, são os 14 versos de todos os sonetos (2 quartetos, 2
tercetos) decassílabos, de rima abba-abba-cde-cde, algo que
impressionaria o mais parnasiano dos poetas.
No
entanto, nem todos os sonetos tem sempre esta rima. Quanto aos elementos
pagãos, mais presentes que os católicos, deve-se apontar que é muito comum o
autor citar os deuses e deusas romanos, com suas qualidades. Infelizmente é
difícil se ter certeza de que ele escreveu todos os sonetos que a ele são
atribuídos. Muitos ainda têm a autoria contestada.
EXEMPLOS DE:
Soneto,
de Luís Vaz de Camões
Amor
é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
HUMANISMO
(1434-1507)
(1434-1507)
O
humanismo foi um estilo de transição, que ainda representou a Idade Média, mas
revelou um espírito crítico, onde preparava-se o mundo renascentista que viria
a seguir. Surge neste momento uma nova idéia, o antropocentrismo, em que o
homem é o centro do universo, devido ao surgimento da burguesia que enfraquece
o poder dos senhores feudais, que empobrecem. A igreja perde seu poder,
chegando a surgirem dois papas (um em Avignon-França e outro em
Roma-Itália),fazendo com que o homem se descubra como senhor de sua própria
vida. O Humanismo foi um movimento surgido e definido na Itália. O Humanismo
português iniciou-se com a nomeação de Fernão Lopes para o cargo de
cronista-mor da Torre do Tombo, em 1434.
Prosa,
o gênero narrativo.
Prosa
de Fernão Lopes - Conhecido como pai da
historiografia portuguesa, Fernão Lopes foi o encarregado de guardar os
arquivos da Torre do Tombo. Ele destacou-se como um prosador dono de um estilo
rico e movimentado. Não se limitou a dar elogios a reis, mas fez descrições
detalhadas, não só da corte, mas também das aldeias, festas populares e do
papel do povo nas guerras e rebeliões. Muitas de suas crônicas se perderam, mas
as que se restaram são: A Crônica del-Rei D. Pedro I, A Crônica del-Rei D.
Fernando, e A crônica del-Rei D. João I. Estas três crônicas foram narrativas
dos principais acontecimentos de cada reinado.
Prosa
Doutrinária - Foi dedicada aos nobres
com fins didáticos. Existiam livros como o de falcoaria, de montaria e do Leal
Conselheiro, em que se produziam conselhos sobre amor e inveja.
Teatro
de Gil Vicente - Fundador do teatro
português. Provavelmente nascido em 1465, foi poeta e dramaturgo, talvez
ourives e organizador de festas palacianas do tempo da rainha Dona Leonor. Seus
textos revelam conhecimento literário, e suas obras se caracterizam por constituir
uma galeria de tipos, por painéis alegóricos, humor e crítica social, sem
deixar de lado o caráter religioso. Gil Vicente preocupou-se em retratar o
homem na sociedade, criticando-lhes os costumes, com um princípio de moral. Sua
primeira peça foi o Monólogo do Vaqueiro, em que o tema era o nascimento do
filho de Dona Maria e Dom Manuel (1502). Escreveu ainda autos e farsas, peças
religiosas e profanas. A Novela de Cavalaria mais conhecida foi a comédia
Amadis de Gaula (1523).
Autos
e Farsas
AUTOS
|
Religiosos
|
normalizantes
|
FARSAS
|
profanas
e irônicas
|
reformadoras
|
Os autos mais conhecidos de Gil
Vicente foi um a trilogia formada pelo Auto da barca do Inferno, o Auto da
Barca da Glória e o Auto da barca do Purgatório. A farsa mais conhecida foi a Farsa
de Inês Pereira, que retratou esta idéia: "Mais vale um asno que me
carregue, do que um cavalo que me derrube".
Poesia
Palaciana
O
Gênero Lírico Humanista é uma coletânea de mil poemas publicados em 1516, com o
título de Cancioneiro Geral. Diferentemente da poesia trovadoresca, a poesia
palaciana apresenta-se declamada, e não cantada, como eram as cantigas
medievais. Apresenta visão menos idealista da mulher, sem divisão de classes
sociais e o amor torna-se possível entre pessoas de todas as categorias
sociais. Em geral, o mote é obrigatório e constitui-se numa estrofe de quatro
ou cinco versos. Seu tema é o amor cortês.
EXEMPLOS DE:
Teatro
de Gil Vicente
Auto da Barca do Inferno
"Ó barca, como és
ardente!
Maldito em quem em ti vai!"
Maldito em quem em ti vai!"
Farsa de Inês Pereira
"Porém, não hei-de casar
senão com homem avisado
Ainda que pobre e pelado,
seja discreto em falar."
senão com homem avisado
Ainda que pobre e pelado,
seja discreto em falar."
Auto da Alma
"A Sua mortal empresa
foi, santa estalajadeira
Igreja Madre,
consolar à sua despesa
nesta mesa
qualquer alma caminheira,
com o Padre.
E o Anjo custódio aio
Alma que lhe é encomendada,
se enfraquece
e lhe vai tomando raio
de desmaio,
se chegando a esta pousada,
se guarnece."
foi, santa estalajadeira
Igreja Madre,
consolar à sua despesa
nesta mesa
qualquer alma caminheira,
com o Padre.
E o Anjo custódio aio
Alma que lhe é encomendada,
se enfraquece
e lhe vai tomando raio
de desmaio,
se chegando a esta pousada,
se guarnece."
TROVADORISMO
(1189-1434)
(1189-1434)
Considera-se a Cantiga da
Ribeirinha o primeiro texto literário português. A mulher de que se fala esse
texto, chamada Ribeirinha, teria sido a preferida de D. Sancho I. Veja abaixo
este texto literário, provavelmente escrito em 1189.
No
mundo non m’ei parelha
mentre me for como me vai,
ca já moiro por vós, e ai!
Mia senhor, branca e vermelha,
queredes que vos retraia,
quando vos eu vi en saia.
Mao dia me levantei,
que vos enton non vi fea!
mentre me for como me vai,
ca já moiro por vós, e ai!
Mia senhor, branca e vermelha,
queredes que vos retraia,
quando vos eu vi en saia.
Mao dia me levantei,
que vos enton non vi fea!
E,
mia senhor, dês aquelha
I me foi a mi mui mal, ai!
E vós, filha de don Paai
Moniz, e bem vos semelha
d’aver eu por vós garvaia,
pois eu, mia senhor, d’alfaia
nunca de vós ouve nen ei
valia d’ua Correa
I me foi a mi mui mal, ai!
E vós, filha de don Paai
Moniz, e bem vos semelha
d’aver eu por vós garvaia,
pois eu, mia senhor, d’alfaia
nunca de vós ouve nen ei
valia d’ua Correa
A
cultura trovadoresca refletia muito bem o panorama histórico desse período, que
foi do século XII à XIV. Nesse período houve as Cruzadas, a luta contra os
mouros e o poder acentuado do clero, ocasionando o teocentrismo. Esta época foi
marcada por um sistema econômico e político, o feudalismo. Eram freqüentes
romarias, procissões, além das expedições realizadas durante a Idade Média, com
o objetivo de libertar os lugares santos.
A
poesia medieval portuguesa
a) Gênero Lírico - neste gênero, o amor é a temática predominante. São divididos em
cantiga de amor e de amigo.
Þ Cantiga de amor - Expressa-se o amor cortês da época. O poeta fala em seu próprio nome, expressando seus sentimentos pela dama que deseja. Seu amor é platônico. O eu-lírico masculino nunca revela o nome da amada, sendo chamada de "mia senhor". O poeta se dispões a um afastamento casto de sua amada, desejando-a à distância, por uma posição tomada pela moral cristã. A mulher é socialmente superior, casada. A vassalagem é amorosa, e as cantigas eram de maestria e sem refrão.
Þ Cantiga de amigo - Os trovadores exprimem os sentimentos que supunham ter as amadas, ou que desejam que tivessem por eles. Essa cantiga procura mostrar a mulher dialogando com sua mãe, amiga ou com a natureza. As cantigas de amigo apresentam aspectos como: temas mais variados que da cantiga de amor, linguagem menos rica e mais musical, destinada ao canto e à dança, onde são configurados os problemas sociais e políticos. O eu-lírico é feminino e a relação amorosa verdadeira.
Þ Cantiga de amor - Expressa-se o amor cortês da época. O poeta fala em seu próprio nome, expressando seus sentimentos pela dama que deseja. Seu amor é platônico. O eu-lírico masculino nunca revela o nome da amada, sendo chamada de "mia senhor". O poeta se dispões a um afastamento casto de sua amada, desejando-a à distância, por uma posição tomada pela moral cristã. A mulher é socialmente superior, casada. A vassalagem é amorosa, e as cantigas eram de maestria e sem refrão.
Þ Cantiga de amigo - Os trovadores exprimem os sentimentos que supunham ter as amadas, ou que desejam que tivessem por eles. Essa cantiga procura mostrar a mulher dialogando com sua mãe, amiga ou com a natureza. As cantigas de amigo apresentam aspectos como: temas mais variados que da cantiga de amor, linguagem menos rica e mais musical, destinada ao canto e à dança, onde são configurados os problemas sociais e políticos. O eu-lírico é feminino e a relação amorosa verdadeira.
b)
Gênero Satírico - Expressa a psicologia
medieval, despertando muitos comentários na época. Satiriza-se a vida social e
política, sem as normas rígidas do gênero lírico.
Þ Cantiga de Escárnio - apresenta críticas sutis e bem-humoradas ao redor de uma pessoa muito reconhecidamente conhecida. A crítica é indireta e a linguagem não é grosseira.
Þ Cantiga de Maldizer - apresenta críticas pesadas, com intenção de ofender a pessoa. Há o uso de palavras grosseiras e cita-se o nome ou o cargo da pessoa em que se fala (crítica direta).
Þ Cantiga de Escárnio - apresenta críticas sutis e bem-humoradas ao redor de uma pessoa muito reconhecidamente conhecida. A crítica é indireta e a linguagem não é grosseira.
Þ Cantiga de Maldizer - apresenta críticas pesadas, com intenção de ofender a pessoa. Há o uso de palavras grosseiras e cita-se o nome ou o cargo da pessoa em que se fala (crítica direta).
A
prosa medieval portuguesa
A
produção literária medieval limita-se quanto à prosa, aos conventos, onde eram
escritas hagiografias (relatos sobre a vida de santos) e nobiliários (livros de
linhagem contendo árvores genealógicas de nobres, evitando casamentos entre
parentes próximos).
Novelas
de cavalaria
Novelas de cavalaria são
narrativas originadas de poemas relacionados a assuntos épicos. O texto mais
importante é a adaptação de uma novela de cavalaria chamada A Demanda do Santo
Graal, onde se mostram os cavaleiros da távola redonda, liderados pelo rei
Artur, tentando localizar a taça onde teria sido guardado o sangue de Cristo.
As novelas eram organizadas em três ciclos:
Þ Ciclo arturiano, em torno do rei Artur e seus cavaleiros
Þ Ciclo carolíngio, a respeito de Carlos Magno e os doze pares da França.
Þ Ciclo clássico, relativo aos temas greco-latinos.
Þ Ciclo arturiano, em torno do rei Artur e seus cavaleiros
Þ Ciclo carolíngio, a respeito de Carlos Magno e os doze pares da França.
Þ Ciclo clássico, relativo aos temas greco-latinos.
EXEMPLOS DE:
Cantiga
de amor
O
exemplo a seguir é a canção número 97 e foi escrita por El-rei D. Dinis.
Hun tal home sei eu, bem
talhada
Que por vós tem a sa morte chegada;
Vides quen é e seed'en nanbrada;
Eu, mia dona.
Que por vós tem a sa morte chegada;
Vides quen é e seed'en nanbrada;
Eu, mia dona.
Hun tal home sei eu que preto
sente
De si morte chegada certamente;
Vêdes quem é e venha-vos en mente;
Eu, mia dona.
De si morte chegada certamente;
Vêdes quem é e venha-vos en mente;
Eu, mia dona.
Hun tal home sei eu, aquest'oide:
Que por vós morr' e vo-lo en partide,
Vêdes quem é e non xe vos obride;
Eu, mia dona.
Que por vós morr' e vo-lo en partide,
Vêdes quem é e non xe vos obride;
Eu, mia dona.
Cantiga
de amigo
O
exemplo que segue é a Cantiga número 462 e foi escrita por Aires Nunes.
Bailemos nós já tôdas três, ai
amiga,
So aquestas avelaneiras froildas
E quen fôn velidas, como nós, velidas,
Se amig'amar
So aquestas avelaneiras frolidas
Verrá bailar.
So aquestas avelaneiras froildas
E quen fôn velidas, como nós, velidas,
Se amig'amar
So aquestas avelaneiras frolidas
Verrá bailar.
Baliemos nós já todas três, ai
irmanas,
So aqueste ramo desta avelanas,
E quen bem parecer, como nós parecemos
Se amig'amar
So aqueste ramos destas avelanas
Verrá bailar.
E quen bem parecer, como nós parecemos
Se amig'amar
So aqueste ramos destas avelanas
Verrá bailar.
Por Deus, ai amigas, mentr'al non
fazemos
So aqueste ramo florido bailemos
E quen bem parecer, como nós parecemos,
So aqueste ramo so lo que bailemos
Se amig'amar
Verrá bailar.
So aqueste ramo florido bailemos
E quen bem parecer, como nós parecemos,
So aqueste ramo so lo que bailemos
Se amig'amar
Verrá bailar.
Cantiga
de Escárnio
A
Cantiga que segue, de Escárnio, é a número 998 e foi escrita por Pêro Garcia
Burgalês.
Rui Queimado morreu com amor
en sus cantares, par Santa Marta,
por ua dona que gran bem queria,
e, por se meter por mais trovador,
porque lh'ela non quis [o] bem fazer
fêz-s'el en sus cantares morrer,
mas ressurgir depois ao tercer dia!
en sus cantares, par Santa Marta,
por ua dona que gran bem queria,
e, por se meter por mais trovador,
porque lh'ela non quis [o] bem fazer
fêz-s'el en sus cantares morrer,
mas ressurgir depois ao tercer dia!
Esto féz el por ua as senhor
Que quer gran bem e mais vos en diria:
Porque cuida que faz i maestria,
Enos cantares que fêz a sabor
De morrer i se des d'ar viver;
Esto faz el que x'o pode fazer
Mais outr'omen per ren non [n] o faria.
Que quer gran bem e mais vos en diria:
Porque cuida que faz i maestria,
Enos cantares que fêz a sabor
De morrer i se des d'ar viver;
Esto faz el que x'o pode fazer
Mais outr'omen per ren non [n] o faria.
E non há já de as morte pavor,
Senon as morte mais la temeria,
Mas sabede bem, para as sabedoria,
Que viverá, dês quando morto fôr,
E faz-[s']en ser cantar morte prender;
Desi ar viver i vêde que poder
Que lhi Deus deu, mas que non cuidara.
Senon as morte mais la temeria,
Mas sabede bem, para as sabedoria,
Que viverá, dês quando morto fôr,
E faz-[s']en ser cantar morte prender;
Desi ar viver i vêde que poder
Que lhi Deus deu, mas que non cuidara.
E, se mi Deus a mim desse poder,
Qual oi' el há, pois morrer, de viver,
Jamais morte nunca temeria.
Qual oi' el há, pois morrer, de viver,
Jamais morte nunca temeria.
Cantiga
de Maldizer
A
Cantiga seguinte, de Maldizer, é a número 1057 e foi escrita por Joan Garcia de
Guilhade.
Ai dona fea! Fostes-vos queixar
Porque vos nunca louv' en meu trobar
Mais ora quero fazer un cantar
En que vos loarei tôda via;
E vêdes como vos quero loar:
Dona fea, velha e sandia!
Porque vos nunca louv' en meu trobar
Mais ora quero fazer un cantar
En que vos loarei tôda via;
E vêdes como vos quero loar:
Dona fea, velha e sandia!
Ai, dona fea! Se Deus me perdon!
E pois haverdes tan gran coraçon
Que vos eu loe en esta razon,
Vos quero já loar tôda via;
E vêdes qual será a loaçon:
Dona fea, velha e sandia!
E pois haverdes tan gran coraçon
Que vos eu loe en esta razon,
Vos quero já loar tôda via;
E vêdes qual será a loaçon:
Dona fea, velha e sandia!
Dona fea, nunca vos eu loei
En meu trobar, pero muito trobei;
Mais ora já un bem cantar farei
En que vôs loarei tôda via;
E direi-vos como vos loarei:
Dona fea, velha e sandia!
En meu trobar, pero muito trobei;
Mais ora já un bem cantar farei
En que vôs loarei tôda via;
E direi-vos como vos loarei:
Dona fea, velha e sandia!
ARCADISMO
(1768-1808)
(1768-1808)
As
formas artísticas do Barroco já se encontram desgastadas e
decadentes. O fortalecimento político da burguesia e o aparecimento dos
filósofos iluministas formam um novo quadro sócio político-cultural, que
necessita de outras fórmulas de expressão. Combate-se a mentalidade religiosa
criada pela Contra-Reforma. Conhecida como Arcadismo, uma
influência que inspirava-se na lendária região da Grécia
antiga, já chegava à Itália . No Brasil e em Portugal, a experiência
neoclássica na literatura se deu em torno dos modelos do Arcadismo italiano,
com a fundação de academias literárias, simulação pastoral, ambiente campestre,
etc. Esses ideais de vida simples e natural vêm ao encontro dos anseios de um
novo público consumidor em formação, a burguesia, que historicamente lutava
pelo poder e denunciava a vida luxuosa da nobreza nas cortes. A primeira obra
do arcadismo foi feita em 1768, denominada Obras Poéticas, de Cláudio M. da
Costa.
Características
do Arcadismo
A ausência de subjetividade, o
racionalismo, o soneto (forma poética), simplicidade, pseudônimos e bucolismo
(natureza) e o neoclassicismo são umas das características do Arcadismo,
disposta a fazer valer a simplicidade perdida no Barroco. Entre outros:
·
Fugere urbem - Os árcades
buscavam uma vida simples, bucólica, longe do burburinho citadino.
·
Inutilia truncar - A frase em
latim resume grande parte da estética árcade. Ela significa que "as
inutilidades devem ser banidas" e vai ao encontro do desprezo pelo exagero
e pelo rebuscamento, característicos do Barroco.
·
Carpe diem - Aproveitar o dia,
viver o momento presente com grande intensidade, foi uma atitude inteiramente
assumida por esses poetas.
·
Poetas
da Inconfidência Mineira
Não
existiu, no Brasil, uma Arcádia, como em Portugal. Um vigoroso grupo
intelectual (o grupo mineiro) destacou-se na arte literária e na
prática política, participando ativamente da Inconfidência Mineira. Esse grupo,
constituído por Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio
Gonzaga, Inácio José de Alvarenga Peixoto, Manuel
Inácio da Silva Alvarenga e outros intelectuais, foi desfeito de forma
violenta, com a prisão, desterro ou morte de alguns poetas, à época da
repressão política em torno do episódio da Inconfidência. Com os olhos voltados
para a terra natal, esses poetas árcades iniciaram o período de transformação
da literatura brasileira, que se vai efetivar, realmente, no século XIX, com os
românticos. Tomás Antônio Gonzaga escreveu Marília de Dirceu, uma poesia
lírica, e Cartas Chilenas, poesia satírica. Cláudio Manoel da Costa inspirou-se
em Camões para escrever Obras Poéticas. Silva Alvarenga fez obras em forma
clássica. Outros poetas como Basílio da Gama (O Uruguai) e Frei Santa Rita
Durão (Caramuru) aparecem neste cenário.
EXEMPLO DE:
Obras
Poéticas, de Cláudio M. da Costa.
