domingo, 18 de janeiro de 2015

Só para fixar literatura para ensino médio e concurso / E.E.P.T.A.N.

CLASSICISMO
(1527-1580)
O Classicismo surgiu no auge do movimento renascentista, estimulado pelo poder econômico que se concentrava em Portugal. Elaborado durante o período áureo da Renascença na Itália, adotou como modelos os textos gregos e latinos. Suas características são: racionalismo, universalismo, nacionalismo. Sua forma de inspiração clássica foram os Sonetos, de Luís Vaz de Camões.
Na segunda metade do séc.XV, o Renascimento começa a se expandir aos demais países europeus. Em cada país esse movimento vai adquirindo aspectos diferentes. Apesar dessa diversidade o movimento mantém uma característica comum: o rompimento com o principal marco do feudalismo: o teocentrismo. Com a decadência do sistema feudal, os renascentistas passam a tomar interesse pelo ser humano e a valorizá-lo. O homem é considerado o centro do Universo, a sua principal figura (antropocentrismo). Para os renascentistas, a natureza é tida como o reino do homem, o qual é capaz de dominar as coisas do mundo, aberto às pesquisas e investigações científicas. O classicismo, como movimento literário, resulta do Renascimento. E ele foi elaborado durante o período áureo da Renascença da Itália. Para bem entendermos essa época literária, é importante o conhecimento de fatos que compõem o panorama histórico da Europa nesse período:

O Universalismo
Para os clássicos, a obra de arte prende-se a uma realidade idealizada; uma concepção artística transcendente, baseada no Bem, no Belo, no Verdadeiro - valores passíveis de imitação. A função do artista é a de criar a realidade circundante naquilo que ela tem de universal.
O Racionalismo
Os autores clássicos submetem suas emoções ao controle da razão. Ao abandonar o teocentrismo, o homem deste período afasta os temores da idade média e passa a crer em suas potencialidades, incluindo nelas a habilidade de raciocinar. A cultura clássica é uma cultura da racionalidade.
A Perfeição Formal
Preocupados com o equilíbrio e a harmonia de seus textos, os autores clássicos adotam a chamada medida nova para os poemas: versos decassílabos e uso frequente de sonetos (anteriormente chamava-se a medida velha: redondilhas). A rima e a métrica atendem a esse ideal de perfeição, sendo cuidadosamente elaboradas pelos autores clássicos.
Estilismo
Os clássicos evitam a vulgaridade. O Classicismo tende a realização de uma arte de elite, o que reflete a organização social da época. A concepção clássica foi introduzida em Portugal por Sá de Miranda, ao regressar da Itália, onde conheceu novos conceitos de arte e novas formas poéticas.
Uso da Mitologia
Voltados para os valores da antiguidade, os autores clássicos utilizam-se, com freqüência, de cenas mitológicas, as quais simbolizam com propriedade as emoções que o autor quer exteriorizar. Assim, a imagem do cupido, por exemplo, simboliza o amor.
Sá de Miranda
Foi o introdutor das idéias renascentistas em Portugal. Tendo estado na Itália, Sá de Miranda conheceu as novas tendências e trouxe-as para a sua terra, em especial a concepção poética denominada Medida Nova.
Luis Vaz de Camões
Luis de Camões é considerando o poeta máximo da língua portuguesa. Desde muito cedo ganha fama de conquistador. Apaixona-se por Catarina de Ataíde, cujo nome é celebrado no poema Natércia. Fica cego da vista direita, quando luta pelas tropas portuguesas, na África. É preso por envolver-se em uma rixa durante uma procissão de Corpus Christi. No cárcere, inicia o poema épico Os Lusíadas. Livre, embarca para as Índias, onde exerce o cargo de provedor dos ausentes e defuntos. Nas Índias, escreve mais seis cantos de sua obra. De volta a terra natal, é vítima de um naufrágio; salva-se a nado com o seu manuscrito. Na cidade do Porto conclui Os Lusíadas. Dedica a obra a Dom Sebastião, que lhe concede uma pensão de 15.000 réis anuais. Camões escreve ainda: Anfitriões, El-Rei Seleuco e Filodemo. A obra de Camões se divide em duas fases de sua vida, lírico e épico. Os Sonetos, a forma de inspiração clássica desta escola literária. Possuem como características o neoplatonismo, onde o tempo é passageiro, sentimentos contraditórios, instabilidade dos sentimentos. Os sonetos de Camões contêm um grande lirismo, descrevem bem o ambiente, grande preocupação técnica e presença de elementos pagãos e católicos. A técnica dos sonetos é impressionante, são os 14 versos de todos os sonetos (2 quartetos, 2 tercetos) decassílabos, de rima abba-abba-cde-cde, algo que impressionaria o mais parnasiano dos poetas.
No entanto, nem todos os sonetos tem sempre esta rima. Quanto aos elementos pagãos, mais presentes que os católicos, deve-se apontar que é muito comum o autor citar os deuses e deusas romanos, com suas qualidades. Infelizmente é difícil se ter certeza de que ele escreveu todos os sonetos que a ele são atribuídos. Muitos ainda têm a autoria contestada.
EXEMPLOS DE:
Soneto, de Luís Vaz de Camões
Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

HUMANISMO
(1434-1507)
O humanismo foi um estilo de transição, que ainda representou a Idade Média, mas revelou um espírito crítico, onde preparava-se o mundo renascentista que viria a seguir. Surge neste momento uma nova idéia, o antropocentrismo, em que o homem é o centro do universo, devido ao surgimento da burguesia que enfraquece o poder dos senhores feudais, que empobrecem. A igreja perde seu poder, chegando a surgirem dois papas (um em Avignon-França e outro em Roma-Itália),fazendo com que o homem se descubra como senhor de sua própria vida. O Humanismo foi um movimento surgido e definido na Itália. O Humanismo português iniciou-se com a nomeação de Fernão Lopes para o cargo de cronista-mor da Torre do Tombo, em 1434.