Soneto
Destes penhascos fez a natureza
O berço em que nasci: oh quem cuidara.
Que entre penhas tão duras se criara
Uma alma terna, um peito sem dureza.
Amor, que vence os Tigres, por empresa
Tomou logo render-me, ele declara
Contra o meu coração guerra tão rara,
Que não me foi bastante a fortaleza.
Por mais que eu mesmo conhecesse o dano
A que dava ocasião minha brandura,
Nunca pode fugir ao cego engano:
Vós, que ostentais a condição mais dura.
Temei, penhas, temei; que Amor tirano,
Onde há mais resistência, mais se apura.
O berço em que nasci: oh quem cuidara.
Que entre penhas tão duras se criara
Uma alma terna, um peito sem dureza.
Amor, que vence os Tigres, por empresa
Tomou logo render-me, ele declara
Contra o meu coração guerra tão rara,
Que não me foi bastante a fortaleza.
Por mais que eu mesmo conhecesse o dano
A que dava ocasião minha brandura,
Nunca pode fugir ao cego engano:
Vós, que ostentais a condição mais dura.
Temei, penhas, temei; que Amor tirano,
Onde há mais resistência, mais se apura.
Tomás
Antônio Gonzaga
Marília de Dirceu, Lira I
Marília de Dirceu, Lira I
Eu, Marília, não sou algum
vaqueiro,
Que viva de guardar alheio gado;
De tosco trato, d’ expressões grosseiro,
Dos frios gelos, e dos sóis queimado.
Tenho próprio casal, e nele assisto;
Dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
Das brancas ovelhinhas tiro o leite,
E mais as finas lãs, de que me visto.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
Eu vi o meu semblante numa fonte,
Dos anos inda não está cortado:
Os pastores, que habitam este monte,
Com tal destreza toco a sanfoninha,
Que inveja até me tem o próprio Alceste:
Ao som dela concerto a voz celeste;
Nem canto letra, que não seja minha,
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
Mas tendo tantos dotes da ventura,
Só apreço lhes dou, gentil Pastora,
Depois que teu afeto me segura,
Que queres do que tenho ser senhora.
É bom, minha Marília, é bom ser dono
De um rebanho, que cubra monte, e prado;
Porém, gentil Pastora, o teu agrado
Vale mais q’um rebanho, e mais q’um trono.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
Os teus olhos espalham luz divina,
A quem a luz do Sol em vão se atreve:
Papoula, ou rosa delicada, e fina,
Te cobre as faces, que são cor de neve.
Os teus cabelos são uns fios d’ouro;
Teu lindo corpo bálsamos vapora.
Ah! Não, não fez o Céu, gentil Pastora,
Para glória de Amor igual tesouro.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
Leve-me a sementeira muito embora
O rio sobre os campos levantado:
Acabe, acabe a peste matadora,
Sem deixar uma rês, o nédio gado.
Já destes bens, Marília, não preciso:
Nem me cega a paixão, que o mundo arrasta;
Para viver feliz, Marília, basta
Que os olhos mova, e me dês um riso.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
Irás a divertir-te na floresta,
Sustentada, Marília, no meu braço;
Ali descansarei a quente sesta,
Dormindo um leve sono em teu regaço:
Que viva de guardar alheio gado;
De tosco trato, d’ expressões grosseiro,
Dos frios gelos, e dos sóis queimado.
Tenho próprio casal, e nele assisto;
Dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
Das brancas ovelhinhas tiro o leite,
E mais as finas lãs, de que me visto.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
Eu vi o meu semblante numa fonte,
Dos anos inda não está cortado:
Os pastores, que habitam este monte,
Com tal destreza toco a sanfoninha,
Que inveja até me tem o próprio Alceste:
Ao som dela concerto a voz celeste;
Nem canto letra, que não seja minha,
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
Mas tendo tantos dotes da ventura,
Só apreço lhes dou, gentil Pastora,
Depois que teu afeto me segura,
Que queres do que tenho ser senhora.
É bom, minha Marília, é bom ser dono
De um rebanho, que cubra monte, e prado;
Porém, gentil Pastora, o teu agrado
Vale mais q’um rebanho, e mais q’um trono.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
Os teus olhos espalham luz divina,
A quem a luz do Sol em vão se atreve:
Papoula, ou rosa delicada, e fina,
Te cobre as faces, que são cor de neve.
Os teus cabelos são uns fios d’ouro;
Teu lindo corpo bálsamos vapora.
Ah! Não, não fez o Céu, gentil Pastora,
Para glória de Amor igual tesouro.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
Leve-me a sementeira muito embora
O rio sobre os campos levantado:
Acabe, acabe a peste matadora,
Sem deixar uma rês, o nédio gado.
Já destes bens, Marília, não preciso:
Nem me cega a paixão, que o mundo arrasta;
Para viver feliz, Marília, basta
Que os olhos mova, e me dês um riso.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
Irás a divertir-te na floresta,
Sustentada, Marília, no meu braço;
Ali descansarei a quente sesta,
Dormindo um leve sono em teu regaço:
Enquanto a luta joga os Pastores,
E emparelhados correm nas campinas,
Toucarei teus cabelos de boninas,
Nos troncos gravarei os teus louvores.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
Depois de nos ferir a mão da morte,
Ou seja, neste monte, ou noutra serra,
Nossos corpos terão, terão a sorte
De consumir os dois a mesma terra.
Na campa, rodeada de ciprestes,
Lerão estas palavras os Pastores:
"Quem quiser ser feliz nos seus amores,
Siga os exemplos, que nos deram estes."
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
E emparelhados correm nas campinas,
Toucarei teus cabelos de boninas,
Nos troncos gravarei os teus louvores.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
Depois de nos ferir a mão da morte,
Ou seja, neste monte, ou noutra serra,
Nossos corpos terão, terão a sorte
De consumir os dois a mesma terra.
Na campa, rodeada de ciprestes,
Lerão estas palavras os Pastores:
"Quem quiser ser feliz nos seus amores,
Siga os exemplos, que nos deram estes."
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
Basílio
da Gama
O
Uruguai (fragmentos)
"O rei é vosso pai: quer-vos
felizes.
Sois livres, como eu sou; e sereis livres.
Não sendo aqui, em qualquer outra parte.
Mas deveis entregar-nos estas terras.
Ao bem público cede o bem privado.
O sossego da Europa assim pede.
Assim o manda o rei. Vós sois rebeldes,
Se não obedeceis; mas os rebeldes
Eu sei que não sois vós - são os "bons" padres,
Que vos dizem a todos que sois livres,
E se servem de vós como de escravos,
E armados de orações vos põem no campo."
Sois livres, como eu sou; e sereis livres.
Não sendo aqui, em qualquer outra parte.
Mas deveis entregar-nos estas terras.
Ao bem público cede o bem privado.
O sossego da Europa assim pede.
Assim o manda o rei. Vós sois rebeldes,
Se não obedeceis; mas os rebeldes
Eu sei que não sois vós - são os "bons" padres,
Que vos dizem a todos que sois livres,
E se servem de vós como de escravos,
E armados de orações vos põem no campo."
Os trechos abaixo pertencem a
Cacambo, chefe guarani:
"...Se o rei da Espanha
Ao teu rei quer dar terras com mão larga
Que lhe dê Buenos Aires e Corrientes.
E outras, que tem por estes vastos climas;
Porém não pode dar-lhe os nossos povos (...)"
"Gentes de Europa, nunca vos trouxera
O mar e o vento a nós. Ah! não debalde
Estendeu entre nós a natureza
Todo esse plano espaço imenso de águas."
Ao teu rei quer dar terras com mão larga
Que lhe dê Buenos Aires e Corrientes.
E outras, que tem por estes vastos climas;
Porém não pode dar-lhe os nossos povos (...)"
"Gentes de Europa, nunca vos trouxera
O mar e o vento a nós. Ah! não debalde
Estendeu entre nós a natureza
Todo esse plano espaço imenso de águas."
O trecho abaixo refere-se à
expressão doce de Lindóia, já morta:
"Inda conserva o pálido
semblante
Um não sei quê de magoado e triste.
Que os corações mais duros enternece,
Tanto era bela no seu rosto a morte!"
Um não sei quê de magoado e triste.
Que os corações mais duros enternece,
Tanto era bela no seu rosto a morte!"
Santa
Rita Durão
Caramuru
(fragmentos)
"Só
tu tutelar anjo, que o acompanhas,
Sabes quanta virtude ali se arrisca
Essas fúrias da paixão, que acende, estranhas
Essa de insano amor doce faísca
ânsia no coração sentiu tamanhas
Que houvera de perder-se naqu’hora
Se não fora cristão, se herói fora."
Sabes quanta virtude ali se arrisca
Essas fúrias da paixão, que acende, estranhas
Essa de insano amor doce faísca
ânsia no coração sentiu tamanhas
Que houvera de perder-se naqu’hora
Se não fora cristão, se herói fora."
"Paraguaçu
gentil (tal nome teve),
Bem
diversa de gente tão nojosa,
De cor tão alva como a branca neve,
E donde não é neve, era de rosa;
O nariz natural, boca mui breve
Olhos de bela luz, testa espaçosa."
De cor tão alva como a branca neve,
E donde não é neve, era de rosa;
O nariz natural, boca mui breve
Olhos de bela luz, testa espaçosa."
BARROCO
(1601 - 1768)
(1601 - 1768)
O
tempo barroco denomina genericamente todas as manifestações artísticas dos anos
1600 e início dos anos 1700. Além da literatura, estende-se à música, pintura,
escultura e arquitetura da época. O Barroco é o primeiro
estilo de época da literatura brasileira e Gregório de Matos o
primeiro poeta efetivamente brasileiro, com sentimento nativista manifesto. A
agricultura lusa era abandonada. As colônias, principalmente o Brasil, não
deram a Portugal riquezas imediatas. Portugal vive uma crise dinástica. O
Cristianismo se divide. O quadro brasileiro se completa, no século XVII, com a
presença cada vez mais forte dos comerciantes, com as transformações ocorridas
no Nordeste em conseqüência das invasões holandesas e, finalmente, com o apogeu
e a decadência da cana-de-açúcar. A 1ª obra barroca foi a Prosopopéia, de Bento
Teixeira (1601) O homem está em conflito:
·
Culto do contraste: o poeta
barroco se sente dividido, confuso. A obra é marcada pelo dualismo: carne X
espírito, vida X morte, luz X sombra, racional X místico. Por isso, o emprego
de antíteses.
·
Pessimismo: devido a tensão
(dualidade), o poeta barroco não tinha nenhuma perspectiva diante da vida.
·
Literatura moralista: a
literatura tornou-se um importante instrumento para educar e para
"pregar" por parte dos religiosos (padres).
Padre
Antônio Vieira
Grande orador, tem obra rica, com
profecias, cartas e sermões (o mais conhecido é o Sermão da Sexagésima), em
defesa dos índios, combate aos ímpios e Linguagem conceptiva (cultismo - jogo
de idéias ou palavras).
Gregório
de Matos
Conhecido
como Boca do Inferno, é o poeta mais representativo da literatura brasileira.
Ele não teve nenhuma obra publicada quando vivo. Apenas em 1963, poetas
modernos reuniram em um livro as poesias dele. Gregório de Matos fala em três
tipos de poesias:
·
Poesia Religiosa - O homem
temente a Deus
·
Poesia Lírica - Transitoriedade
do tempo (ora erótica, ora casta).
·
Poesia Satírica - ironiza todo o
Brasil Colonial. Daí vem a origem de sue apelido.
Estilos
no Barroco Literário
Podemos
notar dois estilos no barroco literário:
·
Cultismo: é caracterizado pela
linguagem rebuscada, culta, extravagante (hipérboles), descritiva; pela
valorização do pormenor mediante jogos de palavras (ludismo verbal), com
visível influência do poeta espanhol Luís de Gôngora; daí o estilo
ser também conhecido por Gongorismo. No cultismo valoriza-se o "como dizer".
·
Conceptismo: é marcado pelo jogo
de idéias, de conceitos, seguindo um raciocínio lógico, racionalista, que
utiliza uma retórica aprimorada (arte de bem falar, ou escrever, com o
propósito de convencer; oratória). Um dos principais cultores do Conceptismo
foi o espanhol Quevedo, de onde deriva o termo Quevedismo.
Valoriza-se, neste estilo, "o que dizer".
EXEMPLO DE:
Padre
Antônio Vieira
Sermão
do Mandato (fragmento)
O
primeiro remédio que dizíamos, é o tempo. Tudo cura o tempo, tudo faz esquecer,
tudo gasta, tudo digere, tudo acaba. Atreve-se o tempo a colunas de mármore,
quanto mais a corações de cera? São as afeições como as vidas, que não há mais
certo sinal de haverem de durar pouco, que terem durado muito. São como as
linhas, que partem do centro para a circunferência, que quanto mais
continuadas, tanto menos unidas. Por isso os Antigos sabiamente pintaram o amor
menino; porque não há amor tão robusto que chegue a ser velho. De todos os
instrumentos com que o armou a natureza, o desarma o tempo. Afrouxa-lhe o arco,
com que já não atira; embota-lhe as setas, com que já não fere; abre-lhe os
olhos, com que vê o que não via; e faz-lhe crescer as asas, com que voa e foge.
A
razão natural de toda esta diferença, é porque o tempo tira a novidade às
cousas, descobre-lhe os defeitos, enfastia-lhe o gosto, e basta que sejam
usadas para não serem as mesmas. Gasta-se o ferro com o uso, quanto mais o
amor? O mesmo amar é causa de não amar, e o Ter amado muito, de amar menos.
Cronologia
e características dos movimentos literários brasileiros
Quinhentismo
1500 (Quinhentismo)
1º Documento escrito em terras
brasileiras: Carta a D. Manuel.
Gêneros: poesia lírica e épica, teatro e crônicas.
Pero Vaz de Caminha
José de Anchieta
Valorização do homem
(antropocentrismo); paganismo (maravilhoso pagão); superioridade do homem sobre
a natureza; objetividade; racionalismo; universalidade; saber concreto em
detrimento do abstrato; retomada dos valores greco-romanos; rigor métrico, ritmico
e estrófico: equilíbrio e harmonia.
Barroco
1601
Bento Teixeira: publicação
de Prosopopéia
Pe. Antônio Vieira (oratória)
Gregório de Matos (poesia)
Arte
dos contrastes: antinomia homem - céu, homem - terra; visualização e
plasticidade; fugacidade; não-racionalismo; unidade e abertura (perspectivas
múltiplas para o observador); luta entre o profano e o sagrado. Culto a
elementos evanescentes (água/vento). Sentido de transitoriedade da vida; carpe
diem (aproveitar o momento); valorização do presente, movimento ligado
ao espírito da Contra - Reforma; jogos de metáforas; riqueza de imagens; gosto
pelo pormenor; malabarismo verbal - uso de hipérbato, hipérbole, metáforas e
antíteses.
Arcadismo
1768
Cláudio Manuel da Costa: Obras
Poéticas
Cláudio Manuel da Costa, Tomás
Antônio Gonzaga (poesia lírica e épica)
Basílio da Gama e Santa Rita
Durão (poesia épica)
Arte
do equilíbrio e harmonia; busca do racional, do verdadeiro e da natureza;
retorno às concepções de beleza do Renascimento; poesia objetiva e
descritiva; áurea mediocritas: o objetivo arcádico de uma vida
serena e bucólica; pastoralismo; valorização da mitologia; técnica da
simplicidade. Literatura linear e regrada: inutilia truncat (cortar
o inútil).
Romantismo
1836
Gonçalves de Magalhães
Publicação de Suspiros Poéticos e
Saudades
Poesia: Gonçalves Dias, Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Castro Alves.
Prosa: (urbanos) Alencar, Joaquim Manuel de Macedo, Manuel Antônio de
Almeida; (regionalistas) Alencar, Bernardo Guimarães, Taunay;
(indianista-histórico) Alencar
1ª Geração: nacionalismo, ufanismo, natureza, religião (cristianismo),
indianismo/medievalismo.
2ª Geração: mal do século, evasão, solidão, profundo pessimismo, anseio da morte.
3ª Geração: condoreirismo, liberdade, oratória de reivindicação, transição
para o Parnasianismo, literatura social e engajada.
Geral: imaginação, fantasia, sonho, idealização, sonoridade,
simplicidade, subjetivismo, sintaxe emotiva, liberdade criadora.
Realismo, Parnasianismo e Naturalismo
1881
Machado de Assis
Publicação de Memórias
Póstumas de Brás Cubas/ Realismo
Aluísio de Azevedo
Publicação de O Mulato/
Naturalismo
Década de 80
Definição do ideário parnasiano.
Prosa: Machado de Assis, Aluísio Azevedo, Raul Pompéia
Poesia: Olavo Bilac, Alberto de Oliveira, Raimundo Correia, Vicente de
Carvalho.
Realismo: preocupação com a verdade exata, observação e análise, personagens
tipificadas, preferência pelas camadas altas da sociedade. Objetividade.
Descrições pormenorizadas. Linguagem correta, no entanto é mais próxima da
natural, maior interesse pela caracterização que pela ação - tese documental.
Naturalismo: visão determinista do homem (animal, presa de forças fatais e
superiores - meio, herança genética, fisiologia, momento). Tendência para
análise dos deslizes de personalidade. Deturpações psíquicas e físicas.
Preferência pela classe operária. Patologia social: miséria, adultério,
criminalidade, etc - tese experimental.
Parnasianismo: arte pela arte, objetividade, poesia descritiva, versos impassíveis,
exatidão e economia de imagens e metáforas, poesia técnica e formal, retomada
de valores clássicos, apego à mitologia greco-romana.
Simbolismo
1893
Cruz e Sousa
Publicação de Missal (prosa
poética) e Broquéis (poesia).
Poesia: Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimaraens, Pedro Kilkerry, Emiliano
Perneta.
Reação
contra o positivismo, o Naturalismo e o Parnasianismo; individualismo,
subjetivismo psicológico, atitude irracional e mística, respeito pela música,
atitude irracional e mística, respeito pela música, cor, luz; procura das
possibilidades do léxico.
Pré-Modernismo
1902
Publicação de Os Sertões,
de Euclides da Cunha; Canaã, de Graça Aranha.
Prosa: Monteiro Lobato, Euclides da Cunha, Lima Barreto, Graça Aranha.
Poesia: Augusto dos Anjos;
Tendência
das primeiras décadas do século XX, sentido mais crítico, fixando diferentes
facetas da realidade social, política ou alterações na paisagem e cor local.
Modernismo
1922- Semana de Arte Moderna.
1922-30 - 1ª fase: revolucionária: Mário de Andrade.
Publicação de Paulicéia
Desvairada.
1930-45 - 2ª fase:
neo-realismo, literatura
regional..
José América de Almeida
A Bagaceira
Geração de 45- 3ª fase: investigar comportamentos e atitudes do ser humano
João Guimarães, Clarice
Lispector, João Cabral.
Literatura contemporânea (Pós-Modernismo); década de 50.
Enorme proliferação de estilos.
Concretismo
Poesia -práxis
Contos
1ª
Geração: revolucionária - negação da tradição
cultural, antipurista, antiacademicista, linguagem coloquial, verso livre,
nacionalismo crítico, ironia, sarcasmo, irreverência. Poema-piada, liberdade de
criação. Predomínio da poesia.
2ª
Geração: estabilidade: herança de 22, acrescentando
aprimoramento da linguagem (inclusive metalinguagem), busca da expressão
universal, recuperação de valores tradicionais (Neo-simbolismo), engajamento
religioso e social, literatura de denúncia das condições humanas. Predomínio da
prosa (romance) de tendências neo-realistas e regional.
3ª
Geração: Não se mostram tão preocupados com o contexto
sociopolítico; análise da natureza humana. Rigor formal.
Literatura
contemporânea: Proliferação de estilos,
experimentalismo na forma, o cotidiano. Proliferação de contistas e cronistas.
crises de caráter existencial, reflexões metafísicas
MODERNISMO
Contexto
Histórico
Acontecimentos
extraordinários, no campo científico-tecnológico, marcam o início do nosso
século na Europa. O telégrafo, o telefone, o cinema, o automóvel, o avião são
invenções que atestam o notável desenvolvimento tecnológico da época. Outras
contribuições: Albert Einstein revoluciona o campo científico com a sua teoria
da relatividade, Sigmund Freud contribui para o progresso dos estudos da
psicofisiologia mental, as idéias do suíço Ferdinand Saussure influenciam os
estudos lingüísticos e fundam a lingüística estrutural moderna. Entretanto, com
a deflagração da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a Europa passa a viver
momentos de constantes sobressaltos, que geram a inquietude, niilismo,
desequilíbrio, descrença em relação aos sistemas sociais, políticos e
filosóficos; o homem passa a questionar os valores vigentes. A guerra lança
sobre a humanidade a semente da incerteza, da descrença, da inquietude. A arte
não podia deixar de trair esse estado de perplexidade, de abalo interior.
Surgem, então, formas de expressão diversas: o Dadaísmo (1918), o Futurismo
(1909), o Expressionismo (1911), o Cubismo (1907), o Surrealismo (1924). Os
grandes movimentos de vanguarda da Europa tiveram repercussão sobre a
mentalidade de intelectuais brasileiros do início do século XX.
·
Os Movimentos de Vanguarda: Os diferentes movimentos artísticos surgidos na Europa no início do
século XX são designados, de forma genérica, como Vanguardas Européias.
·
Futurismo: Caracteriza a época das negações e rebeldias, a rejeição violenta da
tradição e da convenção. O escritor italiano Felipe Marinetti foi seu criador.
Publicou o manifesto futurista. Algumas das principais características:
palavras em liberdade, emprego de verbos no infinitivo, supressão de adjetivos,
construções diretas e inovadoras, liberdade absoluta de criação.
·
Cubismo: Tem como principal característica a preponderância das formas
geométricas nas artes plásticas. Os cubistas representavam objetos da realidade
cotidiana como se fossem vistos sob diferentes ângulos ao mesmo tempo. Nas
artes plásticas o principal defensor foi o pintor espanhol Pablo Picasso; na
literatura, o francês Guillaume Apollinaire. Principais características: a obra
de arte se basta a si mesma, mistura do presente com o passado, supressão da
lógica aparente, valorização do humor.
·
Expressionismo: Surgiu como reação ao Impressionismo (corrente artística que se dispunha
a captar a realidade com exatidão, com toda a sua dinamicidade). Foram seus
precursores os pintores Munch e Vincent Van Gogh, os músicos Arnold Schönberg e
Darius Milhaud. Seu maior sucesso foi na Alemanha. Principais características:
subjetivismo, manifestação do estado de espírito do artista, abandono ao mundo
das aparências, valorização da imaginação e dos sonhos, o mundo interior
expresso na obra de arte não atende à lógica do mundo exterior.
·
Dadaísmo: Foi o mais radical e destruidor movimento de vanguarda. Definiu-se em
Zurique, tendo como principal iniciador o escritor francês Tristan Tzara. Os
dadaístas procuravam ridicularizar e destruir todos os dogmas em vigor na
pintura, na música e na poesia. Consideravam a guerra loucura e perversidade
dos homens. Principais características: liberdade total de criação, abolição da
lógica, "arte não é coisa séria", não há necessidade de se fazer uma
arte compreensível por todos, bastando que ela seja entendida por um grupo de
iniciados.
·
Surrealismo: O adjetivo surrealista (com o sentido de superfanáticos) foi empregado
pela primeira vez por Apollinaire. Louis Aragón e André Breton tiveram papel
decisivo no lançamento da estética surrealista. Salvador Dali foi o pintor
surrealista mais conhecido. Principais características: valorização da
imaginação, ilogismo, valorização do inconsciente, automatismo verbal e
escrito, humor negro, modificação das estruturas da realidade através da
realidade.
Semana
da Arte Moderna
Alguns
acontecimentos precedem a Semana de Arte Moderna, evento que não ocorre
subitamente. Escritores brasileiros trazem de volta da Europa, notícias de uma
literatura em crise. A divulgação das teorias vanguardistas, então em curso na
Europa, marca uma brusca ruptura na história literária brasileira. Na década de
1910 a 1920, observa-se entre os intelectuais um anseio de renovação artística
e cultural. O Brasil contagia-se com a inquietação dominante no mundo europeu,
embora inicialmente isso se manifeste de modo tímido, em grupos isolados do Rio
de Janeiro e São Paulo (principais centros culturais da época). Tristão de
Ataíde (pseudônimo de Alceu Amoroso Lima) e Wilson Martins registram esse fato,
ocorrido ao longo daqueles anos e caracterizado como "sincretismo".
Em 1912, Oswald de Andrade, na Europa, toma conhecimento das idéias futuristas
de Marineti e as divulga em São Paulo. É a revista Orfeu, que assinala a
vanguarda futurista em Portugal. Em 1915, Ronald de Carvalho participa da fundação
dessa revista. Em 1913, dá-se a primeira mostra de arte não-acadêmica feita no
Brasil.
O
autor das obras é o pintor Lasar Segall, artista russo radicado em nosso país.
Segall,
entretanto, não desencadeia transformações radicais na arte brasileira. Esse
papel caberá a Anita Malfatti. Sua exposição, inaugurada ao voltar dos Estados
Unidos (12/12/1917), escandaliza o ambiente intelectual paulista e provoca
diversos ataques, inclusive o de Monteiro Lobato. Aos quadros de Malfatti - em
que se mesclam expressionismo, cubismo e fauvismo (os fauvistas propõem uma
arte rude, de cores cruas e composição despojada) - vêm juntar-se as esculturas
de Vitor Brecheret. A partir de 1914, o termo futurismo começa a circular nos
jornais do Brasil. Há entre os puristas uma grande polêmica gerada pelas
inovações instaladas na literatura brasileira: verso livre, escrita automática,
lirismo paródico, exploração criativa do folclore, da tradição oral e da
linguagem coloquial. Em 1917, Mário de Andrade faz sua estréia literária, sob o
pseudônimo de Mário Sobral, com a publicação do livro Há uma gota de
sangue em cada poema,seguido de Paulicéia Desvairada, marco
expressivo da poesia modernista brasileira. Nesse mesmo ano, Menotti del
Picchia publica o poema regionalista Juca Mulato e Manuel
Bandeira estréia com a obra Cinza das Horas. Em 1919, Manuel
Bandeira lança a segunda obra, Carnaval. Em novembro de 1921,
Di Cavalcanti expõe Fantoches da Meia-Noite. Durante o evento,
Graça Aranha, que voltava da Europa, conhece o pintor. Surge, nessa ocasião, a
idéia da realização da Semana de Arte Moderna. Finalmente, em fevereiro de
1922, realiza-se em São Paulo a Semana de Arte Moderna. O objetivo dos
organizadores era acima de tudo a destruição das velhas formas artísticas na
literatura, música e artes plásticas. Paralelamente, procuravam apresentar
e afirmar os princípios da chamada arte moderna, ainda que
eles mesmos estivessem confusos a respeito de seus projetos artísticos. Oswald
de Andrade sintetizava o clima da época ao afirmar: "Não sabemos o que
queremos. Mas sabemos o que não queremos". A proposição de uma
semana (na verdade foram só três noites) implicava uma amostragem geral da
prática modernista. Programaram-se conferências, recitais, exposições,
leituras, etc. O Teatro Municipal foi alugado. Toda uma atmosfera de provocação
se estabeleceu nos círculos letrados da capital paulista. Havia dois partidos:
o dos futuristas e o dos passadistas. Desde a abertura da Semana, com a
conferência equivocada de Graça Aranha (A emoção estética na Arte Moderna), até
a leitura de trechos vanguardistas por Mário de Andrade, Menotti del Picchia,
Oswald de Andrade e outros, o público se manifestava por apupos e aplausos
fortes. Porém, o momento mais sensacional da Semana deu-se na segunda noite,
quando Ronald de Carvalho leu um poema de Manuel Bandeira, o qual não
comparecera ao teatro por motivos de saúde. O poema chamava-se "Os
Sapos" e era uma ironia violenta aos parnasianos, que ainda dominavam o
gosto do público. A reação se deu através de vaias, gritos,patadas. Mas, em sua
iconoclastia, o poema delimitava o fim de uma época cultural
Principais
participantes
·
Literatura: Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Graça Aranha, Ronald de
Carvalho, Menotti del Picchia, Guilherme de Almeida, Sérgio Milliett.
·
Música e artes plásticas: Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Villa-Lobos, Guiomar Novaes.
Importância
estética da Semana
Se
a Semana foi realizada por jovens inexperientes, sob o domínio de doutrinas
européias mal - assimiladas, conforme acentuam alguns críticos, ela significou
também o atestado de óbito da arte dominante. O academicismo plástico, o
romantismo musical e o parnasianismo literário esboroam-se por inteiro. É possível
que a Semana não tenha se convertido no fato mais importante da cultura
brasileira,como queriam muitos de seus integrantes. Houve dentro dela, e no
período que a sucedeu ( 1922-1930), certa destrutividade gratuita, certo
cabotinismo, certa ironia superficial e enorme confusão ideológica. Mário de
Andrade diria mais tarde que faltou aos modernistas de 22 um maior empenho
social, uma maior impregnação "com a angústia do tempo". Com efeito,
os autores que organizaram a Semana colocaram a renovação
estética acima de outras preocupações importantes. De qualquer
maneira, o espírito modernista destruiu um imobilismo cultural que entravavam
as criações mais revolucionárias e complexas, possibilitando um caminho livre à
geração posterior. Apesar de todos os limites, a Semana de Arte Moderna deixou
vários legados. Caberia a Mário de Andrade -verdadeiro líder e principal
teórico do movimento- sintetizar a herança de 22: -A estabilização de uma
consciência criadora nacional, preocupada em expressar a realidade
brasileira.-A atualização intelectual com as vanguardas européias.-O direito permanente
de pesquisa e criação estética.
Divulgação
no Brasil
Os grupos modernistas procuraram
divulgar suas idéias por meio de revistas de vanguarda, em torno das quais se
aglutinavam determinadas correntes. As principais foram
·
Klaxon-Mensário de Arte Moderna: representou a primeira tentativa de organizar as idéias expressas pela
Semana de Arte Moderna.
·
Publicada em São Paulo de maio de
1922 a janeiro de 1923. Contrapôs o futurismo (experimentação em velocidade na
linguagem) e o primitivismo (próximo ao surrealismo e ao expressionismo, na
busca do inconsciente).
·
Movimento Pau-Brasil: Liderado por Oswald de Andrade, propunha a redescoberta do Brasil,
através de uma arte voltada para as características do país. O movimento é de
natureza pictórica, folclórica, histórica, étnica, econômica, culinária e
lingüística.
·
Verde-Amarelismo: Propunha que se abandonem as idéias européias na busca da verdadeira
nacionaldade brasileira. Participam desse movimento Menotti Del Picchia, Plínio
Salgado, Cassiano Ricardo, Raul Bopp e outros. Subdivide-se em Movimento da
Anta e Movimento da Bandeira.
·
Corrente Primitivista: Teve suas idéias expressas na revista de antropofagia. Foi liderado por
Oswald de Andrade. Em seu Manifesto Antropófago, propunha que só a antropofagia
nos une, no sentido de que as culturas estrangeiras fossem devoradas e
recriadas segundo nossas tradições e costumes. "Tupi, or not tupi, that is
the question" seria o grande dilema da realidade brasileira.
·
Corrente Espiritualista: Tenta contestar a irreverência de outros grupos, através da defesa da
tradição.
·
Outras revistas: Terra Roxa e Outras Terras, A Revista, Arco e Flexa, Verde, Maracajá,
Madrugada.
Características
do Modernismo
1.
Ânsia de Modernidade (rejeição do passado)
2.
Liberdade de criação artística
3.
Sentimento nacionalista
4.
Presença do cotidiano e do
prosaico
PRIMEIRA GERAÇÃO - 1922 - HERÓICA
Tem como princípios:
·
negação do passado, caráter
destrutivo;
·
eleição do moderno como um valor
em si mesmo;
·
valorização do cotidiano;
·
nacionalismo;
·
redescoberta da realidade
brasileira;
·
desejo de liberdade no uso das
estruturas da língua;
·
predominância da poesia sobre a
prosa.
Autores
principais
1)
Oswald de Andrade: Obras: Memórias sentimentais de João Miramar (romance-1924); Serafim
Ponte Grande (romance-1933); Pau-Brasil e Cântico dos Cânticos (poesia); O Rei
da Vela (teatro-1937); Marco Zero (1943)Características Pessoais: espírito
irrequieto, agitador. Foi o primeiro articulador do modernismo. Características
Literárias: linguagem elíptica e rica em metáforas e neologismos;
Capítulos curtos, fragmentados (técnica cinematográfica); Humor satírico
(sátira à aristocracia cafeeira). Valorização do Brasil primitivo.
2)
Mário de Andrade: Obras: Poesia:
Há uma gota de sangue em cada poema ( 1917); Paulicéia Desvairada 1922);
Losango Cáqui (1926); Clã do Jabuti (1927); Remate dos Males (l930); Lira
Paulistana (1946) Ficção: Amar, verbo intransitivo (1927); Macunaíma (1928); Os
Contos de Belazarte (1934); Contos Novos (1946) Ensaios: A Escrava que não é
Isaura (l925); Aspecto da Literatura Brasileira (l943); O Empalhador de
Passarinho (1944). Característica da Poesia: Primeiras obras com
elementos modernizadores, Inovação estética, valorização da realidade de São
Paulo, nacionalismo, indagação social.
3)
Manuel Bandeira: Obras da primeira
fase-poesia entre parnasiana e simbolista: Cinza das Horas;
Carnaval. Obras da segunda fase: Ritmo dissoluto; Libertinagem;
Estrela da Manhã; Belo-Belo; Lira dos cinqüent'anos. Características
Pessoais: Poesia intimista, tom confidencial, linguagem coloquial,
simplicidade, temas prosáicos e cotidianos, ironia, melancolia e bom humor.
4)
Raul Bopp: Obra principal: Cobra
Norato- trata-se de uma narrativa fantástica. Depois de estrangulara Cobra
Norato e enfiar-se em sua pele, o herói percorre a selva amazônica na busca
obsessiva da filha da rainha Luzia, deslumbrando-se a cada instante com um
mundo mágico primitivo , os seres do rio e da floresta. Depois de vencer muitos
obstáculos, encontra a noiva e rouba-a da cobra grande. Final feliz. Características: Linguagem
coloquial, amorosa, rica em diminutivos; Obra primitivista na linha da
antropofagia; A um tempo lírico e dramático, a presença de mitos, lendas, e
cores locais dá ao poema o cunho de rapsódia amazônica.
5)
Cassiano Ricardo: Obra: Martim Cererê (poesias); Poesia "Verde-Amarela"
6)
Plínio Salgado: Obra: O estrangeiro (Romance ideológico de técnicas vanguardistas)
7)
Antônio de Alcântara Machado: Obra: Brás, Bexiga e Barra Funda (contos de realismo irônico e
sentimental e valorização do imigrante italiano) Estilo Modernista.
SEGUNDA
FASE - 1930 - CONSOLIDAÇÃO
Tem como princípios:
·
estabilização das conquistas;
·
diminuição dos exageros e
radicalismos;
·
ampliação da temática, deixando
de usar apenas o particular e tendendo para o universal;
·
regionalismo (preferência pelo
romance);
·
equilíbrio quanto ao uso do
material lingüístico.
A segunda fase do modernismo
brasileiro (1930-1945), mais conhecida como geração de 30, é menos demolidora
que a fase anterior, marcando-se pelo espírito construtivo e pela estabilização
das conquistas anteriores.
Autores
principais da prosa
Absorvidas
(parcialmente), as inovações estéticas propostas pela Geração de 22, a
literatura brasileira se volta para os temas sociais. Escritores em sua maioria
radicados no Nordeste se sensibilizaram e mesmo se revoltaram com o
desequilíbrio sócio-econômico. De um lado, a aristocracia rural, os grandes
fazendeiros; de outro lado, milhões de camponeses desvalidos e marginalizados.
Nas cidades, a mesma injustiça. Os ricos e os pobres. A narrativa de 30 exprime
esses contrastes, examinando-os com objetividade e senso crítico. O primeiro
romance da geração de 30 é A Bagaceira, de José Américo de Almeida.
Cronologia
de alguns romances
·
1928 - A bagaceira (José Américo
de Almeida)
·
1930 - O Quinze (Rachel de
Queiroz); O país do carnaval (Jorge Amado)
·
1932 - Menino de engenho (José
Lins do Rego); Cacau (Jorge Amado)
·
1933 - Caetés (Graciliano Ramos);
Clarissa (Érico Veríssimo); Os corumbas (Amando Fontes)
·
1934 - Bangüê (José Lins do
Rego); São Bernardo (Graciliano Ramos)
·
1935 - Jubiabá (Jorge Amado);
Música ao longe (Érico Veríssimo); Os ratos (Dyonélio Machado
1)
José Lins do Rego: A obra de José Lins do Rego
divide-se em três blocos temáticos: A) Ciclo da cana-de-açúcar -
Menino de Engenho (1932), Doidinho (1933), Bangüê (1934), O Moleque Ricardo
(1935), Usina (1936), Fogo Morto (1943). B) Ciclo do cangaço e
misticismo - Pedra Bonita (1938), Cangaceiros (1953). C) Temas
diversos - Água-Mãe, Pureza (1937), Riacho Doce (1939), Eurídice
(1947). Características do autor: predominância da narrativa
memorialista, linguagem marcada por forte oralidade, presença marcante do
cenário (engenho Santa Rosa).
2)
José Américo de Almeida: Obra: A
bagaceira. No prefácio, José define o novo "regionalismo". Superando
o exótico, os modistas lingüísticos, os lugares-comuns da literatura rural, o
novo romance regional nasceria da "síntese entre o particular e o
universal, isto é, da síntese entre os traços específicos de uma região e a
vida de todos os homens".
3)
Graciliano Ramos: Sua obra está traduzida
para mais de dez idiomas e alguns de seus relatos já mereceram visão
cinematográfica.Obras: Caetés (1933), São Bernardo (1934), Angústia (1936),
Vidas Secas (1938), Infância (1945), Insônia (1947-contos), Memórias do Cárcere
(1935).
4)
Jorge Amado: Autor de fama
internacional, traduzido para mais de trinta línguas, seus romances já venderam
milhões de exemplares. Sua obra possui duas fases: I fase: O país
do carnaval (1930), Cacau (1933), Suor (1934), Jubiabá (1935), Mar Morto
(1936), Capitães da Areia (1937), Terras do sem fim (1942), São Jorge dos
Ilhéus (1944), Seara Vermelha (1946), Os subterrâneos da Liberdade
(1952). II fase: Gabriela, Cravo e Canela (1958), Velhos
Marinheiros (1961), Os pastores da noite (1964), Dona Flor e seus dois maridos
(1967), Tenda dos milagres (1970), Teresa Batista cansada de guerra (1972),
Tieta do Agreste (1977), Farda fardão camisola de dormir (1980), Tocais grande
(1984).
5)
Rachel de Queiroz: Obras principais: O
Quinze (1930), João Miguel (1932), Caminho de Pedras (1937), As Três Marias
(1939).Características: narrativas bem sintonizadas com o espírito de 30. A
valorização do universo regional, a linguagem precisa e objetiva e a ideologia
paternalista que acompanha a pré-consciência do subdesenvolvimento marcam-lhe
os textos, dos quais o mais conhecido continua sendo O Quinze.