Prosa, o gênero narrativo.
Prosa de Fernão Lopes - Conhecido como pai da historiografia portuguesa, Fernão Lopes foi o encarregado de guardar os arquivos da Torre do Tombo. Ele destacou-se como um prosador dono de um estilo rico e movimentado. Não se limitou a dar elogios a reis, mas fez descrições detalhadas, não só da corte, mas também das aldeias, festas populares e do papel do povo nas guerras e rebeliões. Muitas de suas crônicas se perderam, mas as que se restaram são: A Crônica del-Rei D. Pedro I, A Crônica del-Rei D. Fernando, e A crônica del-Rei D. João I. Estas três crônicas foram narrativas dos principais acontecimentos de cada reinado.
Prosa Doutrinária - Foi dedicada aos nobres com fins didáticos. Existiam livros como o de falcoaria, de montaria e do Leal Conselheiro, em que se produziam conselhos sobre amor e inveja.
Teatro de Gil Vicente - Fundador do teatro português. Provavelmente nascido em 1465, foi poeta e dramaturgo, talvez ourives e organizador de festas palacianas do tempo da rainha Dona Leonor. Seus textos revelam conhecimento literário, e suas obras se caracterizam por constituir uma galeria de tipos, por painéis alegóricos, humor e crítica social, sem deixar de lado o caráter religioso. Gil Vicente preocupou-se em retratar o homem na sociedade, criticando-lhes os costumes, com um princípio de moral. Sua primeira peça foi o Monólogo do Vaqueiro, em que o tema era o nascimento do filho de Dona Maria e Dom Manuel (1502). Escreveu ainda autos e farsas, peças religiosas e profanas. A Novela de Cavalaria mais conhecida foi a comédia Amadis de Gaula (1523).

Autos e Farsas
AUTOS
Religiosos
normalizantes

FARSAS
profanas e irônicas
reformadoras

Os autos mais conhecidos de Gil Vicente foi um a trilogia formada pelo Auto da barca do Inferno, o Auto da Barca da Glória e o Auto da barca do Purgatório. A farsa mais conhecida foi a Farsa de Inês Pereira, que retratou esta idéia: "Mais vale um asno que me carregue, do que um cavalo que me derrube".


Poesia Palaciana
O Gênero Lírico Humanista é uma coletânea de mil poemas publicados em 1516, com o título de Cancioneiro Geral. Diferentemente da poesia trovadoresca, a poesia palaciana apresenta-se declamada, e não cantada, como eram as cantigas medievais. Apresenta visão menos idealista da mulher, sem divisão de classes sociais e o amor torna-se possível entre pessoas de todas as categorias sociais. Em geral, o mote é obrigatório e constitui-se numa estrofe de quatro ou cinco versos. Seu tema é o amor cortês.
EXEMPLOS DE:
Teatro de Gil Vicente
Auto da Barca do Inferno
"Ó barca, como és ardente!
Maldito em quem em ti vai!"
Farsa de Inês Pereira
"Porém, não hei-de casar
senão com homem avisado
Ainda que pobre e pelado,
seja discreto em falar."
Auto da Alma
"A Sua mortal empresa
foi, santa estalajadeira
Igreja Madre,
consolar à sua despesa
nesta mesa
qualquer alma caminheira,
com o Padre.
E o Anjo custódio aio
Alma que lhe é encomendada,
se enfraquece
e lhe vai tomando raio
de desmaio,
se chegando a esta pousada,
se guarnece."
TROVADORISMO
(1189-1434)
Considera-se a Cantiga da Ribeirinha o primeiro texto literário português. A mulher de que se fala esse texto, chamada Ribeirinha, teria sido a preferida de D. Sancho I. Veja abaixo este texto literário, provavelmente escrito em 1189.
No mundo non m’ei parelha
mentre me for como me vai,
ca já moiro por vós, e ai!
Mia senhor, branca e vermelha,
queredes que vos retraia,
quando vos eu vi en saia.
Mao dia me levantei,
que vos enton non vi fea!
E, mia senhor, dês aquelha
I me foi a mi mui mal, ai!
E vós, filha de don Paai
Moniz, e bem vos semelha
d’aver eu por vós garvaia,
pois eu, mia senhor, d’alfaia
nunca de vós ouve nen ei
valia d’ua Correa

A cultura trovadoresca refletia muito bem o panorama histórico desse período, que foi do século XII à XIV. Nesse período houve as Cruzadas, a luta contra os mouros e o poder acentuado do clero, ocasionando o teocentrismo. Esta época foi marcada por um sistema econômico e político, o feudalismo. Eram freqüentes romarias, procissões, além das expedições realizadas durante a Idade Média, com o objetivo de libertar os lugares santos.