6)
Érico Veríssimo: É o maior romancista gaúcho
e um dos mais populares escritores brasileiros.I fase: predominam romances
urbanos.Clarissa (1933), Caminhos Cruzados (1935), Música ao longe (1935), Um
lugar ao sol (1936), Olhai os lírios do campo (1938), Saga (1940), O resto é
silêncio (1943).II fase:O Tempo e o Vento (1949-1962), Noite (1954), O senhor
embaixador (1964), O prisioneiro (1967), Incidente em Antares (1971), Solo de
Clarineta (Memórias - 1973). Com exceção de Saga, cuja ação
ocorre, em grande parte, na Espanha, durante a Revolução de 1936, os outros
romances são ambientados em Porto Alegre.
7)
Dionélio Machado: Obras: Um pobre
homem, Os ratos, O louco do cati.
8)
Cyro Martins: Obras principais: Campo
fora (contos),Trilogia do Gaúcho a pé (Sem Rumo, Porteira Fechada, Estrada
Nova).
9)
Amando Fontes: Os corumbas - a história de
uma família camponesa proletarizada em Aracaju.
10)
João Alphonsus: Totônio Pacheco - a
desarticulação de um velho "coronel" no mundo urbano.
11)
Ciro dos Anjos: O amanuense Belmiro - a solidão e a perda de um lírico
burocrata, descendente falido da oligarquia mineira.
12)
Marques Rebelo: O Espelho Partido - romance
cíclico sobre os costumes do Rio de Janeiro.
Autores
principais da poesia
Em linhas gerais:
·
a poesia, a partir de 1930,
apresenta crescente amadurecimento; abandona o espírito combativo e irreverente
da década anterior e passa a caracterizar-se pelo espírito construtivo;
·
a linguagem é mais comunicativa e
pessoal, sem desprezo da liberdade formal dos primeiros tempos do modernismo;
·
a temática é variada: temas
sociais, religiosos, amorosos, espiritualistas caracterizam a poesia moderna da
segunda fase.
1)
Carlos Drummond de Andrade: Obras principais: Alguma
Poesia (obra de estréia - 1930), Brejo das Almas, Sentimento do Mundo, Rosa do
Povo, Claro Enigma, Fazendeiro do Ar, Lição de Coisas. Características:
Nos primeiros livros, Drummond revela-se um poeta modernista pela presença de
temas cotidianos, pela linguagem depurada (ausência do pitoresco), pelo humor
(apesar do pessimismo e do desencanto). No entanto, não se percebem nele os
exageros, a falta de racionalidade, o deboche, enfim, uma acentuada
agressividade de outros poetas da época. Posteriormente, em livros como
Sentimento do Mundo e Rosa do Povo, o poeta evolui para uma atitude
participativa, uma poesia de solidariedade, provocada pelos sofrimentos
causados pela guerra. Podemos considerar como características marcantes e quase
permanentes do poeta:linguagem depurada, precisa; afetividade intensa,
disfarçada pelo humor e ironia; sentimento de solidão, desencanto e pessimismo;
temas prosaicos e cotidianos; poesia voltada para indagações filosóficas.
2)
Cecília Meireles: Obras principais:
Viagem, Vaga Música, Mar Absoluto, Doze Noturnos de Holanda, Romanceiro da
Inconfidência (narrativa histórica em versos). Características: Virtuosismo
verbal, musicalidade, preferência por versos curtos, delicadeza e
espiritualidade. Melancolia que se manifesta na preferência por temas como
solidão, fugacidade do tempo, resignação diante da falta de sentido da vida.
Abstração,atmosfera de sonho e tom intimista.
3)
Mário Quintana: Obras: A Rua
dos Cataventos, Canções, Sapato Florido, Espelho Mágico, O aprendiz de
feiticeiro, Do Caderno H, Apontamentos para a história do Sobrenatural, A vaca
e o hipogrifo. Em A Rua dos Cataventos, o autor adota o soneto, inovado pela
linguagem coloquial. Temas variados: solidão, melancolia, as ruas de Porto
Alegre. Em Espelho Mágico temos quadrinhas bem-humoradas sobre temas filosóficos.
Em Sapato Florido e, Do Caderno H, poemas curtos em prosa, versando fatos do
cotidiano, com o bom-humor permanente do poeta. Outras experiências poéticas
surgem em O Aprendiz de Feiticeiro.
4)
Vinícius de Moraes: Obras: Novos Poemas (1938), Cinco Elegias (1943), Poemas, sonetos e baladas
(1946). Vinícius de Moraes foi famoso por seus belíssimos sonetos. Temas e
características: o amor sensual e místico, o cotidiano e a denúncia social.
5)
Jorge de Lima Obras principais: Invenção
de Orfeu, Essa negra Fulô. Características e temas: a vida nordestina, a
cultura negra, a religiosidade.
6)
Murilo Mendes: Obra principal: Contemplação
de Ouro Preto. Temas característicos: o "brasileiro modernista", a
religiosidade metafísica.
Geração
de 45
Já
consolidados a partir de 1930, os ideais modernistas vão gradativamente se
transformando, até desaparecer por completo aquela visão de ruptura com o
tradicional, de destruição dos padrões vigentes. Novos caminhos são buscados,
novos autores surgem. Cada vez mais presente, em todas as obras, a realidade
brasileira. Surge a Geração de 45, nova safra de escritores brasileiros. A
linguagem apresenta preocupação com o apuro formal, restauração da dignidade da
linguagem e dos temas.
João
Cabral de Melo Neto (1920): Nasceu no Recife, filho de
tradicional família pernambucana. Passou a infância no mundo dos engenhos e fez
seus estudos com os maristas. Em 1945 ingressou na carreira diplomática, tendo
servido numa série de cidades européias. Obras: Pedra do sono
(1942); O engenheiro (1945); Psicologia da composição(1947); O cão sem
plumas(1950); Morte e vida Severina(1956); A educação pela pedra(1966); Museu
de tudo(1975). Características do autor: linguagem depurada,
precisa; ausência do pitoresco e do sentimental; busca da forma nua, despojada,
obtida através do trabalho lúcido; reflexão permanente sobre a arte poética;
poesia participante, denunciando o sofrimento dos nordestinos e a injustiça
social.
Carlos
Nejar: Voltado para uma temática existencial à
partir de Livro do Tempo e O Campeador e o Vento inicia um processo poético com
uma visão mais realista em que o meio passa a fornecer matéria viva para a sua
reflexão sobre o homem. Tem como característica a habilidade verbal, a
capacidade metafórica e a grande força rítmica dos versos. Possui poesia
filosofante e abertura para uma temática social. Obras: Da
Nações, Casa dos Arreios, Canga e Somos Poucos.
Tendências
Poéticas
Concretismo:
a linguagem poética dos anos 50 assimila a rapidez das transformações que o
país atravessa neste período, o que leva à criação de uma estética de vanguarda
marcada pela comunicação imediata, visual, direta e concreta. É o concretismo,
corrente que irá marcar toda a produção cultural posterior, não só quanto à
literatura, mas também quanto à música, às artes plásticas e ao cinema. Seus
fundadores e principais representantes foram:
Augusto
de Campos(1931): Deitava-se como um grande
ensaísta polêmico no grupo Noigrandes, haja vista a contundência de seu artigo
Concretismo e Ismo. Augusto de Campos publica: O Rei menos o Reino(1951);
Poetamentos(1953), escreveu ensaios e algumas traduções.Haroldo de Campos(1929)
Seu livro de estréia, Auto do Possesso(1950).
Décio
Pignatari(1927): Preocupa-se mais com a
poesia de novos códigos do que com a poesia propriamente dita. Seu livro de
estréia: O Carrossel, escrito em 1950.
Poesia-praxis:
em fins da década de 50, surge uma nova tendência poética vanguardista: a
poesia-práxis, que tem como principal representante Mário Chamie. A poética
desse grupo vincula a palavra ao contexto extralingüístico. A respeito da
poesia práxis, assim se manifesta Mário Chamie: "O autor práxis não
escreve sobre temas. Ele parte de áreas (seja um fato externo ou emoção),
procurando conhecer todos os significados e contradições possíveis e atuantes
dessas áreas, através de elementos sensíveis que conferem a elas realidade e
existência."
Poesia
Social: Surge em 1957, como forma de reação contra os excessos formais do
concretismo, a poesia social, mais comunicativa e voltada para os problemas do
país. Fazem parte desse grupo Ferreira Gullar, Thiago de Melo, Affonso Ávila e
Jamil Haddad.
Ferreira
Gullar (l930): Em suas obras, Ferreira
Gullar, inicialmente, voltou-se aos experimentos concretistas, passando depois
a uma opção participante, de uso da poesia como denúncia e crítica. Empregando
muitas vezes ritmos e temas da literatura de cordel, Gullar põe a nu as tensões
sociais, expondo forte conteúdo ideológico.
A
Poesia Marginal: A chamada poesia marginal surge na década de 70. Apresenta
linguagem diversificada, com textos muito próximos da prosa. Os temas,
relacionados ao cotidiano, são abordados em tom coloquial, de conversa íntima,
de confissão pessoal.Os poetas "marginais" preocupam-se
principalmente com a expressão, ao contrário dos concretistas, que davam maior
valor à construção do poema. A poesia marginal denuncia a situação de medo em
que vivia o país, ainda sob ditadura militar.
Tropicalismo:
Retomando a antropofagia oswaldiana, o Tropicalismo foi um forte movimento
cultural iniciado em l967, a partir dos Festivais de Música Popular Brasileira
da TV Record. Propondo uma postura nacionalista crítica e de ruptura forma, os
tropicalistas realizaram uma verdadeira revolução estética no cenário cultural
brasileiro. Influenciados pelo concretismo no que diz respeito à estética, tiveram
entre seus criadores os nomes de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé, Os
Mutantes (conjunto do qual participava Rita Lee), o maestro Rogério Duprat e o
poeta Torquato Neto. Nas artes plásticas, a figura máxima da Tropicália foi
Hélio Oiticica, artista incompreendido em sua época e hoje internacionalmente
conhecido. Torquato Neto, que suicidou-se em 1972, ainda hoje possui poemas que
são conhecidos, tais como um que foi musicado por Sérgio Brito: Go back.
Geração
de 50\60
No
campo da ficção, duas tendências principais dominaram a literatura brasileira
durante as décadas de 50\60. De um lado esta a nova narrativa de temática
agrária, com seis autores hoje consagrados:
João
Guimarães Rosa, Benito Barreto, Ariano Suassuna, José Cândido de Carvalho,
Mário Palmério e João Ubaldo Ribeiro.
De
outro deve ser destacado um surto de obras importantes de temática urbana em
que se sobressaem diversos autores, dos quais podem ser citados Antonio
Callado, Clarice Lispector, Lígia Fagundes Telles, Dalton Trevisan e Rubem
Fonseca. Características: linguisticamente, há uma clara e forte presença da variante
caboclo-sertaneja da língua portuguesa; estruturalmente, a verossimilhança,
típica do romance tradicional, não é respeitada, como é o caso de Sargento
Getúlio e O Coronel e o lobisomem, nas quais o protagonista narra a própria
morte; tematicamente, todas as obras possuem um traço comum: a ação se
desenvolvem no interior, no sertão, em regiões de pequena propriedade, surgindo
um conflito entre o mundo agrário e a civilização urbana.
João
Guimarães Rosa(1908-1967): Nasceu no interior de Minas
Gerais. Filho de um comerciante da região, ali fez seus estudos primários, indo
posteriormente a Belo Horizonte, onde cursou Medicina. Mudando-se para o Rio de
Janeiro em 1932, fez concurso para a carreira de diplomata no então Ministério
do Exterior, iniciando uma atividade que o levaria a várias partes do
mundo. Obras: Sagarana (contos-1946); Corpo de Baile
(novelas,1956); Grande sertão: veredas(romance,1956); Primeiras estórias
(contos, 1962); Tutaméia (contos, 1967); Estas estórias (contos, 1969)Características: Suas
histórias são ambientadas no sertão de Minas Gerais ou em pequenos povoados da
região, Apresentam o mundo sertanejo, investigando a natureza humana em sua
essência, o que confere um sentido de universalidade ao seu regionalismo. É
freqüente o conflito entre o bem e o mal. No que se refere à linguagem, o autor
não se limita a reproduzir a fala sertaneja, ele estiliza a linguagem regional,
procurando neologismos, arcaísmos, onomatopéias, aliterações, inovações sintáticas.
O resultado é uma língua original e de grande força expressiva.
Benito
Barreto(1929): Nasceu no nordeste de Minas
Gerais. Filho de um pequeno proprietário e comerciante inicia sua atividade
como militante de uma organização política de esquerda. Nesta condição, viaja
pelo nordeste do país. Mais tarde inicia o curso de letras , desistindo em
seguida e dedicando-se ao jornalismo, profissão em que continua atuando até
hoje.Obra: Os Guainãs (Epopéia sertaneja que fala das fala das
operações militares desencadeadas a partir da crise política ocorrida a partir
de 1964, quando foi deposto o presidente João Goulart)
Clarice
Lispector(1925-1977): Nasceu na Ucrânia e ainda pequena
veio com a família para o Brasil. Com apenas dezessete anos escreve o seu
primeiro romance, que abriria uma nova tendência na literatura brasileira.
Morreu prematuramente, encerrando uma carreira polêmica Obras: Perto
do Coração Selvagem (1943); O Lustre(1946); A cidade sitiada (1949); Laços de
família (1960); A legião estrangeira(1964); A paixão segundo G. H.(1964); A
hora da estrela (1977). Escritora metafísica, romancista e contista, voltou-se
mais para a interiorização das personagens, deixando a realidade que as cerca
de lado. Considera-se uma obra revolucionária no conteúdo e na forma. Utilizou
os mais diversos recursos de estilo, desprezou a linearidade do enredo,
afastou-se dos procedimentos literários de sua época. Características: profunda
subjetividade, fluxos de consciência, psicologismo exagerado; atmosfera de
sonho e fantasia, fluidez, interiorização extrema dos personagens; ausência de
enredos objetivos.
Lygia
Fagundes Telles(1923): Natural de São Paulo, Lygia
Fagundes Telles fixa em seus relatos um universo semelhante ao de Clarice
Lispector: o universo burguês feminino. Mas com algumas diferenças, pois, mesmo
mantendo o interesse no movimento psicológico, é capaz de configurar com maior
objetividade o mundo exterior. Obras: Ciranda de pedra, Verão
no aquário, Antes do baile verde, As meninas, Seminário dos ratos e A
disciplina do amor.
Dalton
Trevisan(1925): Mestre na arte do conto
curto e cruel, é criador de uma espécie de mitologia de sua cidade natal,
Curitiba. Faz sua estréia na literatura em 1954. Obras: Novelas
Nada Exemplares; A Guerra Conjugal; Cemitério de Elefantes; O vampiro de
Curitiba. A obra de Dalton Trevisan capta flagrantes do cotidiano, do ambiente
doméstico à marginalidade, revelando o lado patético, grotesco ou lírico destas
cenas. Como o próprio autor declara, vai buscar sua inspiração em notícias
policiais, frases no ar, bulas de remédio, pequenos anúncios,...
José
Cândido de Carvalho: Obra: O Coronel
e o Lobisomem. Na linha do realismo-mágico e da estilização da linguagem
regional, o autor publica um só livro importante. Seu herói, o Coronel Ponciano
de Azevedo Furtano, abandona o mundo mágico do interior, com suas sereias e
lobisomens, fascinado pela beleza de Dª Esmeraldina. Na cidade é envolvido pela
malícia de sua dama ( e do marido), que lhe encoraja as pretensões, abstendo-se
de realizá-las. Explorado, empobrecido, observa atônito a ingratidão e a
insensibilidade dos antigos aduladores, para morrer abandonado e louco. Notável
no romance a grande força expressiva e a originalidade da linguagem.
Rubem
Fonseca(1925): É romancista, roteirista de
cinema e um grande mestre do conto. Os temas e recursos técnicos deste autor
por vezes choca a sensibilidade do leitor. Apresenta temas, modos de falar e
situações do marginal, da prostituta, da classe inculta da cidade. Narra em primeira pessoa de modo a confundir
autor e personagem.
Perseguido
pela censura, teve suas obras proibidas de serem comercializadas, políticos,
sociais e econômicos. Obras: Sargento Getúlio Viva; O povo
Brasileiro; O Sorriso do Lagarto
José
J. Veiga(1915): Natural de Corumbá, Mato
Grosso, estreou na literatura em 1959, numa coletânea de contos.Tem como
principais características a presença de situações fantásticas, que são
alegorias sobre a repressão vivida no Brasil durante a ditadura militar. Obras:A
Hora dos Ruminantes, Sombras de Reis, Barbudos, Os pecados da tribo.
Antônio
Callado(1917): A obra de Antônio Callado
representa o pontão mais alto da literatura empenhada em fazer um papel da
realidade brasileira contemporânea. Obras:A Madona de Cedro (1958),
Quarup (1967), Memórias de Aldenham House(1989).
Josué
Guimarães: Linguagem tradicional, por
vezes um tanto descuidado, e o gosto do romance histórico. Josué Guimarães
narra a trajetória dos colonos alemães, ao chegarem ao Rio Grande do Sul. Obras: A
Ferro e Fogo (Tempo de Solidão; Tempo de Guerra). Os Tambores Silenciosos; É
Tarde Para Saber; Dona Anja; Camilo Mortágua.
Moacir
Scliar: Considerado um representante do realismo
mágico, Scliar é hoje um dos escritores de maior projeção, com várias obras
premiadas. Suas obras são caracterizadas pela presença frequente do fantástico,
que às vezes parece um artifício pitoresco para melhor exprimir a realidade.
Sua narrativa é centrada na comunidade judaica do Rio Grande do Sul. Obras:
Carnaval dos Animais, A Guerra do Bonfim, O Exército de um Homem Só, O Doutor
Miragem, O Centauro no Jardim, A Orelha de Van Gogh e O Olho Enigmático.
Luiz
Antônio de Assis Brasil: Nota-se a preocupação em
desmistificar os heróis de nossa História, apresentando-os em sua dimensão
humana, com falhas, com fraquezas, mas exaltando também os momentos de
grandeza. Também revela gosto pelo romance histórico, narrando principalmente a
colonização açoriana no Rio Grande do Sul. Obras: Um quarto de
légua em quadro, A Prole do Corvo, Bacia das Almas, Videiras de Cristal, Cães
de Província e a Triologia Um Castelo no Pampa (Perversas Famílias, Pedra de
Memória ).
Luís
Fernando Veríssimo: Cronista e cartunista de
projeção nacional, Veríssimo tem se destacado por fazer uma crítica bem
humorada de nossa sociedade. Descrevem a paisagem urbana e mostram tipos
brasileiros do cotidiano. Algumas crônicas desenhadas com personagens como As
Cobras, A Família Brasil captam o humor trágico da sociedade brasileira e as
perplexidades da geração adulta diante da nova geração. Obras: Ed
Mort e Outras Histórias, O Analista de Bagé, A Velhinha de Taubaté, A Mulher do
Silva, A Grande Mulher Nua, O Popular e O Jardim do Diabo.
Charles
Kiefer: Contista e romancista de temática
heterogênea, suas obras dão atenção principalmente à crise da sociedade agrária
imigrante do sul. O igualmente jovem escritor nos dá testemunho daqueles tempos
obscuros, que vêm se estendendo até nossos dias, como reflexo de um regime
totalitário. Obras: Caminhando na Chuva, O Pêndulo do Relógio,
Quem Faz Gemer a Terra, A Face do Abismo, Dedos de Pianista e Valsa para Bruno
Stein.
Caio
Fernando de Abreu: Autor cuja temática reflete com
muita verdade o mundo atual e seus problemas. Em seus contos desfilam
personagens marginalizados na sociedade brasileira, indivíduos oprimidos e
solitários que buscam sentido para viver. Obras: Limite, O Ovo Apunhalado,
Pedras de Calcutá, Morangos Mofados, Os Dragões Não Conhecem o Paraíso e
Triângulos das Águas e Mel e Girassóis.
Teatro
Contemporâneo
Nelson
Rodrigues(1912-1980): Considerado nosso maior
dramaturgo, suas obras provocam reações extremas que oscilam entre amor e ódio.
Polêmico em suas colocações, criador de frases e expressões consagradas, Nelson
retrata em suas peças a vida cotidiana do brasileiro de classe média, apontando
seus vícios e seus aspectos desumanos como adultérios, incesto, traição,
loucura, suicídio,...Em 1943, a encenação de Vestido de Noiva renovou por
completo as bases formais e ideológicas do teatro brasileiro. Até então nosso
mundo teatral vivia de textos importados, em geral de duvidosa qualidade. Já as
peças nacionais primavam pela alienação da realidade e por valerem-se de uma
linguagem extremamente artificial. Porém, o aspecto renovador não se reduziria
a uma questão estilística: a renovação estava conjuntamente na matéria-prima de
seus textos. Obras: Vestido de Noiva; Álbum de família; Beijo
no asfalto; Toda nudez será castigada.
Gianfrancesco
Guarnieri(1934): Autor preocupado com as
denúncias dos problemas da realidade brasileira. Obras:Eles não
usam Black-Tie; A semente Castro Alves pede passagem.
Ariano
Suassuna(1955): Pernambucano, Ariano foi
buscar nas fontes populares o motivo de sua dramaturgia. A principal peça que
ele escreveu foi um auto, O Auto da Compadecida, que tem a dimensão de uma
farsa, apresentada como pantomima e na qual a religiosidade tradicional do
mundo nordestino combina-se com admirável criatividade e saudável irreverência
social. Recentemente, Ariano Suassuna voltou a suas fontes para escrever o
romance A pedra do Reino, que veio a
comprovar a multiplicidade de seu talento. Chico Buarque de Holanda(1944)
Escreveu: Calabar, Roda-viva, Ópera do
Malandro, e, juntamente com Paulo Pontes, Gota d’ Água.
PARNASIANISMO
O
parnasianismo é uma estética literária de caráter exclusivamente poético, que
reagiu contra os abusos sentimentais dos românticos. A poesia parnasiana
voltada para onde há o ideal da perfeição estética e a sublimação da "arte
pela arte". Teve como sua primeira obra Fanfarras(1882), de Teófilo Dias.
Parnasse (em português, parnaso e daí parnasianismo): origina-se de Parnassus,
região montanhosa da Grécia. Segundo a lenda, ali moravam os poetas. Alguns
críticos chegaram a considerar o parnasianismo uma espécie de realismo na
poesia. Tal aproximação é suspeita as duas correntes apresentam visões de mundo
distintas. O autor realista percebe a crise da ‘síntese burguesa’, já não
acredita em nenhum dos valores da classe dominante e a fustiga social e
moralmente. Em compensação o autor parnasiano mantém uma soberba indiferença
frente aos dramas do cotidiano, isolando-se na "torre de marfim",
onde elabora teorias formalistas de acordo com a inconseqüência e o hedonismo
das frações burguesas vitoriosas.
Contexto
Histórico
Grandes
acontecimentos históricos marcaram a geração dos parnasianos brasileiros. A
abolição da escravatura (1888) coincide com a estréia literária de Olavo Bilac.
No ano seguinte houve a queda do regime imperial com a Proclamação da
República. A transição do século XIX para o século XX representou para o
Brasil: um período de consolidação das novas instituições republicanas; fim do
regime militar e desenvolvimento dos governos civis; restauração das finanças;
impulso ao progresso material. Depois das agitações do início da República, o
Brasil atravessou um período de paz política e de prosperidade econômica. Um
ano após a proclamação da República, instalou-se a primeira Constituição e, em
fins de 1891, Marechal Deodoro dissolve o Congresso e renuncia ao poder, sendo
substituído pelo "Marechal de Ferro", Floriano Peixoto.
Características
Arte
pela arte: Os parnasianos ressuscitam o
preceito latino de que a arte é gratuita, que só vale por si própria. Ela não
teria nenhum valor utilitário, nenhum tipo de compromisso. Seria
auto-suficiente. Justificada apenas por sua beleza formal. Qualquer tipo de
investigação do social, referência ao prosaico, interesse pelas coisas comuns a
todos os homens seria ‘matéria impura’ a comprometer o texto. Restabelecem, portanto,
um esteticismo de fundo conservador que já vigorava na decadência romana. A
arte passava apenas a ser um jogo frívolo de espíritos elegantes.
Culto
da forma: O resultado imediato dessa visão seria o
endeusamento dos processos formais do poema. A verdade de uma obra residiria em
sua beleza. E a beleza seria dada pela elaboração formal. Essa mitologia da
perfeição formal e, simultaneamente, a impotência dos poetas em alcançá-la de
maneira definitiva são o tema do soneto de Olavo Bilac intitulado "Perfeição".
Os
parnasianos consideravam como forma a maneira do poema se apresentar, seus
aspectos exteriores. A forma seria assim a técnica de construção do poema. Isso
constituía uma simplificação primária do fazer poético e do próprio conceito de
forma que passava a ser apenas uma fórmula resumida em alguns itens básicos:
·
Metrificação rigorosa
·
Rimas ricas
·
Preferência pelo soneto
·
Objetividade e impassibilidade
·
Descritivismo
Em
vários poemas, os parnasianos apresentam suas teorias de escrita e sua obsessão
pela "Deusa Forma". "Profissão de Fé", de Olavo Bilac,
ilustra essa concepção formalista:
"Invejo
ourives quando escrevo
Imito o amor
Com que ele, em ouro, o alto relevo
Faz de uma flor.(...)
Por isso, corre por servir-me
Sobre o papel
A pena, como em prata firme
Imito o amor
Com que ele, em ouro, o alto relevo
Faz de uma flor.(...)
Por isso, corre por servir-me
Sobre o papel
A pena, como em prata firme
Corre
o cinzel(...)
Torce, aprimora, alteia, lima
A frase; e, enfim
No verso de ouro engasta a rima
Como um rubim
(...)
Torce, aprimora, alteia, lima
A frase; e, enfim
No verso de ouro engasta a rima
Como um rubim
(...)
Temática
greco-romana: Apesar de todo o esforço, os
parnasianos não conseguiram articular poemas sem conteúdos e foram obrigados a
encontrar um assunto desvinculado do mundo concreto para motivo de suas
criações. Escolheram a antigüidade clássica, sua historia e sua mitologia.
Assistimos então a centenas de textos que falam de deuses, heróis, personagens
históricos, cortesãs, fatos lendários e até mesmo objetos: "A sesta de
Nero", de Olavo Bilac foi considerado, na época, um grande poema:
"Fulge
de luz banhado, esplêndido e suntuoso,
O palácio imperial de pórfiro luzente
É marmor da Lacônia. O teto caprichoso
Mostra em prata incrustado, o nácar de Oriente.
Nero no trono ebúrneo estende-se indolente
Gemas em profusão no estágulo custoso
De ouro bordado vêem-se. O olhar deslumbra, ardente
Da púrpura da Trácia o brilho esplendoroso.
Formosa ancila canta. A aurilavrada lira
Em suas mãos soluça. Os ares perfumando,
Arde a mirra da Arábia em recendente pira.
Formas quebram, dançando, escravas em coréia.
E Nero dorme e sonha, a fronte reclinando
Nos alvos seios nus da lúbrica Pompéia."
O palácio imperial de pórfiro luzente
É marmor da Lacônia. O teto caprichoso
Mostra em prata incrustado, o nácar de Oriente.
Nero no trono ebúrneo estende-se indolente
Gemas em profusão no estágulo custoso
De ouro bordado vêem-se. O olhar deslumbra, ardente
Da púrpura da Trácia o brilho esplendoroso.
Formosa ancila canta. A aurilavrada lira
Em suas mãos soluça. Os ares perfumando,
Arde a mirra da Arábia em recendente pira.
Formas quebram, dançando, escravas em coréia.
E Nero dorme e sonha, a fronte reclinando
Nos alvos seios nus da lúbrica Pompéia."
Poetas
do Parnasianismo
1)
Olavo Bilac(1865-1918): Nasceu no
Rio de janeiro, numa família de classe média. Estudou Medicina e depois
Direito, sem se formar em nenhum dos cursos. Jornalista, funcionário Público,
inspetor escolar, exerceu constantemente atividade nacionalista, realizando
pregações cívicas em todo o país. Paralelamente, teve certas veleidades boêmias
e foi coroado como "Príncipe dos poetas brasileiros". Obras: Poesia
(l888); Tarde (1918). A exemplo de quase todos os parnasianos, Olavo Bilac
escreveu poesias com grande habilidade técnica sobre temas greco-romanos. Se
jamais abandonou sua meticulosa precisão, acabou destruindo aquela
impassibilidade, exigida pela estética parnasiana. Fez numerosas descrições da
natureza, ainda dentro do mito da objetividade absoluta, porém os seus melhores
textos estão permeados por conotações subjetivas, indicando uma herança
romântica. Bilac tratou do amor a parti de dois ângulos distintos: um platônico
e outro sensual. A quase totalidade de seus textos amorosos tendem à celebração
dos prazeres corpóreos.
"Nua,
de pé, solto o cabelo às costas,
Sorri. Na alcova perfumada e quente,
Pela janela, como um rio enorme
Profusamente a luz do meio-dia
Entra e se espalha, palpitante e viva (...)
Como uma vaga preguiçosa e lenta
Vem lhe beijar a pequenina ponta
Do pequenino pé macio e branco
Sobe... Cinge-lhe a perna longamente;
Sobe ... e que volta sensual descreve
Para abranger todo o quadril! - prossegue
Lambe-lhe o ventre, abraça-lhe a cintura
Morde-lhe os bicos túmidos dos seios
Sorri. Na alcova perfumada e quente,
Pela janela, como um rio enorme
Profusamente a luz do meio-dia
Entra e se espalha, palpitante e viva (...)
Como uma vaga preguiçosa e lenta
Vem lhe beijar a pequenina ponta
Do pequenino pé macio e branco
Sobe... Cinge-lhe a perna longamente;
Sobe ... e que volta sensual descreve
Para abranger todo o quadril! - prossegue
Lambe-lhe o ventre, abraça-lhe a cintura
Morde-lhe os bicos túmidos dos seios
Corre-lhe
a espádua, espia-lhe o recôncavo
Da
axila, acende-lhe o coral da boca (...)
E aos mornos beijos, às carícias ternas
Da luz, cerrando levemente os cílios
Satânica ... abre um curto sorriso de volúpia."
E aos mornos beijos, às carícias ternas
Da luz, cerrando levemente os cílios
Satânica ... abre um curto sorriso de volúpia."
Em
alguns poemas, contudo, o erotismo perde essa vulgaridade, adquirindo força e
beleza com em "In extremis". Na hora de uma morte imaginária, o poeta
lamenta a perda das coisas concretas e sensuais da existência. Em um conjunto
de sonetos intitulado Via-láctea, Bilac nos apresenta uma concepção mais
espiritualizada das relações amorosas. O mais recitado desses sonetos acabou
ficando conhecido com o nome do livro.
Identificado
com o sistema, o autor de Tarde tornou-se um intelectual a serviço dos grupos
dirigentes, oferecendo-lhes composições laudatórias. Olavo Bilac sonegou o
Brasil real e inventou um Brasil de heróis, transformando feroz bandeirante,
como Fernão Dias, em apóstolo da nacionalidade. O caçador de esmeraldas foi uma
frustrada tentativa épica:
"Foi em março, ao findar das
chuvas, quase à entrada
Do outono, quando a terra, em sede requeimada,
Bebera longamente as águas da estação,
Que, em bandeira, buscando esmeraldas e prata,
À frente dos peões filhos da rude mata,
Fernão Dias Paes Leme entrou pelo sertão.
Do outono, quando a terra, em sede requeimada,
Bebera longamente as águas da estação,
Que, em bandeira, buscando esmeraldas e prata,
À frente dos peões filhos da rude mata,
Fernão Dias Paes Leme entrou pelo sertão.
Além
disso, cantou os símbolos pátrios, a mata, as estrelas, a "última flor do
Lácio", as crianças, os soldados, a bandeira, os dias nacionais, etc.
2)
Alberto de Oliveira (1857-1937): Nasceu em
Saquarema, Rio de Janeiro. Diploma-se em farmácia; inicia o curso de Medicina.
Ao lado de Machado de Assis, faz parte ativa na Fundação da Academia de Letras.
Foi doutor honoris causa pela Universidade de Buenos Aires. Elegem-no
"príncipe dos poetas brasileiros" num concurso promovido pela revista
Fon-Fon, para substituir o lugar deixado por Olavo Bilac. Faleceu em Niterói,
RJ, em 1937. Obras principais: Canções Românticas(1878);
Meridionais(1884); Sonetos e Poemas(1885); Versos e rimas(1895). Foi de todos
os parnasianos o que mais permaneceu atado aos mais rigorosos padrões do
movimento. Manipulava os procedimentos técnicos de sua escola com precisão, mas
essa técnica ressalta ainda mais a pobreza temática, a frieza e a insipidez de
uma poesia hoje ilegível. Tinha como características principais da sua poesia a
objetividade, a impassibilidade e correção técnica, a excessiva preocupação
formal, sintaxe rebuscada e a fuga ao sentimental e ao piegas. Na poesia de
Alberto de Oliveira, portanto, encontramos poemas que reproduzem mecanicamente
a natureza e objetos descritivos. Uma poesia sobre coisas inanimadas. Uma
poesia tão morta como os objetos descritos, como vemos no poema Vaso Grego:
Esta,
de áureos relevos, trabalhada
De divas mãos, brilhante copa, um dia,
Já de os deuses servir como cansada,
Vinda do Olimpo, a um novo deus servia.
Era o poeta de Teos que a suspendia
Então e, ora repleta ora esvaziada,
A taça amiga aos dedos seus tinia
Toda de roxas pétalas colmada.
Depois... Mas o lavor da taça admira,
Toca-a, e, do ouvido aproximando-a, às bordas
Finas há de lhe ouvir, canora e doce,
Ignota voz, qual se de antiga lira
Fosse a encantada música das cordas,
Qual se essa a voz de Anacreonte fosse.
De divas mãos, brilhante copa, um dia,
Já de os deuses servir como cansada,
Vinda do Olimpo, a um novo deus servia.
Era o poeta de Teos que a suspendia
Então e, ora repleta ora esvaziada,
A taça amiga aos dedos seus tinia
Toda de roxas pétalas colmada.
Depois... Mas o lavor da taça admira,
Toca-a, e, do ouvido aproximando-a, às bordas
Finas há de lhe ouvir, canora e doce,
Ignota voz, qual se de antiga lira
Fosse a encantada música das cordas,
Qual se essa a voz de Anacreonte fosse.
3)
Raimundo Correia(1859-1911): Poeta
e diplomata brasileiro, foi considerado um dos inovadores da poesia brasileira.
Quando secretário da delegação diplomática brasileira em Portugal, publica aí
uma coletânea de seus livros na obra Poesia(1898).
De
volta ao Brasil, assume a direção do Ginásio Fluminense de Petrópolis. Com a
saúde bastante abalada, retorna à Europa, vindo a falecer em Paris. Obras
Principais: Primeiros Sonhos (1879) Sinfonias(1883) Versos e
Versões(1887) Aleluias(1891)A exemplo dos demais componentes da tríade, Raimundo
Correia foi um consumado artesão do verso, dominando com perfeição as técnicas
de montagem e construção do poema. Tinha como características pessoais o
pessimismo, o predomínio da simulação, percepção aguda da transitoriedade da
ilusão humana, profundo se das virtualidades vocabulares. O gelo descritivista
da escola seria quebrado por uma emoção genuína que humanizava a paisagem.
PRÉ-MODERNISMO
Convencionou-se
chamar de Pré-Modernismo o período que vai de 1902, ano da publicação do livro
Canaã de Graça Aranha, até 1922, na Semana de Arte Moderna. Durante esse
período, coexistem em nossa literatura duas tendências básicas: A conservadora,
marcada pelas produções poéticas parnasianas e simbolistas(Olavo Bilac,
Raimundo Correia,...) e pela prosa tradicionalista(Rui Barbosa, Coelho Neto,
Joaquim Nabuco); A inovadora, caracterizada pela
incorporação de aspectos da realidade brasileira ao conteúdo das obras
literárias. Destacam-se por utilizarem essa temática, Euclides da Cunha, Monteiro Lobato, Lima
Barreto e Graça Aranha.
Contexto
Histórico
No
período Pré-modernista identificamos a existência de grupos e classes sociais
com interesses bastante conflitantes: num extremo, estavam situados os
proprietários rurais de São Paulo e Minas Gerais, representantes de idéias
extremamente conservadoras e também saudosistas. Em outro extremo os operários,
influenciados por idéias revolucionárias e anarquistas, assumiam atitudes de
franca oposição às elites. Entre ambos se situava a burguesia industrial
emergente em São Paulo e no Rio de Janeiro, que se mostrava receptiva às idéias
reformistas, além de profissionais liberais e setores do exército, francamente
favoráveis a mudanças e permeáveis às correntes européias. Neste período
ocorreram eventos importantes no país e a ocorrência de agitações populares,
como a de Canudos, narrada por Euclides da Cunha na terceira parte de seu livro
Os Sertões. Todas essas agitações
contribuíram para os questionamentos manifestados na Semana de Arte Moderna de
1922.
Características
Embora
os representantes do Pré-Modernismo apresentem traços individuais e estilos
próprios, há neles alguns pontos em comum:
·
As obras apresentam uma ruptura
com o passado, com o academismo e com os modelos preestabelecidos; são
inovadoras;
·
Algumas obras são regionalistas;
·
Verifica-se a presença de alguns
tipos humanos marginalizados pela elite; o sertanejo nordestino, o mulato, o
caipira,...;
·
O sertão nordestino, os coboclos
do interior dos subúrbios, enfim, a
realidade brasileira não-oficial surge como tema de inúmeras obras do período.
Autores
1.
Euclides da Cunha(1866-1909): órfão
aos três anos, é criado por suas tias. Matricula-se na Escola Politécnica do
Rio de Janeiro. Cursa a escola Superior de Guerra. Após uma interrupção,
forma-se engenheiro. Mais tarde torna-se colaborador do Estado de São Paulo,
que o envia, em 1897, a Canudos (Bahia) como correspondente; fornece ao jornal
as informações sobre a rebelião que já eclodira. Obras: Os Sertões (1902); Peru
versus Bolívia(1907); Contrastes e confrontos(1907), À margem da
história(1909). A obra mais importante de Euclides da Cunha-Os Sertões- não é
ficcional. O autor deu a ela um caráter sociológico. O núcleo da obra é a
campanha de Canudos movida pelas forças republicanas contra os jagunços
liderados pelo fanático Antônio Conselheiro. Sua obra está totalmente dentro
dos princípios científicos do final do século IX, o determinismo, que pode ser
esquematizada assim: Determinismo Geográfico (o homem como produto do meio
natural; o papel preponderante do clima na formação do meio; a impossibilidade
civilizatória em zonas tórridas, como o sertão). Determinismo Racial (os
cruzamentos raciais enfraquecem a espécie; a miscigenação conduz os homens à
bestialidade e a toda a espécie de impulsos criminosos; o sertanejo é o caso
típico de hibridismo racial) Determinismo Histórico (uma cultura, como a
sertaneja, que por ausência de contato não reproduz o 'progresso' e as
revoluções tecnológicas, operadas nos países centrais, permanecerá historicamente
atrasada, tendendo a 'anomalias', a exemplo de Canudos). Dentro do esquema
determinista e positivista, a obra se divide em três partes, delimitadas a
rigor: A terra - O homem - A luta.