A poesia medieval portuguesa
a) Gênero Lírico - neste gênero, o amor é a temática predominante. São divididos em cantiga de amor e de amigo.
Þ Cantiga de amor - Expressa-se o amor cortês da época. O poeta fala em seu próprio nome, expressando seus sentimentos pela dama que deseja. Seu amor é platônico. O eu-lírico masculino nunca revela o nome da amada, sendo chamada de "mia senhor". O poeta se dispões a um afastamento casto de sua amada, desejando-a à distância, por uma posição tomada pela moral cristã. A mulher é socialmente superior, casada. A vassalagem é amorosa, e as cantigas eram de maestria e sem refrão.
Þ Cantiga de amigo - Os trovadores exprimem os sentimentos que supunham ter as amadas, ou que desejam que tivessem por eles. Essa cantiga procura mostrar a mulher dialogando com sua mãe, amiga ou com a natureza. As cantigas de amigo apresentam aspectos como: temas mais variados que da cantiga de amor, linguagem menos rica e mais musical, destinada ao canto e à dança, onde são configurados os problemas sociais e políticos. O eu-lírico é feminino e a relação amorosa verdadeira.
b) Gênero Satírico - Expressa a psicologia medieval, despertando muitos comentários na época. Satiriza-se a vida social e política, sem as normas rígidas do gênero lírico.
Þ Cantiga de Escárnio - apresenta críticas sutis e bem-humoradas ao redor de uma pessoa muito reconhecidamente conhecida. A crítica é indireta e a linguagem não é grosseira.
Þ Cantiga de Maldizer - apresenta críticas pesadas, com intenção de ofender a pessoa. Há o uso de palavras grosseiras e cita-se o nome ou o cargo da pessoa em que se fala (crítica direta).
A prosa medieval portuguesa
A produção literária medieval limita-se quanto à prosa, aos conventos, onde eram escritas hagiografias (relatos sobre a vida de santos) e nobiliários (livros de linhagem contendo árvores genealógicas de nobres, evitando casamentos entre parentes próximos).

Novelas de cavalaria
Novelas de cavalaria são narrativas originadas de poemas relacionados a assuntos épicos. O texto mais importante é a adaptação de uma novela de cavalaria chamada A Demanda do Santo Graal, onde se mostram os cavaleiros da távola redonda, liderados pelo rei Artur, tentando localizar a taça onde teria sido guardado o sangue de Cristo. As novelas eram organizadas em três ciclos:
Þ Ciclo arturiano, em torno do rei Artur e seus cavaleiros
Þ Ciclo carolíngio, a respeito de Carlos Magno e os doze pares da França.
Þ Ciclo clássico, relativo aos temas greco-latinos.
EXEMPLOS DE:

Cantiga de amor
O exemplo a seguir é a canção número 97 e foi escrita por El-rei D. Dinis.
Hun tal home sei eu, bem talhada
Que por vós tem a sa morte chegada;
Vides quen é e seed'en nanbrada;
Eu, mia dona.
Hun tal home sei eu que preto sente
De si morte chegada certamente;
Vêdes quem é e venha-vos en mente;
Eu, mia dona.
Hun tal home sei eu, aquest'oide:
Que por vós morr' e vo-lo en partide,
Vêdes quem é e non xe vos obride;
Eu, mia dona.
Cantiga de amigo
O exemplo que segue é a Cantiga número 462 e foi escrita por Aires Nunes.
Bailemos nós já tôdas três, ai amiga,
So aquestas avelaneiras froildas
E quen fôn velidas, como nós, velidas,
Se amig'amar
So aquestas avelaneiras frolidas
Verrá bailar.
Baliemos nós já todas três, ai irmanas,

So aqueste ramo desta avelanas,
E quen bem parecer, como nós parecemos
Se amig'amar
So aqueste ramos destas avelanas
Verrá bailar.
Por Deus, ai amigas, mentr'al non fazemos
So aqueste ramo florido bailemos
E quen bem parecer, como nós parecemos,
So aqueste ramo so lo que bailemos
Se amig'amar
Verrá bailar.

Cantiga de Escárnio
A Cantiga que segue, de Escárnio, é a número 998 e foi escrita por Pêro Garcia Burgalês.
Rui Queimado morreu com amor
en sus cantares, par Santa Marta,
por ua dona que gran bem queria,
e, por se meter por mais trovador,
porque lh'ela non quis [o] bem fazer
fêz-s'el en sus cantares morrer,
mas ressurgir depois ao tercer dia!
Esto féz el por ua as senhor
Que quer gran bem e mais vos en diria:
Porque cuida que faz i maestria,
Enos cantares que fêz a sabor
De morrer i se des d'ar viver;
Esto faz el que x'o pode fazer
Mais outr'omen per ren non [n] o faria.
E non há já de as morte pavor,
Senon as morte mais la temeria,
Mas sabede bem, para as sabedoria,
Que viverá, dês quando morto fôr,
E faz-[s']en ser cantar morte prender;
Desi ar viver i vêde que poder
Que lhi Deus deu, mas que non cuidara.
E, se mi Deus a mim desse poder,
Qual oi' el há, pois morrer, de viver,
Jamais morte nunca temeria.

Cantiga de Maldizer
A Cantiga seguinte, de Maldizer, é a número 1057 e foi escrita por Joan Garcia de Guilhade.
Ai dona fea! Fostes-vos queixar
Porque vos nunca louv' en meu trobar
Mais ora quero fazer un cantar
En que vos loarei tôda via;
E vêdes como vos quero loar:
Dona fea, velha e sandia!
Ai, dona fea! Se Deus me perdon!
E pois haverdes tan gran coraçon
Que vos eu loe en esta razon,
Vos quero já loar tôda via;
E vêdes qual será a loaçon:
Dona fea, velha e sandia!
Dona fea, nunca vos eu loei
En meu trobar, pero muito trobei;
Mais ora já un bem cantar farei
En que vôs loarei tôda via;
E direi-vos como vos loarei:
Dona fea, velha e sandia!
ARCADISMO
(1768-1808)
As formas artísticas do Barroco já se encontram desgastadas e decadentes. O fortalecimento político da burguesia e o aparecimento dos filósofos iluministas formam um novo quadro sócio político-cultural, que necessita de outras fórmulas de expressão. Combate-se a mentalidade religiosa criada pela Contra-Reforma. Conhecida como Arcadismo, uma influência que inspirava-se na lendária região da Grécia antiga, já chegava à Itália . No Brasil e em Portugal, a experiência neoclássica na literatura se deu em torno dos modelos do Arcadismo italiano, com a fundação de academias literárias, simulação pastoral, ambiente campestre, etc. Esses ideais de vida simples e natural vêm ao encontro dos anseios de um novo público consumidor em formação, a burguesia, que historicamente lutava pelo poder e denunciava a vida luxuosa da nobreza nas cortes. A primeira obra do arcadismo foi feita em 1768, denominada Obras Poéticas, de Cláudio M. da Costa.

Características do Arcadismo
A ausência de subjetividade, o racionalismo, o soneto (forma poética), simplicidade, pseudônimos e bucolismo (natureza) e o neoclassicismo são umas das características do Arcadismo, disposta a fazer valer a simplicidade perdida no Barroco. Entre outros:
·         Fugere urbem - Os árcades buscavam uma vida simples, bucólica, longe do burburinho citadino.
·         Inutilia truncar - A frase em latim resume grande parte da estética árcade. Ela significa que "as inutilidades devem ser banidas" e vai ao encontro do desprezo pelo exagero e pelo rebuscamento, característicos do Barroco.
·         Carpe diem - Aproveitar o dia, viver o momento presente com grande intensidade, foi uma atitude inteiramente assumida por esses poetas.
·          
Poetas da Inconfidência Mineira
Não existiu, no Brasil, uma Arcádia, como em Portugal. Um vigoroso grupo intelectual (o grupo mineiro) destacou-se na arte literária e na prática política, participando ativamente da Inconfidência Mineira. Esse grupo, constituído por Cláudio Manuel da CostaTomás Antônio GonzagaInácio José de Alvarenga PeixotoManuel Inácio da Silva Alvarenga e outros intelectuais, foi desfeito de forma violenta, com a prisão, desterro ou morte de alguns poetas, à época da repressão política em torno do episódio da Inconfidência. Com os olhos voltados para a terra natal, esses poetas árcades iniciaram o período de transformação da literatura brasileira, que se vai efetivar, realmente, no século XIX, com os românticos. Tomás Antônio Gonzaga escreveu Marília de Dirceu, uma poesia lírica, e Cartas Chilenas, poesia satírica. Cláudio Manoel da Costa inspirou-se em Camões para escrever Obras Poéticas. Silva Alvarenga fez obras em forma clássica. Outros poetas como Basílio da Gama (O Uruguai) e Frei Santa Rita Durão (Caramuru) aparecem neste cenário.
EXEMPLO DE:
Obras Poéticas, de Cláudio M. da Costa.
Soneto
Destes penhascos fez a natureza
O berço em que nasci: oh quem cuidara.
Que entre penhas tão duras se criara
Uma alma terna, um peito sem dureza.

Amor, que vence os Tigres, por empresa
Tomou logo render-me, ele declara
Contra o meu coração guerra tão rara,
Que não me foi bastante a fortaleza.

Por mais que eu mesmo conhecesse o dano
A que dava ocasião minha brandura,
Nunca pode fugir ao cego engano:

Vós, que ostentais a condição mais dura.
Temei, penhas, temei; que Amor tirano,
Onde há mais resistência, mais se apura.

Tomás Antônio Gonzaga
Marília de Dirceu, Lira I
Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,
Que viva de guardar alheio gado;
De tosco trato, d’ expressões grosseiro,
Dos frios gelos, e dos sóis queimado.
Tenho próprio casal, e nele assisto;
Dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
Das brancas ovelhinhas tiro o leite,
E mais as finas lãs, de que me visto.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!

Eu vi o meu semblante numa fonte,
Dos anos inda não está cortado:
Os pastores, que habitam este monte,
Com tal destreza toco a sanfoninha,
Que inveja até me tem o próprio Alceste:
Ao som dela concerto a voz celeste;
Nem canto letra, que não seja minha,
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!

Mas tendo tantos dotes da ventura,
Só apreço lhes dou, gentil Pastora,
Depois que teu afeto me segura,
Que queres do que tenho ser senhora.
É bom, minha Marília, é bom ser dono
De um rebanho, que cubra monte, e prado;
Porém, gentil Pastora, o teu agrado
Vale mais q’um rebanho, e mais q’um trono.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!