Na
primeira parte, temos a visão cientificista do Naturalismo: o meio geográfico
opressor, com sua vegetação pobre, o chão calcinado, a imobilidade e repetição
da paisagem árida. Na segunda a questão racial avulta, interpenetrando-se com
as influências mesológicas. Apresenta o negro, o branco e o mulato, além de
Antonio Conselheiro, o messias fanático. Há a descrição física e psicológica do
sertanejo, seus costumes,seu misticismo. A terceira parte da obra expõe com
rigor jornalístico as investidas do exército contra Canudos. O ataque e vitória
das forças do governo, o massacre e o fanatismo religioso. Os Sertões é uma
mescla de romance e ensaio científico, relato histórico e reportagem
jornalística, o que o torna impossível de enquadrá-lo nos limites de um gênero
literário. Trata-se de uma obra de exceção. Esta 'epopéia às avessas' distingue-se
do mero documento com verdades científicas pela presença e uso intencional da
linguagem artística. O estilo é trabalhado, pomposo, enfático, cheio de
antíteses e comparações. É mais retórico
nas passagens 'científicas e mais simples nas outras partes.
2.
Graça Aranha (1868-1931): Diplomata,
ensaísta, romancista e crítico brasileiro, Graça Aranha formou-se em Direito.
Distinguiu-se como delegado do Brasil no Congresso Pan-Americano. Em missões
diplomáticas, conviveu com Joaquim Nabuco, cuja amizade, aliada à publicação de
um excerto do romance Canaã, valeu-lhe a eleição precoce para a Academia
Brasileira de Letras, recém fundada. Graça Aranha participou da Semana de Arte
Moderna, fato que motivou seu desligamento da Academia Brasileira de Letras.
Obras: Canaã (1902); A estética da vida(1921). A sua principal obra, Canaã, se
trata de um romance de tese, onde o autor focaliza uma comunidade de imigrantes
alemães do Espírito Santo, discutindo a atitude do imigrante. Dois jovens
alemães debatem permanentemente: Milkau prefere a integração, a harmonia, o
amor; Lentz pretende a dominação dos povos mestiços pelos arianos, portanto a
lei do mais forte. O romance é bastante denso, repleto de cenas de violência e
dramaticidade, com uma linguagem por vezes impressionista.
3.
Lima Barreto(1881-1922): Aos seis anos fica órfão de
mãe. Faz o curso secundário e ingressa na Escola Politécnica do Rio de Janeiro,
em 1897. Abandona o curso e vai trabalhar no Expediente da Secretaria da
Guerra, para sustentar a família. Trabalha depois como jornalista no Correio da
Manhã. Leva vida atribulada e entrega-se à boêmia, em virtude da loucura do pai
e do seu complexo de cor. Esses problemas pessoais, Lima Barreto transfere para seus livros. Daí o caráter autobiográfico de seus personagens.
Obras: Recordações do escrivão Isaias Caminha (1909); Triste fim de policarpo
Quaresma(1911); Numa e ninfa(1915); Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá (1919);
Os Bruzundangas (1923); Clara dos Anjos(1924); Cemitério dos vivos(1957).
Características do autor: linguagem crônica, às vezes um tanto displicente;
presença permanente da paisagem suburbana do Rio de Janeiro; presença emocional
do autor, traduzida pela denúncia do preconceito racial, da opressão da gente
simples do povo e a fixação da inconsistência moral dos poderosos.
4.
Monteiro Lobato(1882-1948): Nasceu em
Taubaté. Formado em Direito, exerceu brevemente a profissão. Além disso foi
fazendeiro, editor, adido comercial nos Estados Unidos. A sua luta pelo
petróleo valeu-lhe a prisão e o exílio. Obras: A obra completa de Monteiro
Lobato está organizada em duas séries: 1ª série- literatura em geral, em 13
volumes: Urupês, Cidades Mortas, Negrinha, Idéias de Jeca Tatu, O Escândalo do
Petróleo, Ferro, entre outros; 2ª série- literatura infantil, em 17 volumes:
Reinações de Narizinho, Emília no País da Gramática, Aritmética da Emília, O
Poço do Visconde, Geografia de Dona Benta e outros. Características do autor:
atitude política progressista e atitude literária conservadora ("Paranóia
ou Mistificação?"); preferência pelo conto, ambientados no interior
paulista; Denúncia social, principalmente nos livros Urupês e Cidades Mortas;
presença de forte sentimentalidade; cenas macabras; ironia; o tema predominante
é a decadência da zona rural paulista, o atraso e o abandono da população
interiorana.
5.
Augusto dos Anjos(1884-1914): Filho
de advogado paraibano, seguiu a mesma carreira do pai, formando-se em Direito.
Mas jamais exerceu a profissão, tornando-se professor de língua portuguesa.
Morreu muito jovem atacado de pneumonia. Obra: Eu. Augusto dos Anjos é um caso
à parte na poesia brasileira. Autor de grande sucesso popular, foi ignorado
pela crítica, que o julgou mórbido e vulgar. Possui tendências parnasianas e
simbolistas. Esse autor pode ser considerado o verdadeiro pré-modernista, pois ele soube antecipar uma série de
procedimentos que as vanguardas sacramentariam em 22: a linguagem corrosiva, o
coloquialismo e a incorporação à literatura de todas as 'sujeiras' da vida.
Características do autor: temática científica e filosofante; linguagem
científica tomada ao Evolucionismo; pessimismo; angústia moral; revolta;
presença constante dos temas morte, doença, dor, cães e o próprio mundo
vegetal.
6.
Simões Lopes Neto(1865-1916): Descendente
de estancieiros, nasceu em Pelotas e passou a infância no campo. Com treze anos
vai para o Rio de Janeiro, estudando no Colégio Abílio. Mais tarde, entra para
a Escola de Medicina, abandonando-a no 3º ano e voltando à Pelotas.
Ali,
dedica-se a uma série de negócios malogrados.
Morreu
em Pelotas em total obscuridade literária. Obras: Cancioneiro guasca(1910);
Contos Gauchescos(1912); Lendas do Sul(1913); Casos do Romualdo(1952). O autor
se caracteriza pela linguagem regional, marcada pela oralidade, não apenas no
diálogo, mas também na narração, graças ao artifício de criar um narrador
fictício, o velho gaúcho Blau Nunes, que toma a palavra e conta as estórias. Em
alguns momentos em Lendas do Sul a linguagem se torna solene. A linguagem é
viva e cheia de dialetismos, o que, em parte, dificulta a leitura. O linguajar
gauchesco é reproduzido pelo escritor, não se tornando pitoresco. O interesse
pelo documento leva Simões Lopes Neto a elaborar uma coletânea de poesias
populares: Cancioneiro guasca. E também à copilação da mitologia rio-grandense,
Lendas do Sul, em que Boitatá, a Salamanca do Jarau e o Negrinho do Pastoreio
são revividos pelo estilo oral do narrador pelotense.
QUINHENTISMO
(1500 - 1601)
(1500 - 1601)
O
homem europeu apresenta-se em pleno século XVI com duas preocupações distintas:
a conquista material, resultante da política das Grandes Navegações, e a
conquista espiritual, resultante, no caso português, do movimento de
contra-reforma. Essas preocupações determinaram as duas manifestações
literárias do Quinhentismo brasileiro: a literatura informativa, com os olhos
voltados para as riquezas materiais (ouro, prata, ferro, madeira, etc.), e a
literatura dos jesuítas, voltada para o trabalho de catequese. Por outro lado, fora
a carta de Pero Vaz de Caminha, considerada o primeiro documento da literatura
no Brasil, as principais crônicas da literatura informativa datam da segunda
metade do século XVI, fato compreensível, uma vez que a colonização só pode ser
contada a partir de 1530. A literatura jesuítica, por seu lado, também
caracteriza o final do Quinhentismo, tendo esses religiosos pisado o solo
brasileiro somente em 1549.
Literatura
Informativa
A
literatura informativa, também chamada de literatura dos viajantes ou dos
cronistas, reflexo que é das Grandes Navegações, empenha-se em fazer um
levantamento da "terra nova", de sua flora, fauna, de sua gente. Daí
ser urna literatura meramente descritiva e, como tal, sem
grande valor literário. No entanto, seu valor histórico deve ser salientado,
pois esses documentos são a única fonte de informação sobre o Brasil do século
XVI. A principal característica dessa manifestação é a exaltação da terra,
resultante do assombro do europeu que vinha de um mundo temperado e se
defrontava com o exotismo e a exuberância de um mundo tropical. Com relação à
linguagem, o louvor à terra transparece no uso exagerado de adjetivos, quase
sempre empregados no superlativo. A Carta de Pero Vaz de Caminha, escrivão da
armada de Cabral, sobre o achamento do Brasil, além do inestimável valor
histórico, é um trabalho de bom nível literário. O texto da carta mostra
claramente o duplo objetivo que, segundo Caminha, impulsionava os portugueses
para as aventuras marítimas, isto é, a conquista dos bens materiais e a
dilatação da fé cristã.
Literatura
Catequética
Conseqüência
da contra-reforma, a principal preocupação dos jesuítas era o trabalho de
catequese, objetivo que determinou toda a sua produção literária, tanto na
poesia como no teatro. Mesmo assim, do ponto de vista estético, foi a melhor
produção literária do Quinhentismo brasileiro. Além da poesia de devoção, os
jesuítas cultivaram o teatro de caráter pedagógico, baseado em trechos
bíblicos, e as cartas que informavam aos superiores na Europa o andamento dos
trabalhos na Colônia. José de Anchieta foi o mais conhecido jesuíta. Ele foi o
autor da primeira gramática do tupi-guarani, várias poesias, seguindo a
tradição do verso medieval, vários autos, também de natureza medieval, segundo
o modelo deixado por Gil Vicente, misturando a moral religiosa católica aos
costumes dos indígenas, sempre preocupado em caracterizar os extremos, como o
Bem e o Mal, o Anjo e o Diabo.
Autores
e Obras
Na prosa, destaca-se:
A) a Carta de Pero Vaz de Caminha
(1500):
"...a feição deles é serem pardos,maneira de avermelhados,de bons rostos e bons narizes,bem feitos.Andam nus,sem cobertura alguma.Não fazem o menor caso de encobrir ou mostrar suas vergonhas e nisso têm tanta inocência com que têm em mostrar o rosto..."
"...a feição deles é serem pardos,maneira de avermelhados,de bons rostos e bons narizes,bem feitos.Andam nus,sem cobertura alguma.Não fazem o menor caso de encobrir ou mostrar suas vergonhas e nisso têm tanta inocência com que têm em mostrar o rosto..."
Nesse
trecho da carta destaca-se o primeiro choque cultural sofrido pelos
portugueses.O mesmo deve-se ao fato de os índios andarem nus.
"...de
ponta a ponta,é tudo praia...muito chã e muito formosa.(...) Nela,até agora,não
pudemos saber que haja ouro nem prata...porém a terra em si é de muito bons
ares,assim frios e temperados...
Águas
são muitas;infindas.E em tal maneira é graciosa,que querendo-a
aproveitar,dar-se-á nela tudo por bem das águas que tem. Porém o melhor fruto
que dela se pode tirar me parece que será salvar essa gente.E essa deve ser a
principal semente que Vossa Alteza em ela deve jogar..."
Nesse
fragmento percebe-se a excelente impressão que o Brasil deixou em Pero Vaz de
Caminha. Nota-se também a pretensão dos portugueses em achar que os índios
"deveriam ser salvos".
B) o tratado da terra do Brasil e
a História da província de Santa Cruz a que vulgarmente chamaram o Brasil,de
Pero de Magalhães Gandavo (1576):
"...esta província de Santa Cruz está situada naquela grande América,uma das quatro partes do mundo.(...)Está formada essa província a maneira de harpa,cuja costa pela banda do norte do oriente ao ocidente e está olhando direitamente a equinocial;e pela do sul confina com outras províncias da mesma América povoadas e possuídas de povo gentílico,com que ainda não temos comunicação.E pela do oriente confina com o mar oceano Áfrico,e olha direitamente os reinos do Congo e Angola até o Cabo da Boa Esperança,que é o seu oposto.E pela do ocidente confina com as altíssimas serras dos Andes e fraldas do Peru,as quais são tão soberbas em cima da terra que se diz terem as aves trabalho em as passar..."
"...primeiramente tratarei da planta e raiz de que os moradores fazem seus mantimentos que lá comem em lugar de pão. A raiz se chama mandioca,e a planta de que se gera é da altura de um homem,pouco mais ou menos. Esta planta não é muito grossa,e tem muitos nós..."
"...esta província de Santa Cruz está situada naquela grande América,uma das quatro partes do mundo.(...)Está formada essa província a maneira de harpa,cuja costa pela banda do norte do oriente ao ocidente e está olhando direitamente a equinocial;e pela do sul confina com outras províncias da mesma América povoadas e possuídas de povo gentílico,com que ainda não temos comunicação.E pela do oriente confina com o mar oceano Áfrico,e olha direitamente os reinos do Congo e Angola até o Cabo da Boa Esperança,que é o seu oposto.E pela do ocidente confina com as altíssimas serras dos Andes e fraldas do Peru,as quais são tão soberbas em cima da terra que se diz terem as aves trabalho em as passar..."
"...primeiramente tratarei da planta e raiz de que os moradores fazem seus mantimentos que lá comem em lugar de pão. A raiz se chama mandioca,e a planta de que se gera é da altura de um homem,pouco mais ou menos. Esta planta não é muito grossa,e tem muitos nós..."
C) o tratado descritivo do
Brasil,de Gabriel Soares de Sousa (1587):
"...antes de comer não dão graças a Deus,nem lavam as mãos antes de comer,e depois de comer as limpam nos cabelos,corpos e paus;não têm toalhas,nem mesa,comem sentados, ou deitados nas redes,ou em cócoras no chão,e a farinha comem de arremesso,e deixo outras muitas particularidades que têm no comer e no beber,porque estas são as principais..."
"...antes de comer não dão graças a Deus,nem lavam as mãos antes de comer,e depois de comer as limpam nos cabelos,corpos e paus;não têm toalhas,nem mesa,comem sentados, ou deitados nas redes,ou em cócoras no chão,e a farinha comem de arremesso,e deixo outras muitas particularidades que têm no comer e no beber,porque estas são as principais..."
Na
poesia, destaca-se Padre José de Anchieta além da poesia,teve vital importância
na catequese.
"...Ó
que pão,ó que comida,
ó que divino manjar
se nos dá no santo altar
cada dia !
Filho da Virgem Maria
que Deus-padre cá mandou
e por nós na cruz passou,
crua morte,
e para que nos conforte
se deixou no sacramento
para dar-nos,com aumento,
sua graça..."
(Do Santíssimo Sacramento)
ó que divino manjar
se nos dá no santo altar
cada dia !
Filho da Virgem Maria
que Deus-padre cá mandou
e por nós na cruz passou,
crua morte,
e para que nos conforte
se deixou no sacramento
para dar-nos,com aumento,
sua graça..."
(Do Santíssimo Sacramento)
O
assunto do poema é o sacramento da Comunhão,em que uma hóstia ingerida pelo
cristão simboliza o corpo de Cristo. No teatro, destacamos o mesmo padre José
de Anchieta,com a obra "Auto de São Lourenço".A mesma foi escrita em
três línguas: tupi,espanhol e português.Trata do martírio de São Lourenço,que
preferiu morrer queimado a renunciar a fé cristã. Outros autores importantes:
os jesuítas Manuel da Nóbrega e Fernão Cardim.
EXEMPLO DE:
Literatura
Informativa
Carta
a EI-Rei Dom Manuel sobre o achamento do Brasil (fragmentos) - Pero Vaz de
Caminha
Senhor,
posto que o capitão-mor desta vossa frota e assim os outros capitães escrevam a
Vossa Alteza a nova do achamento desta vossa terra nova, que se ora nesta
navegação achou, não deixarei também de dar disso minha conta. (...) E assim
seguimos nosso caminho por este mar, de longo, até terça-feira d'oitavas de
Páscoa , que foram 21 dias d'Abril, que topamos alguns sinais de terra. (...) E
à quarta-feira seguinte, pela manhã, topamos aves, a que chamam fura-buxos. E
neste dia, a horas de véspera , houvemos vista de terra, isto é, primeiramente
d'um grande monte, mui alto e redondo, e d'outras serras mais baixas a sul dele
e de terra chã com grandes arvoredos, ao qual monte alto o capitão pôs o nome o
Monte Pascoal e à terra a Terra de Vera Cruz. (...) E dali houvemos vista
d'homens, que andavam pela praia, de 7 ou 8, segundo os navios pequenos
disseram, por chegarem primeiro. (...) A feição deles é serem pardos, maneira
d'avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos, Andam nus, sem
nenhuma cobertura, nem estimam nenhuma cousa cobrir nem mostrar suas vergonhas.
E estão acerca disso com tanta inocência como têm em mostrar o rosto. (...)
O
capitão, quando eles vieram, estava assentado em uma cadeira e uma alcatifa aos
pés por estrado, e bem vestido, com um colar d'ouro mui grande ao pescoço.
Acenderam tochas e entraram e não fizeram nenhuma menção de cortesia nem de
falar ao capitão nem a ninguém. Um deles, porém, pôs olho no colar do capitão e
começou d'acenar com a mão para a terra e depois para o colar, como que nos
dizia que havia em terra ouro. E também viu um castiçal de prata e assim mesmo
acenava para a terra e então para o castiçal, como que havia também prata.
Mostraram-lhes um papagaio pardo, que aqui o capitão traz, tomaram-no logo na
mão e acenaram para a terra, como que os havia aí. Mostraram-lhes um carneiro,
não fizeram dele menção. Mostraram-lhes uma galinha, quase haviam medo dela e
não lhe queriam pôr a mão, e depois a tomaram como espantados.
Literatura
Catequética
Santa
Inês, de José de Anchieta
Cordeirinha
linda,
como
folga o povo
porque
vossa vinda
lhe
dá lume novo!
Nossa
culpa escura
fugirá
depressa,
Pois
vossa cabeça
vem
com luz tão pura.
Vinde
mui depressa
ajudar
o povo,
pois,
com vossa vinda,
lhe
dais lume novo.
Cordeirinha
santa,
de
lesu querida,
vossa
santa vinda
o
diabo espanta.
Vossa
formosura
honra
é do povo,
porque
vossa vinda
lhe
dá lume novo.
Vós
sois, cordeirinha,
de
lesu formoso,
mas
o vosso esposo
já
vos fez rainha.
Por
isso vos canta,
com
prazer, o povo,
porque
vossa vinda
lhe
dá lume novo.
Virginal
cabeça
pola
fé cortada,
com
vossa chegada,
já
ninguém pereça.
Também
padeirinha
sois
de nosso povo,
POIS,
com vossa vinda,
lhe
dais lume novo.
REALISMO
O
século XIX é marcado por grandes transformações econômicas e culturais. Há uma
nova filosofia de vida, a qual é dita cética e materialista. Essa nova
filosofia põe em evidência o fato de o homem ser um produto do meio e do
momento em que vive. Com o progresso da ciência, o homem passa a indagar sobre
as razões dos fenômenos; não mais permanece impassível diante dos
acontecimentos e, em decorrência disso, profundas alterações ocorrem na
estrutura econômica e social dos grandes centros urbanos.