Os teus olhos espalham luz divina,
A quem a luz do Sol em vão se atreve:
Papoula, ou rosa delicada, e fina,
Te cobre as faces, que são cor de neve.
Os teus cabelos são uns fios d’ouro;
Teu lindo corpo bálsamos vapora.
Ah! Não, não fez o Céu, gentil Pastora,
Para glória de Amor igual tesouro.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!

Leve-me a sementeira muito embora
O rio sobre os campos levantado:
Acabe, acabe a peste matadora,
Sem deixar uma rês, o nédio gado.
Já destes bens, Marília, não preciso:
Nem me cega a paixão, que o mundo arrasta;
Para viver feliz, Marília, basta
Que os olhos mova, e me dês um riso.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!

Irás a divertir-te na floresta,
Sustentada, Marília, no meu braço;
Ali descansarei a quente sesta,
Dormindo um leve sono em teu regaço:

Enquanto a luta joga os Pastores,
E emparelhados correm nas campinas,
Toucarei teus cabelos de boninas,
Nos troncos gravarei os teus louvores.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!

Depois de nos ferir a mão da morte,
Ou seja,  neste monte, ou noutra serra,
Nossos corpos terão, terão a sorte
De consumir os dois a mesma terra.
Na campa, rodeada de ciprestes,
Lerão estas palavras os Pastores:
"Quem quiser ser feliz nos seus amores,
Siga os exemplos, que nos deram estes."
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!

Basílio da Gama
O Uruguai (fragmentos)
"O rei é vosso pai: quer-vos felizes.
Sois livres, como eu sou; e sereis livres.
Não sendo aqui, em qualquer outra parte.
Mas deveis entregar-nos estas terras.
Ao bem público cede o bem privado.
O sossego da Europa assim pede.
Assim o manda o rei. Vós sois rebeldes,
Se não obedeceis; mas os rebeldes
Eu sei que não sois vós - são os "bons" padres,
Que vos dizem a todos que sois livres,
E se servem de vós como de escravos,
E armados de orações vos põem no campo."
Os trechos abaixo pertencem a Cacambo, chefe guarani:
"...Se o rei da Espanha
Ao teu rei quer dar terras com mão larga
Que lhe dê Buenos Aires e Corrientes.
E outras, que tem por estes vastos climas;
Porém não pode dar-lhe os nossos povos (...)"
"Gentes de Europa, nunca vos trouxera
O mar e o vento a nós. Ah! não debalde
Estendeu entre nós a natureza
Todo esse plano espaço imenso de águas."
O trecho abaixo refere-se à expressão doce de Lindóia, já morta:
"Inda conserva o pálido semblante
Um não sei quê de magoado e triste.
Que os corações mais duros enternece,
Tanto era bela no seu rosto a morte!"


Santa Rita Durão
Caramuru (fragmentos)
"Só tu tutelar anjo, que o acompanhas,
Sabes quanta virtude ali se arrisca
Essas fúrias da paixão, que acende, estranhas
Essa de insano amor doce faísca
ânsia no coração sentiu tamanhas
Que houvera de perder-se naqu’hora
Se não fora cristão, se herói fora."

"Paraguaçu gentil (tal nome teve),

Bem diversa de gente tão nojosa,
De cor tão alva como a branca neve,
E donde não é neve, era de rosa;
O nariz natural, boca mui breve
Olhos de bela luz, testa espaçosa."

BARROCO
(1601 - 1768)
O tempo barroco denomina genericamente todas as manifestações artísticas dos anos 1600 e início dos anos 1700. Além da literatura, estende-se à música, pintura, escultura e arquitetura da época. O Barroco é o primeiro estilo de época da literatura brasileira e Gregório de Matos o primeiro poeta efetivamente brasileiro, com sentimento nativista manifesto. A agricultura lusa era abandonada. As colônias, principalmente o Brasil, não deram a Portugal riquezas imediatas. Portugal vive uma crise dinástica. O Cristianismo se divide. O quadro brasileiro se completa, no século XVII, com a presença cada vez mais forte dos comerciantes, com as transformações ocorridas no Nordeste em conseqüência das invasões holandesas e, finalmente, com o apogeu e a decadência da cana-de-açúcar. A 1ª obra barroca foi a Prosopopéia, de Bento Teixeira (1601) O homem está em conflito:
·         Culto do contraste: o poeta barroco se sente dividido, confuso. A obra é marcada pelo dualismo: carne X espírito, vida X morte, luz X sombra, racional X místico. Por isso, o emprego de antíteses.
·         Pessimismo: devido a tensão (dualidade), o poeta barroco não tinha nenhuma perspectiva diante da vida.
·         Literatura moralista: a literatura tornou-se um importante instrumento para educar e para "pregar" por parte dos religiosos (padres).

Padre Antônio Vieira
Grande orador, tem obra rica, com profecias, cartas e sermões (o mais conhecido é o Sermão da Sexagésima), em defesa dos índios, combate aos ímpios e Linguagem conceptiva (cultismo - jogo de idéias ou palavras).

Gregório de Matos
Conhecido como Boca do Inferno, é o poeta mais representativo da literatura brasileira. Ele não teve nenhuma obra publicada quando vivo. Apenas em 1963, poetas modernos reuniram em um livro as poesias dele. Gregório de Matos fala em três tipos de poesias:
·         Poesia Religiosa - O homem temente a Deus
·         Poesia Lírica - Transitoriedade do tempo (ora erótica, ora casta).
·         Poesia Satírica - ironiza todo o Brasil Colonial. Daí vem a origem de sue apelido.

Estilos no Barroco Literário
Podemos notar dois estilos no barroco literário:
·         Cultismo: é caracterizado pela linguagem rebuscada, culta, extravagante (hipérboles), descritiva; pela valorização do pormenor mediante jogos de palavras (ludismo verbal), com visível influência do poeta espanhol Luís de Gôngora; daí o estilo ser também conhecido por Gongorismo. No cultismo valoriza-se o "como dizer".
·         Conceptismo: é marcado pelo jogo de idéias, de conceitos, seguindo um raciocínio lógico, racionalista, que utiliza uma retórica aprimorada (arte de bem falar, ou escrever, com o propósito de convencer; oratória). Um dos principais cultores do Conceptismo foi o espanhol Quevedo, de onde deriva o termo Quevedismo. Valoriza-se, neste estilo, "o que dizer".

EXEMPLO DE:
Padre Antônio Vieira
Sermão do Mandato (fragmento)
O primeiro remédio que dizíamos, é o tempo. Tudo cura o tempo, tudo faz esquecer, tudo gasta, tudo digere, tudo acaba. Atreve-se o tempo a colunas de mármore, quanto mais a corações de cera? São as afeições como as vidas, que não há mais certo sinal de haverem de durar pouco, que terem durado muito. São como as linhas, que partem do centro para a circunferência, que quanto mais continuadas, tanto menos unidas. Por isso os Antigos sabiamente pintaram o amor menino; porque não há amor tão robusto que chegue a ser velho. De todos os instrumentos com que o armou a natureza, o desarma o tempo. Afrouxa-lhe o arco, com que já não atira; embota-lhe as setas, com que já não fere; abre-lhe os olhos, com que vê o que não via; e faz-lhe crescer as asas, com que voa e foge.
A razão natural de toda esta diferença, é porque o tempo tira a novidade às cousas, descobre-lhe os defeitos, enfastia-lhe o gosto, e basta que sejam usadas para não serem as mesmas. Gasta-se o ferro com o uso, quanto mais o amor? O mesmo amar é causa de não amar, e o Ter amado muito, de amar menos.
Cronologia e características dos movimentos literários brasileiros
Quinhentismo
1500 (Quinhentismo)
1º Documento escrito em terras brasileiras: Carta a D. Manuel.
Gêneros: poesia lírica e épica, teatro e crônicas.
Pero Vaz de Caminha
José de Anchieta
Valorização do homem (antropocentrismo); paganismo (maravilhoso pagão); superioridade do homem sobre a natureza; objetividade; racionalismo; universalidade; saber concreto em detrimento do abstrato; retomada dos valores greco-romanos; rigor métrico, ritmico e estrófico: equilíbrio e harmonia.

Barroco
1601
Bento Teixeira: publicação de Prosopopéia
Pe. Antônio Vieira (oratória)
Gregório de Matos (poesia)
Arte dos contrastes: antinomia homem - céu, homem - terra; visualização e plasticidade; fugacidade; não-racionalismo; unidade e abertura (perspectivas múltiplas para o observador); luta entre o profano e o sagrado. Culto a elementos evanescentes (água/vento). Sentido de transitoriedade da vida; carpe diem (aproveitar o momento); valorização do presente, movimento ligado ao espírito da Contra - Reforma; jogos de metáforas; riqueza de imagens; gosto pelo pormenor; malabarismo verbal - uso de hipérbato, hipérbole, metáforas e antíteses.

Arcadismo
1768
Cláudio Manuel da Costa: Obras Poéticas
Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga (poesia lírica e épica)
Basílio da Gama e Santa Rita Durão (poesia épica)
Arte do equilíbrio e harmonia; busca do racional, do verdadeiro e da natureza; retorno às concepções de beleza do Renascimento; poesia objetiva e descritiva; áurea mediocritas: o objetivo arcádico de uma vida serena e bucólica; pastoralismo; valorização da mitologia; técnica da simplicidade. Literatura linear e regrada: inutilia truncat (cortar o inútil).

Romantismo
1836
Gonçalves de Magalhães
Publicação de Suspiros Poéticos e Saudades
Poesia: Gonçalves Dias, Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Castro Alves.
Prosa: (urbanos) Alencar, Joaquim Manuel de Macedo, Manuel Antônio de Almeida; (regionalistas) Alencar, Bernardo Guimarães, Taunay; (indianista-histórico) Alencar
1ª Geração: nacionalismo, ufanismo, natureza, religião (cristianismo), indianismo/medievalismo.
2ª Geração: mal do século, evasão, solidão, profundo pessimismo, anseio da morte.
3ª Geração: condoreirismo, liberdade, oratória de reivindicação, transição para o Parnasianismo, literatura social e engajada.
Geral: imaginação, fantasia, sonho, idealização, sonoridade, simplicidade, subjetivismo, sintaxe emotiva, liberdade criadora.