A
cultura será enriquecida pelo surgimento de grandes pensadores e algumas
doutrinas marcantes: A Teoria da Evolução das Espécies, de Darwin, O
Positivismo, de Comte, O Socialismo, de Marx.
Cria-se
um contexto acentuadamente cientificista onde ganham espaço a experimentação, a
observação, a pesquisa, a busca objetiva da verdade, enfim, uma atitude
racional diante da vida. Os tumultos sociais, resultantes do conflito
incipiente entre capital e trabalho, exigem do artista uma participação
consciente no mundo. Já não há mais lugar para a fantasia, o sentimentalismo, o
subjetivismo.
No
Brasil, a partir de 1870, alguns fatos marcantes agitam a classe média urbana:
a fundação do Clube Republicano, a Abolição, a crescente importância do Sul.
Essa atmosfera liberal, abolicionista e republicana recebe o impulso de uma
multidão de imigrantes europeus. Surgia um novo momento histórico-psicológico,
uma nova maneira de ver o mundo, de situar-se diante da vida. O Romantismo não
tinha nada a ver com tudo isso. O Romantismo era o passado. O Realismo foi um
movimento literário marcado por uma oposição ao idealismo romântico.
Desdobrou-se em:
- realismo e naturalismo, na prosa;
- parnasianismo, na poesia.
- realismo e naturalismo, na prosa;
- parnasianismo, na poesia.
No
Brasil: o romance realista surge, em 1881, com Machado de Assis que escreve
Memórias Póstumas de Brás Cubas; o romance naturalista passa a ser cultivado
por Aluísio de Azevedo nas obras: O Mulato, O Cortiço, Casa de Pensão; e por
Júlio Ribeiro em A Carne; a poesia parnasiana tem como principais
representantes: Olavo Bilac, Raimundo Correia, Alberto de Oliveira.
Características
1)
Objetividade, impessoalidade, equilíbrio, moderação
"Não
digo que já lhe coubesse a primazia da beleza entre as mocinhas do tempo,
porque isto não é romance em que o autor sobredoura a realidade e fecha os
olhos às sardas e espinhas; mas também não digo que lhe maculasse o rosto
nenhuma sarda ou espinha, não. Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza
cheia daquele feitiço precário e eterno, que o indivíduo passa a outro
indivíduo para os fins secretos da criação. Era isso Virgília, e era clara,
faceira, ignorante; pueril, cheia de uns ímpetos misteriosos; muita preguiça e
alguma devoção - devoção, ou talvez medo; creio que medo."(Machado de
Assis)
Veja-se
que não há aqui a idealização romântica. A moça Virgília não é "a mais
bonita". Apenas "era bonita". Como se percebe, o autor não se
envolve emocionalmente, mas observa de modo distante, descreve de maneira
impessoal. Observe-se também a mistura de caracteres físicos e psíquicos, a
presença da análise psicológica.
2) Racionalismo
Reflexo
do racionalismo ideológico e científico da época, significa a possibilidade de
uma investigação objetiva dos indivíduos, como tais, e como agentes de grupos
da sociedade. Os resultados são análise psicológica e tipificação
social.
"Vejam
como Deus escreve direito por linhas tortas, pensa ele. Se mana Piedade tem
casado com Quincas Borba, apenas me daria uma esperança colateral. Não casou;
ambos morreram e aqui está tudo comigo; de modo que o que parecia uma
desgraça..." (Machado de Assis - Quincas Borba)
3) Verossimilhança
A
literatura deve refletir os mecanismos da vida, eis o projeto do autor
realista. Os cenários são descritos com fidelidade, com minúcias às vezes até
excessivas. As personagens nada têm da idealização anterior. São seres comuns,
presentes no cotidiano, movidos pela satisfação nada espiritual de seus
prazeres e suas necessidades imediatas.
4) Contemporaneidade
A
tendência à verossimilhança leva os escritores a ambientarem suas obras no
momento presente e em lugares próximos, as grandes cidades onde viviam.
5) Pessimismo
Ao
contrário dos romances românticos, com seus heróis, heroínas, finais felizes e
sentimentos nobres, a prosa realista na expressão muito feliz de Alfredo Bosi é
"uma grande mancha pardacenta". As estórias de amor nunca se resolvem
de modo feliz, ou virtuoso. A todo instante a sugestão da mesquinhez humana: o
escravo Prudêncio, uma vez liberto, compra um escravo e passa a espancá-lo; Brás
Cubas se regozija com a morte de Lobo Neves; a "virtuosa" Dona
Plácida se corrompe por cinco contos de réis. E, pairando sobre tudo, a
indiferença dos astros: "O Cruzeiro, que a linda Sofia não quis fitar,
como lhe pedia Rubião, está assaz alto para não discernir os risos e as
lágrimas dos homens". Com a sabedoria dos defuntos, Brás Cubas conclui:
"Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa
miséria."
6) A preocupação estética
O estilo passa a ser objeto de
extremo cuidado. A busca da perfeição formal leva os autores a um exaustivo
trabalho de depuração da linguagem. A maneira de dizer as coisas adquire
importância e transcende.
Romance
Realista
1)
Machado de Assis: É o nosso mais bem-sucedido, o
mais profundo e o mais universal de nossos escritores. Nascido no RJ,
descendente de família humilde, foi um autodidata. Viveu numa época em que o
Brasil estava sob o regime monárquico escravocrata. D. Pedro II era, então, o
imperador de nosso país. Por esse monarca ser grande apreciador da arte
literária e por conhecer o valor intelectual do escritor, Machado de Assis
consegue uma privilegiada posição social. Torna-se um grande e renomado
romancista: pela originalidade e agudeza na concepção da vida; pela profunda
análise dos sentimentos; pela extraordinária capacidade em caracterizar as
personagens; pelo estilo sóbrio e conciso; pela linguagem adequada a cada
gênero literário. Machado de Assis, um dos fundadores da Academia Brasileira de
Letras (1897), foi aclamado seu primeiro presidente, posição que ocupou até sua
morte (1908). A poesia machadiana será abordada mais tarde, no Parnasianismo. A
prosa machadiana tem duas fases distintas: uma com influências românticas,
outra realistas.
Primeira
Fase: crença nos valores da época; estrutura de
folhetim; esquematismo psicológico. Obras: Ressurreição
(1872); A mão e a luva (1874); Helena (1876); Iaiá Garcia (1878) - romances.
Contos fluminenses e Histórias da meia-noite - contos. Crisálidas, Falenas e
Americanas - poesia.
Segunda
Fase: análise psicológica (os seres vistos em sua complexidade psíquica);
análise dos valores sociais (os valores que a sociedade cria para justificar
sua própria existência); pessimismo (descrença nos indivíduos e na organização
social); ironia ( o chamado "sense of humor", inspirado nos ingleses
Sterne e Swift); refinamento da linguagem narrativa. Obras:Memórias
Póstumas de Brás cubas (1881), Quincas Borba (1892), Dom Casmurro (1900), Esaú
e Jacó (1904), Memorial de Aires (1908) - romances. Papéis avulsos, Histórias
sem data, várias histórias, páginas recolhidas, Relíquias de casa velha -
contos. Ocidentais - poesias.
ROMANTISMO
Com
a Revolução Industrial e a conseqüente alteração do modo de produção,a
sociedade distingui-se em duas classes distintas:a burguesia capitalista e o
proletariado. Politicamente, o absolutismo monárquico dá lugar ao liberalismo, através
de movimentos que refletem a ascensão da burguesia, como a Revolução Francesa
(1789).Os processos de independência do Brasil e dos Estados Unidos geram lutas
civis entre liberais e conservadores,numa tentativa de conciliar as novas
forças. Com a industrialização, formam-se grandes massas urbanas. O mercado
literário, antes restrito aos salões da aristocracia, amplia-se e
diversifica-se, atendendo aos interesses da nova classe dominante: a burguesia,
que passa a ser grande apreciadora dessa arte literária. A publicação do poema
Camões, de Almeida Garrett, em 1825, é considerada o marco inicial do
Romantismo em Portugal, que se consolida a partir de 1836, com a publicação da
Revista Panorama. Nessa revista aparecem textos literários de Alexandre
Herculano e dramas de Almeida Garrett. No Brasil, o movimento romântico
inicia-se em 1836 com a publicação, em Paris, da revista brasiliense Niterói.
Um dos seus diretores - Gonçalves de Magalhães - lança, no mesmo ano, Suspiros
Poéticos e Saudades-livro de poesias. O Romantismo surge, no Brasil, logo após
a independência política, o que explica o intenso nacionalismo ufanista.
Características
1.
Ufanismo e Culto da Natureza: Esse
deslumbramento diante da Pátria inspira a primeira geração romântica e dá
origem a uma importante característica do movimento: a divulgação promocional
do Brasil, o êxtase diante da paisagem nacional.
"Minha
terra tem palmeiras
onde canta o sabiá..."
onde canta o sabiá..."
ou
"Nosso
céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores."
(Gonçalves Dias)
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores."
(Gonçalves Dias)
Ou
ainda:
"Verdes
mares bravios de minha terra natal,onde canta a jandaia nas frondes da
carnaúba...
(José de Alencar)
(José de Alencar)
"As
luzes matutinas
Sorrindo entre neblinas
A várzea como é linda !"
(Fagundes Varela)
Sorrindo entre neblinas
A várzea como é linda !"
(Fagundes Varela)
Esse
entusiasmo nativista leva Alencar e Gonçalves Dias à idealização do índio, o
brasileiro autêntico, e de todo indivíduo identificado com a Terra (O Gaúcho, O
Sertanejo), porque valorizar o homem brasileiro implica a valorização da
Pátria. Assim, o indianismo no Brasil é fruto do sentimento de fervor
patriótico, por sua vez estimulado pela proclamação da independência.
Igualmente daí, provém a busca da linguagem brasileira, com a freqüência de
palavras de origem tupi-guarani, presentes na prosa de Alencar, bem como a
insistência nas comparações com elementos da Terra:
"Os
cabelos de Iracema eram mais negros que a asa da graúna..."
(José de Alencar)
(José de Alencar)
Além
disso, é importante lembrar que, no Arcadismo, a paisagem bucólica era
utilizada como cenário para os amores do poeta, mas permanecia impassível,
indiferente às emoções que ele sentia. No Romantismo, porém, a natureza
compartilha o sofrimento do poeta, tornando-se
reflexo de seu mundo interior. A natureza passa a ser uma extensão do eu do
poeta, mostrando-se triste ou alegre como ele, dependendo de seu estado de
espírito.
"Oh! céu da minha terra -
azul sem mancha
Oh! sol de fogo que me queima a fronte,
Nuvens douradas que correis no ocaso,
Névoas da tarde que cobris o monte;"
(Casimiro de Abreu)
Oh! sol de fogo que me queima a fronte,
Nuvens douradas que correis no ocaso,
Névoas da tarde que cobris o monte;"
(Casimiro de Abreu)
"Amigo!
O campo é o ninho do poeta...
Deus fala, quando a turba está quieta,
Às campinas em flor."
(Castro Alves)
Deus fala, quando a turba está quieta,
Às campinas em flor."
(Castro Alves)
2)
Sentimentalismo: Todos os poetas são
sentimentais. Todos nós, mais ou menos, somos sentimentais. Por isso não é
suficientemente claro dizer que os escritores românticos foram sentimentais,
porque os parnasianos, os simbolistas, os modernistas também o foram. A
diferença está em que, na obra romântica, o sentimentalismo é exacerbado,
manifestando-se pela dramaticidade das situações emocionais, pela paixão levada
às últimas conseqüências, pelo aspecto candente dos sentimentos, as
interjeições, os pontos de exclamação, o exagero vocabular.
"Lerás
porém algum dia
Meus versos, d'alma arrancados,
D'amargo pranto banhados,
Com sangue escritos;- e então
confio que te comovas,
Que a minha dor te apiade,
Que chores, não de saudade,
Nem de amor,- de compaixão."
(Gonçalves Dias)
Meus versos, d'alma arrancados,
D'amargo pranto banhados,
Com sangue escritos;- e então
confio que te comovas,
Que a minha dor te apiade,
Que chores, não de saudade,
Nem de amor,- de compaixão."
(Gonçalves Dias)
3)
Subjetivismo: É entre os românticos que o EU do
artista se transforma no centro às vezes absoluto da obra literária. A
introspecção é conseqüência da inadaptação do poeta ao meio. Em conflito com a
sociedade, o artista se refugia em seu mundo particular. O mundo objetivo é
apenas pretexto, o meio de projetar aquilo que importa: a intimidade do poeta
com o permanente desencanto.
"Desponta
a estrela d'alva, a noite morre,
Pulam no mato ali geros cantores,
E doce a brisa no arraial das flores,
Lânguidas queixas murmurando corre.
Volúvel tribo a solidão percorre
Das borboletas de brilhantes cores;
Soluça o arroio; diz a rola amores
Nas verdes balsas donde o orvalho escorre.
Tudo é luz e esplendor, tudo se esfuma
Às carícias da aurora, ao céu risonho,
Ao flóreo bafo que o sertão perfuma!
Porém minh'alma, triste e sem um sonho,
Pulam no mato ali geros cantores,
E doce a brisa no arraial das flores,
Lânguidas queixas murmurando corre.
Volúvel tribo a solidão percorre
Das borboletas de brilhantes cores;
Soluça o arroio; diz a rola amores
Nas verdes balsas donde o orvalho escorre.
Tudo é luz e esplendor, tudo se esfuma
Às carícias da aurora, ao céu risonho,
Ao flóreo bafo que o sertão perfuma!
Porém minh'alma, triste e sem um sonho,
Repete
olhando o prado, o rio, a espuma:
- Oh! mundo encantador, tu é medonho !"
(Fagundes Varela)
- Oh! mundo encantador, tu é medonho !"
(Fagundes Varela)
4)
Predomínio da Imaginação: Quando os poetas românticos
se entregam à fantasia, criando um modo inverossímil, onde se movem seres
irreais, estão na verdade fugindo do mundo real. Esse predomínio absoluto da
imaginação se percebe na descrição do cenário, na caracterização das
personagens e na própria narração. Veja-se, a propósito, a descrição da
"Moreninha":
"Figure-se
a mais bonita criança do mundo, com um vivo, agradável e alegre semblante, com
cabelos negros e anelados voando em derredor do seu pescoço, com o fogo do céu
nos olhos, com o sorrir dos anjos nos lábios, com a graça divina em toda ela, e
far-se-á uma idéia ainda incompleta dessa menina." (Joaquim Manuel
de Macedo)
Nesse
trecho percebe-se a idealização, o exagero, o irreal. Essa fantasia leva os
poetas e os romancistas românticos ao passado e a lugares distantes. Muitos
romances românticos (Iracema, O Guarani, Ubirajara), se ambientam em lugares
exóticos (a selva tropical) e se situam no passado. Isso se explica exatamente
pelo fato de que é mais fácil construir um mundo de sonho quando se foge da
realidade cotidiana, opressora, prosaica e , obviamente, mais difícil de se
transformar naquilo que o poeta deseja. Imagine-se um escritor romântico em
nossos dias, em Porto Alegre. No momento de construir sua fabulação, ele verá
que o presente não serve. O rio de águas cristalinas onde a heroína romântica
se banha não pode ser, é claro, o nosso Guaíba, de águas poluídas e margens
contaminadas pela civilização. Mas, se recuarmos 2 ou 3 séculos, poderemos
construir o cenário idílico ao sabor de nossa imaginação.
5)
Tendência à espiritualidade: A
atitude romântica diante da vida e, principalmente, do amor é sempre
espiritual. As heroínas românticas não são mulheres sensuais, ansiosas por
beijos de amor. A virgindade romântica, na verdade, transcende à virgindade
meramente física. A virgem romântica é a menina-moça que nunca amou, que se
descobre para a vida e vai conhecer um sentimento novo, na figura do herói.
Esse amor romântico, absolutamente sublimado, é único e imorredouro.
"Amor
é vida; é ter constantemente
Alma, sentidos, coração - abertos
Ao grande, ao belo; é ser capaz d'extremos,
D'Altas virtudes, ser capaz de crimes !
Compreender o infinito, a imensidade,
A natureza e Deus; gostar dos campos,
D'aves, flores, murmúrios solitários !"
(Gonçalves Dias)
Alma, sentidos, coração - abertos
Ao grande, ao belo; é ser capaz d'extremos,
D'Altas virtudes, ser capaz de crimes !
Compreender o infinito, a imensidade,
A natureza e Deus; gostar dos campos,
D'aves, flores, murmúrios solitários !"
(Gonçalves Dias)
Ou então:
"Amar
é não saber, não ter coragem,
Para dizer do amor que em nós sentimos;
Sentir, sem que se veja, a quem se adora,
Compreender sem lhe ouvir, seus pensamentos
Segui-la, sem poder fitar seus olhos,
Amá-la, sem ousar dizer que amamos,
E, temendo roçar os seus vestidos,
Arder por afogá-la em mil abraços,
Isso é amor, e desse amor se morre!"
(Gonçalves Dias)
Para dizer do amor que em nós sentimos;
Sentir, sem que se veja, a quem se adora,
Compreender sem lhe ouvir, seus pensamentos
Segui-la, sem poder fitar seus olhos,
Amá-la, sem ousar dizer que amamos,
E, temendo roçar os seus vestidos,
Arder por afogá-la em mil abraços,
Isso é amor, e desse amor se morre!"
(Gonçalves Dias)
Na
própria descrição da heroína, se caracteriza a atmosfera de pureza e sublimação
em que se conduz o idílio. Vejamos a Cecília, de Alencar:
"Os
grandes olhos azuis, meio cerrados, às vezes se abriam languidamente como para
se embeberem de luz, e abaixavam de novo as pálpebras rosadas. Os lábios
vermelhos e úmidos pareciam uma flor de gardênia dos nossos campos, orvalhada
pelo sereno da noite; o hálito doce e ligeiro exalava-se formando um sorriso.
Sua tez alva e pura como um floco de algodão tingia-se nas faces de uns longes
cor-de-rosa, que iam desmaiando, morrer no colo de linhas suaves e
delicadas."
Essa
tendência de espiritualizar as relações amorosas se explica em virtude do severo
código de valores morais que vigorava na época. Por isso os idílios românticos
se transformam em namoros bem-comportados e em casamentos inevitáveis. Mesmo
depois de autorizado pelo sacramento e pelos votos matrimoniais, o amor segue
respeitoso e sublimado:
"A
formosa moça trocara seu vestuário de noiva por esse outro que bem se podia
chamar de traje de esposa; pois os suaves emblemas da pureza imaculada, de que
a virgem se reveste quando caminha para o altar, já se desfolham como as
pétalas da flor do outono, deixando entrever as castas primícias do santo amor
conjugal." (Senhora - José de Alencar)
6)
Ânsia de Liberdade: Quando nos voltamos para a
estética romântica, vamos encontrar uma ânsia de libertação em relação aos
modelos rígidos a que sempre esteve sujeita a arte clássica. O que importa
agora são os impulsos individuais, as emoções, os sentimentos. Surge então o
poema sem número predeterminado de versos, que vai terminar quando cessa a
inspiração, a estrofação mais livre, a ausência freqüente de rima.
"Frouxo
o verso, talvez, pálida a rima
Por estes meus delírios cambeteia,
Porém odeio o pó que deixa a lima
Quanto a mim ... é fogo quem anima
De uma estância o calor: quando formei-a
Se a estátua não saiu como pretendo,
Quebrou-a, mas nunca seu metal emendo."
(Álvares de Azevedo)
Por estes meus delírios cambeteia,
Porém odeio o pó que deixa a lima
Quanto a mim ... é fogo quem anima
De uma estância o calor: quando formei-a
Se a estátua não saiu como pretendo,
Quebrou-a, mas nunca seu metal emendo."