RealismoParnasianismo e Naturalismo
1881
Machado de Assis
Publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas/ Realismo
Aluísio de Azevedo
Publicação de O Mulato/ Naturalismo
Década de 80
Definição do ideário parnasiano.
Prosa: Machado de Assis, Aluísio Azevedo, Raul Pompéia
Poesia: Olavo Bilac, Alberto de Oliveira, Raimundo Correia, Vicente de Carvalho.
Realismo: preocupação com a verdade exata, observação e análise, personagens tipificadas, preferência pelas camadas altas da sociedade. Objetividade. Descrições pormenorizadas. Linguagem correta, no entanto é mais próxima da natural, maior interesse pela caracterização que pela ação - tese documental.
Naturalismo: visão determinista do homem (animal, presa de forças fatais e superiores - meio, herança genética, fisiologia, momento). Tendência para análise dos deslizes de personalidade. Deturpações psíquicas e físicas. Preferência pela classe operária. Patologia social: miséria, adultério, criminalidade, etc - tese experimental.
Parnasianismo: arte pela arte, objetividade, poesia descritiva, versos impassíveis, exatidão e economia de imagens e metáforas, poesia técnica e formal, retomada de valores clássicos, apego à mitologia greco-romana.

Simbolismo
1893
Cruz e Sousa
Publicação de Missal (prosa poética) e Broquéis (poesia).
Poesia: Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimaraens, Pedro Kilkerry, Emiliano Perneta.
Reação contra o positivismo, o Naturalismo e o Parnasianismo; individualismo, subjetivismo psicológico, atitude irracional e mística, respeito pela música, atitude irracional e mística, respeito pela música, cor, luz; procura das possibilidades do léxico.

Pré-Modernismo
1902
Publicação de Os Sertões, de Euclides da Cunha; Canaã, de Graça Aranha.
Prosa: Monteiro Lobato, Euclides da Cunha, Lima Barreto, Graça Aranha.
Poesia: Augusto dos Anjos;
Tendência das primeiras décadas do século XX, sentido mais crítico, fixando diferentes facetas da realidade social, política ou alterações na paisagem e cor local.

Modernismo
1922- Semana de Arte Moderna.
1922-30 - 1ª fase: revolucionária: Mário de Andrade.
Publicação de Paulicéia Desvairada.
1930-45 - 2ª fase:
neo-realismo, literatura regional..
José América de Almeida
A Bagaceira

Geração de 45- 3ª fase: investigar comportamentos e atitudes do ser humano
João Guimarães, Clarice Lispector, João Cabral.
Literatura contemporânea (Pós-Modernismo); década de 50.
Enorme proliferação de estilos.
Concretismo
Poesia -práxis
Contos

1ª Geração: revolucionária - negação da tradição cultural, antipurista, antiacademicista, linguagem coloquial, verso livre, nacionalismo crítico, ironia, sarcasmo, irreverência. Poema-piada, liberdade de criação. Predomínio da poesia.
2ª Geração: estabilidade: herança de 22, acrescentando aprimoramento da linguagem (inclusive metalinguagem), busca da expressão universal, recuperação de valores tradicionais (Neo-simbolismo), engajamento religioso e social, literatura de denúncia das condições humanas. Predomínio da prosa (romance) de tendências neo-realistas e regional.
3ª Geração: Não se mostram tão preocupados com o contexto sociopolítico; análise da natureza humana. Rigor formal.
Literatura contemporânea: Proliferação de estilos, experimentalismo na forma, o cotidiano. Proliferação de contistas e cronistas. crises de caráter existencial, reflexões metafísicas


MODERNISMO
Contexto Histórico
Acontecimentos extraordinários, no campo científico-tecnológico, marcam o início do nosso século na Europa. O telégrafo, o telefone, o cinema, o automóvel, o avião são invenções que atestam o notável desenvolvimento tecnológico da época. Outras contribuições: Albert Einstein revoluciona o campo científico com a sua teoria da relatividade, Sigmund Freud contribui para o progresso dos estudos da psicofisiologia mental, as idéias do suíço Ferdinand Saussure influenciam os estudos lingüísticos e fundam a lingüística estrutural moderna. Entretanto, com a deflagração da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a Europa passa a viver momentos de constantes sobressaltos, que geram a inquietude, niilismo, desequilíbrio, descrença em relação aos sistemas sociais, políticos e filosóficos; o homem passa a questionar os valores vigentes. A guerra lança sobre a humanidade a semente da incerteza, da descrença, da inquietude. A arte não podia deixar de trair esse estado de perplexidade, de abalo interior. Surgem, então, formas de expressão diversas: o Dadaísmo (1918), o Futurismo (1909), o Expressionismo (1911), o Cubismo (1907), o Surrealismo (1924). Os grandes movimentos de vanguarda da Europa tiveram repercussão sobre a mentalidade de intelectuais brasileiros do início do século XX.
·         Os Movimentos de Vanguarda: Os diferentes movimentos artísticos surgidos na Europa no início do século XX são designados, de forma genérica, como Vanguardas Européias.
·         Futurismo: Caracteriza a época das negações e rebeldias, a rejeição violenta da tradição e da convenção. O escritor italiano Felipe Marinetti foi seu criador. Publicou o manifesto futurista. Algumas das principais características: palavras em liberdade, emprego de verbos no infinitivo, supressão de adjetivos, construções diretas e inovadoras, liberdade absoluta de criação.
·         Cubismo: Tem como principal característica a preponderância das formas geométricas nas artes plásticas. Os cubistas representavam objetos da realidade cotidiana como se fossem vistos sob diferentes ângulos ao mesmo tempo. Nas artes plásticas o principal defensor foi o pintor espanhol Pablo Picasso; na literatura, o francês Guillaume Apollinaire. Principais características: a obra de arte se basta a si mesma, mistura do presente com o passado, supressão da lógica aparente, valorização do humor.
·         Expressionismo: Surgiu como reação ao Impressionismo (corrente artística que se dispunha a captar a realidade com exatidão, com toda a sua dinamicidade). Foram seus precursores os pintores Munch e Vincent Van Gogh, os músicos Arnold Schönberg e Darius Milhaud. Seu maior sucesso foi na Alemanha. Principais características: subjetivismo, manifestação do estado de espírito do artista, abandono ao mundo das aparências, valorização da imaginação e dos sonhos, o mundo interior expresso na obra de arte não atende à lógica do mundo exterior.
·         Dadaísmo: Foi o mais radical e destruidor movimento de vanguarda. Definiu-se em Zurique, tendo como principal iniciador o escritor francês Tristan Tzara. Os dadaístas procuravam ridicularizar e destruir todos os dogmas em vigor na pintura, na música e na poesia. Consideravam a guerra loucura e perversidade dos homens. Principais características: liberdade total de criação, abolição da lógica, "arte não é coisa séria", não há necessidade de se fazer uma arte compreensível por todos, bastando que ela seja entendida por um grupo de iniciados.
·         Surrealismo: O adjetivo surrealista (com o sentido de superfanáticos) foi empregado pela primeira vez por Apollinaire. Louis Aragón e André Breton tiveram papel decisivo no lançamento da estética surrealista. Salvador Dali foi o pintor surrealista mais conhecido. Principais características: valorização da imaginação, ilogismo, valorização do inconsciente, automatismo verbal e escrito, humor negro, modificação das estruturas da realidade através da realidade.