(Álvares de Azevedo)
Esse
desejo de liberdade, fruto da inadaptação ao meio e a exacerbação da
interioridade do poeta, provoca também a ruptura ocasional em relação aos
valores sociais vigentes:
"Meu
herói é um moço preguiçoso
Que viveu e bebia, porventura,
Ao certo não o sei. Em mesa impura
Como vós, meu leitor; se era formoso,
Esgotara com lábio fervoroso
Como vós e como eu a taça escura...
Era pálido, sim...Mas não d'estudo:
No mais...era um devasso, e disse tudo !"
(Álvares de Azevedo)
Que viveu e bebia, porventura,
Ao certo não o sei. Em mesa impura
Como vós, meu leitor; se era formoso,
Esgotara com lábio fervoroso
Como vós e como eu a taça escura...
Era pálido, sim...Mas não d'estudo:
No mais...era um devasso, e disse tudo !"
(Álvares de Azevedo)
7)
Evasão ou escapismo: Desiludidos com seu próprio
tempo e insatisfeitos com a realidade que os cerca, muitos autores românticos
mergulham no chamado "mal do século", postura de frustração e
imobilismo em face da realidade. Descontentes com a época em que vivem, buscam
formas de fugir dela, através de evasões:
#
no tempo: voltando em pensamento à época de sua infância,
em que se sentiam protegidos pela figura da mãe ou da irmã.
"Oh,
que saudades que eu tenho
Da aurora da minha vida
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais !"
(Casimiro de Abreu)
Da aurora da minha vida
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais !"
(Casimiro de Abreu)
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no sonho: buscando refúgio para suas tristezas num mundo irreal, marcado por
símbolos ou mitos.
"Oh!
Nos meus sonhos, pelas noites minhas
Passam tantas visões sobre meu peito !
Calor de febre meu semblante cobre,
Bate meu coração com tanto fogo !"
(Álvares de Azevedo)
Passam tantas visões sobre meu peito !
Calor de febre meu semblante cobre,
Bate meu coração com tanto fogo !"
(Álvares de Azevedo)
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na morte: que é vista como solução para as tristezas e a insatisfação. A idéia
de suicídio aparece com intensidade, mostrando-se como a única possibilidade de
escapar do sofrimento a que o ser humano se expõe a cada dia.
"Por
isso , é morte, eu amo-te e não temo.
Por isso, é morte, eu quero-te comigo.
Leva-me à região da paz horrenda,
Leva-me ao nada, leva-me contigo."
(Junqueira Freire)
Por isso, é morte, eu quero-te comigo.
Leva-me à região da paz horrenda,
Leva-me ao nada, leva-me contigo."
(Junqueira Freire)
"Pensamento
gentil de paz eterna,
Amiga morte, vem."
(Junqueira Freire)
Amiga morte, vem."
(Junqueira Freire)
Prosa
Romântica
Quase
todo romance romântico assume a estrutura de folhetim, uma vez que o artista
deveria submeter-se às exigências do público burguês e dos diretores dos
jornais. O sucesso do folhetim europeu em jornais brasileiros possibilitou o
surgimento de vulgares adaptações, feitas por escritores de segunda categoria,
até que, em 1844, sai à luz o romance "A Moreninha", de Joaquim
Manuel de Macedo, mais do que uma simples cópia de narrativas européias. Surgia
o romance brasileiro (em certos aspectos). E o nosso romance começava sob a
dimensão do Romantismo.
Autores e Obras
1)
Joaquim Manuel de Macedo: Nascido
no RJ, formou-se em Medicina, a qual não praticaria seduzido pela carreira
literária. Características do autor: Romance de costumes
burgueses. Namoros bem-comportados, apego aos preconceitos burgueses,
personagens e situações convencionais. Obras Principais: A
Moreninha (1844) e O Moço Loiro (1945). Outras: Os Dois Amores, Rosa,
Vicentina, O Forasteiro, Os Romances da Semana, A Luneta Mágica, As Vítimas
Algozes, As mulheres de Mantilha, A Namoradeira, Um Noivo e Duas Noivas
(romances); Cobé, O Cego, O Fantasma Branco, O Primo da Califórnia, Lusbela,
Cincinato Quebra-louça, Vingança por Vingança (teatro); A Nebulosa
(poema-prosa).
2)
José Martiniano de Alencar: Natural do Ceará, onde
nasceu em 1829. Pelo título de suas obras, percebe-se a efusão nacionalista que
o leva a abranger, em seus romances, o Brasil, em sua totalidade geográfica,
cidade e interior. Obras principais: Romances Urbanos: Cinco
Minutos (1856), A Viuvinha (1857), Lucíola (1862), Diva (1864), A pata da
gazela (1870), Sonhos d'ouro (1872), Senhora (1875), Encarnação (1877).
Romances Regionalistas: O gaúcho (1870), O tronco do ipê (1871), Til (1872), O
sertanejo (1875). Romances Históricos e Indianistas: O guarani (1857), As minas
de prata (1862), Iracema (1865), Alfarrábios (1873), A guerra dos mascates
(1873), Ubirajara (1874). Características do autor:Preferência pelo
passado e pela natureza. Linguagem exuberante, adjetivação rica e sonora,
comparações com a natureza brasileira, prosa rítmica, presença de termos
indígenas.
3)
Bernardo Guimarães: Nasceu em Ouro Preto, mas
foi a São Paulo para estudar direito. Foi colega de Álvares de Azevedo. Características
do autor- Introdutor do regionalismo e do sertanismo na literatura
brasileira. Foi também poeta ultra-romântico. Principais Obras: O
seminarista (1872) e A escrava Isaura (1875). Outras: Cantos de Solidão (1852),
Poesias (1865), Folhas de Outono (1852), Novas Poesias (1876) (poesia); O
ermitão de Muquém (1869), A Garganta do Inferno (1871), O Garimpeiro (1872), O
Índio Afonso (1873), Rosaura, a Enjeitada (1883), O Bandido do Rio das Mortes (1904)
(romances); A Voz do Pajé (teatro).
4)
Franklin Távora: Nasceu no Ceará; formou-se
em Direito em Pernambuco e mudou-se para São Paulo. Características:o
regionalismo mais do que o assunto é polêmica; observações realistas dentro de
um arcabouço de folhetim. Obras: O Cabeleira (1876), O Matuto
(1878), Lourenço (1881); O Cabeleira é a mais conhecida.
5)
Visconde de Taunay: Nasceu no RJ e cursou a
Escola Militar. Participou da Guerra do Paraguai. Características do
autor: meticulosidade em observar o cenário sertanejo. A cor local
surge sem os desvios do exotismo ou do estilo, estilo pitoresco, emprego de
termos e expressões típicas e regionais. Obras: A retirada da
Laguna (1871), Lágrimas do coração, Manuscrito de uma Mulher, No Declínio, Céus
e terras do Brasil e outras. A mais importante é Inocência (1872).
6)
Manuel Antônio de Almeida: Nasceu no RJ; freqüentou o
curso de Medicina, o qual não concluiu por ter se dedicado exaustivamente ao
jornalismo. Características do autor: Focalização dos costumes
populares e folclore carioca no tempo do Rei. Visão objetiva e bem-humorada da
sociedade carioca da época. Ausência da idealização romântica. Obra:Memórias
de um Sargento de Milícias
Poesia
Romântica
Podemos
delimitar três momentos dentro da poesia romântica nacional que apresentam
temas e visões de mundo distintos entre si. Estes momentos coincidem com a
formação de três gerações. E cada uma dessas gerações assume uma perspectiva
própria, embora todas tragam em si o caráter romântico.
PRIMEIRA GERAÇÃO - NACIONALISTA
É
composta por Gonçalves de Magalhães e Gonçalves Dias; seus modelos poéticos são
Lamartine e Chateaubriand.Principais Temas: o índio; a saudade da
pátria; a natureza; a religiosidade; o amor impossível. Essa geração é marcada
intensamente pela busca de uma identidade nacional. O cenário tropical,
retratado em toda a sua exuberância, é usado como motivo de orgulho e
patriotismo.
Autores e Obras
1)
Domingos José Gonçalves de Magalhães: Introdutor
do Romantismo na poesia, com a obra Suspiros Poéticos e Saudades, em
1836. Principais Obras: novela: Amância (1844); poesia lírica:
Suspiros Poéticos e Saudades (1836); poesia épica: A Confederação dos Tamoios
(1856); teatro (em verso): Antônio José ou O Poeta e a Inquisição (1839)."
2)
Antônio Gonçalves Dias: Descendente de três raças,
pois era filho de português e cafusa, Gonçalves Dias transmite em sua obra a
marca da origem. Responsável pela consolidação do Romantismo. Entre os
românticos, foi o que melhor conseguiu equilibrar os temas exóticos e sentimentais
com uma linguagem de linguagem de relativa simplicidade, fugindo tanto da
ênfase declamatória como da vulgaridade. Principais assuntos: o índio; a
saudade da pátria; a natureza; o amor. Obras Principais: Primeiros
cantos (1846), Segundos cantos (1848), Sextilhas de Frei Antão (1848), Últimos
cantos (1851), Os Timbiras (obra incompleta devido a um naufrágio).
SEGUNDA GERAÇÃO - INDIVIDUALISTA
Também
chamada Subjetivista, Ultra-Romântica ou "Mal-do-século". Fazem parte
dessa geração os poetas Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Junqueira Freire
e Fagundes Varela; seus modelos poéticos são Byron e Mussett. Principais temas:
a dúvida; o tédio; a orgia; a morte; a infância; o medo do amor; o sofrimento.
1)
Álvares de Azevedo: Suas obras trazem a marca da
adolescência - mas de uma adolescência tão dilacerada e tão conflituosa que
termina por representar a experiência mais dramática de nosso Romantismo.
Temas: amor (orgia, medo); morte; tédio (humor, dúvida). Principais
obras: Lira dos vintes anos (poemas - 1853), Noite na taverna (contos
- 1855), o conde Lopo (poema - 1886), Macário (teatro - 1855).
2)
Casimiro de Abreu: Subjetivista como Álvares de
Azevedo, substitui as conotações dolorosas que aquele dera à adolescência por
uma visão graciosa e deslumbrada a respeito da juventude. Principais temas: o
amor; a tristeza da vida; a saudade da infância; a saudade da pátria.
Ingenuidade (no tratamento dos temas), simplicidade (no vocabulário),
melancolia e afetividade.
3)
Fagundes Varela: Embora tivesse talento,
sempre lhe faltou originalidade. É muito versátil com relação aos temas, tem
profundo sentimento religioso, descreve a natureza e o mundo sertanejo.
Bastante presente em sua obra é o sofrimento pela perda do filho. Principais
obras: Noturna (1861), O Estandarte Auriverde (ardor nacionalista), Cantos
do Ermo e da Cidade (culto da natureza, evasão), Cantos e Fantasias, Vozes da
América (1864), Anchieta ou o Evangelho nas Selvas (1875-poesia religiosa),
Cântico do Calvário (lamenta a morte do filho).
4)
Junqueira Freire: A poesia é totalmente
autobiográfica. Retrata a inadaptação de um jovem na vida monástica e a
presença contínua da morte. Obras: Inspirações do Claustro e Contradições
Poéticas
TERCEIRA GERAÇÃO - CONDOREIRA
Também
chamada liberal, social ou hugoana. Seu principal representante é o poeta
Castro Alves. Tem como modelo poético o escritor Vitor Hugo. Seus principais
temas são a defesa de causas humanitárias, a denúncia da escravidão e o amor
erótico.
Castro
Alves: Supera o extremado individualismo
dos poetas anteriores, dando ao Romantismo um sentido social e revolucionário
que o aproxima do Realismo. Castro Alves é cantor da liberdade e do
futuro. Principais obras: Espumas Flutuantes (1870), A cachoeira
de Paulo Afonso (1876), Os escravos (1883), Gonzaga (drama - 1875) Castro Alves
é o caso típico do intelectual convertido em homem de ação. O poeta baiano
estava consciente de sua situação de letrado e do papel que o letrado pode
assumir dentro da sociedade. Compreendeu o significado da Educação num país
constituído por analfabetos.
Teatro
Romântico
O
teatro brasileiro do século XIX está comprometido com a dependência cultural de
nossas elites. Os textos procediam em sua quase totalidade da Europa; as
companhias vinham de Portugal; respirava-se uma atmosfera dissociada da
realidade local. Embora muitos românticos tenham escrito para o teatro, não
chegaram a problematizar verdadeiramente a questão de uma dramaturgia
brasileira, ao contrário do que aconteceu no romance e mesmo na poesia.
Gonçalves Dias (Leonor de Mendonça), José de Alencar (O Demônio Familiar),
Castro Alves (Gonzaga) e outros criaram obras esparsas e inspiradas em modelos
europeus. Caberia a Martins Pena a elaboração de um conjunto de peças capazes
de refletir aspectos da realidade nacional.
1)
Martins Pena: Características do autor e
da obra: linguagem coloquial; análise cômica dos costumes rurais e urbanos;
inicia verdadeiramente o teatro brasileiro; humor popular (preferência pelas
comédias); ausência de idealização. Obras principais:
O
juiz de paz na roça (1842), O judas em sábado de aleluia (1846), Quem casa quer
casa (1847), O noviço (1853), Os dois ou o inglês maquinista (1871), A família
e a festa na roça (1842), O caixeiro da taverna (1847).
2)
José de Alencar: O Demônio Familiar (1857),
Verso e Reverso (1857), As asas de um anjo (1860), Mãe (1862), O Jesuíta
(1857).
3)
Gonçalves Dias: Patkull (1843), Beatriz
Cenci (1843), Leonor de Mendonça (1847).
4)
Castro Alves: Gonzaga ou a Revolução de
Minas (1876).
5)
Álvares de Azevedo: Macário (1855).
SIMBOLISMO
Em
oposição ao Parnasianismo, forma-se uma nova corrente literária, em que uma
nova tendência se manifesta: o Simbolismo. Este é um movimento essencialmente
poético, que se constitui num grito de revolta contra a razão anônima, contra a
impessoalidade, contra a concepção mecanicista do mundo, veiculada pelo
Naturalismo. Assim, o Simbolismo se aproxima do Romantismo pela reafirmação do
indivíduo.
Contexto
Histórico
Entre
os séculos XIX e XX, os simbolistas conviveram num período em que o Brasil
procurava conquistar sua maturidade mental e sua autonomia, Mesmo depois da
Independência de 1822, a metrópole ainda continuava a exercer a sua ação
colonialista. A primeira tentativa de autonomia deu-se com a Regência, mas só
com a Proclamação da República que o Brasil se separou definitivamente de
Portugal. Esse fato levou os homens de letras do século XIX a explorar o tema
do nacionalismo. O início do movimento brasileiro é marcado por conflitos no
sul do país (1893-1895): a Revolução Federalista e a Revolta Armada.
Características
Subjetivismo: Os simbolistas retomam a subjetividade romântica com outro sentido. Os
simbolistas descem até os limites do subconsciente, enquanto os românticos
desvendavam apenas a primeira camada da vida interior, onde se localizavam as
vivências quase sempre de ordem sentimental. Esse fato explica o caráter
ilógico ou o clima de delírio de grande parte dos poemas:
"Cristais
diluídos de clarões álcares, Desejos, vibrações, ânsias, alentos,Fulvas
vitórias, triunfamentos acres,Os mais estranhos estremecimentos..." (Cruz
e Souza)
Sugestão: Abandona-se o descritivismo parnasiano em busca de uma revitalização do
gênero lírico. São criadas novas imagens, metáforas e símbolos. Acentua-se o
caráter obscuro de certas palavras e o emotivo de outras, tudo co repúdio à
linguagem poética usual, carregada de lugares comuns, clichês e frases-feitas
que se repetiam de geração em geração.. Trata-se de reinventar a linguagem. A
verdadeira poesia consiste em não-dizer, em insinuar, sugerir.Cruz Sousa foi um
especialista na utilização de imagens ousadas com efeito de sugestão, como no
poema a seguir:"Cróton selvagem, tinhorão lascivo, planta mortal,
carnívora, sangrenta, de tua carne báquida rebenta, a vermelha explosão de um
sangue vivo.
Musicalidade: Na tentativa de sugerir infinitas sensações aos leitores, os simbolistas
aproximaram a poesia da música. Trata-se de poesia com musicalidade em si
mesma, através do manejo especial de ritmos da linguagem, esquisitas
combinações de rimas, repetição intencional de certos fonemas, entre outros.
Poetas
do Simbolismo
Cruz
e Sousa: Muito cedo publicou Tropos e
Fantasias com a colaboração de Virgílio Várzea. Vítima de preconceitos
raciais, pois era filho de antigos escravos, não conseguiu profissão certa.
Viveu quase na miséria, contando apenas com pequenos empregos. Teve a vida
marcada por uma sucessão de tragédias, como a loucura da esposa, a morte de
dois filhos, a miséria e a tuberculose.Obras: Broquéis (1893)
Missal(1893) Faróis(1900) Últimos sonetos(1905). Características do
Autor:Protesto contra a condição do negro, desejo de ultrapassar as
limitações que a sociedade lhe impõe por causa de sua cor; Defesa dos
miseráveis, dos negros e dos humilhados; Obsessão pela cor branca, através do
uso freqüente do adjetivos como: alvo, luminoso, claro,...e de substantivos
como neve, névoa, lírio, marfim,... Todo o sofrimento de Cruz e Sousa impregna
a sua poesia e transmite ao leitor a aflição de quem se debate na solidão e no
silêncio.
Alphonsus
de Guimarães: Nasceu em Ouro Preto,
estudou Direito em São Paulo e, voltando para Minas Gerais, exerceu a função de
juiz em Mariana, onde morreu praticamente na obscuridade. Obras: centenário das
dores de Nossa Senhora (1899)
Dona
Mística(1899) Câmara ardente(1899) Kyriale(1902) Pastoral aos Crentes do Amor e
de Morte(1902) A morte da mulher amada é o centro da temática amorosa do poeta.
Sinhá Constança aparece sempre sublimada, evocada em imagens delicadas, sempre
envolvida por uma auréola mística de pureza e virgindade, em versos às vezes, românticos.
Alphonsus de Guimarães se caracteriza por uma religiosidade profunda. A
mensagem cristã polariza o poeta e o conduz a uma atitude de adoração. Nossa
Senhora mereceu-lhe versos devotos.
Alceu
Wamosy (l895 -l923): Jornalista de profissão,
foi amigo de Dionélio Machado, morreu em consequência de um ferimento no
combate de Ponche Verde, na Revolução de l923, em que lutou ao lado dos
governistas. É considerado o maior simbolista do Rio Grande do Sul.
Celebrizou-se o Soneto Duas Almas, declamado por todo Rio Grande. Obras:
Flâmulas Na Terra Virgem, Coroa de Sonhos Poesias. Eduardo Guimarães nasceu em
Porto Alegre, em l892 e morreu no Rio de Janeiro em 1928. Foi cronista,
contista, ensaísta, mas permanece, sobretudo como poeta. Sua obra foi publicada
no volume intitulado “A Divina Quimera”, que mostra no geral características
simbolistas: Obscuridade, vaguidade, intimismo e uma nítida tendência
decadentista.
Eduardo
Guimarães: Nasceu em Porto Alegre, em
l892 e morreu no Rio de Janeiro em 1928. Foi cronista, contista, ensaísta, mas
permanece, sobretudo como poeta. Sua obra foi publicada no volume intitulado A
Divina Quimera, que mostra no geral características simbolistas: Obscuridade,
vaguidade, intimismo e uma nítida tendência decadentista.
WWW.GOOGLE.BR, ACESSO EM: 17/1/15, ÀS 19:30H.
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