Semana da Arte Moderna
Alguns acontecimentos precedem a Semana de Arte Moderna, evento que não ocorre subitamente. Escritores brasileiros trazem de volta da Europa, notícias de uma literatura em crise. A divulgação das teorias vanguardistas, então em curso na Europa, marca uma brusca ruptura na história literária brasileira. Na década de 1910 a 1920, observa-se entre os intelectuais um anseio de renovação artística e cultural. O Brasil contagia-se com a inquietação dominante no mundo europeu, embora inicialmente isso se manifeste de modo tímido, em grupos isolados do Rio de Janeiro e São Paulo (principais centros culturais da época). Tristão de Ataíde (pseudônimo de Alceu Amoroso Lima) e Wilson Martins registram esse fato, ocorrido ao longo daqueles anos e caracterizado como "sincretismo". Em 1912, Oswald de Andrade, na Europa, toma conhecimento das idéias futuristas de Marineti e as divulga em São Paulo. É a revista Orfeu, que assinala a vanguarda futurista em Portugal. Em 1915, Ronald de Carvalho participa da fundação dessa revista. Em 1913, dá-se a primeira mostra de arte não-acadêmica feita no Brasil.
O autor das obras é o pintor Lasar Segall, artista russo radicado em nosso país.
Segall, entretanto, não desencadeia transformações radicais na arte brasileira. Esse papel caberá a Anita Malfatti. Sua exposição, inaugurada ao voltar dos Estados Unidos (12/12/1917), escandaliza o ambiente intelectual paulista e provoca diversos ataques, inclusive o de Monteiro Lobato. Aos quadros de Malfatti - em que se mesclam expressionismo, cubismo e fauvismo (os fauvistas propõem uma arte rude, de cores cruas e composição despojada) - vêm juntar-se as esculturas de Vitor Brecheret. A partir de 1914, o termo futurismo começa a circular nos jornais do Brasil. Há entre os puristas uma grande polêmica gerada pelas inovações instaladas na literatura brasileira: verso livre, escrita automática, lirismo paródico, exploração criativa do folclore, da tradição oral e da linguagem coloquial. Em 1917, Mário de Andrade faz sua estréia literária, sob o pseudônimo de Mário Sobral, com a publicação do livro Há uma gota de sangue em cada poema,seguido de Paulicéia Desvairada, marco expressivo da poesia modernista brasileira. Nesse mesmo ano, Menotti del Picchia publica o poema regionalista Juca Mulato e Manuel Bandeira estréia com a obra Cinza das Horas. Em 1919, Manuel Bandeira lança a segunda obra, Carnaval. Em novembro de 1921, Di Cavalcanti expõe Fantoches da Meia-Noite. Durante o evento, Graça Aranha, que voltava da Europa, conhece o pintor. Surge, nessa ocasião, a idéia da realização da Semana de Arte Moderna. Finalmente, em fevereiro de 1922, realiza-se em São Paulo a Semana de Arte Moderna. O objetivo dos organizadores era acima de tudo a destruição das velhas formas artísticas na literatura, música e artes plásticas. Paralelamente, procuravam apresentar e afirmar os princípios da chamada arte moderna, ainda que eles mesmos estivessem confusos a respeito de seus projetos artísticos. Oswald de Andrade sintetizava o clima da época ao afirmar: "Não sabemos o que queremos. Mas sabemos o que não queremos". A proposição de uma semana (na verdade foram só três noites) implicava uma amostragem geral da prática modernista. Programaram-se conferências, recitais, exposições, leituras, etc. O Teatro Municipal foi alugado. Toda uma atmosfera de provocação se estabeleceu nos círculos letrados da capital paulista. Havia dois partidos: o dos futuristas e o dos passadistas. Desde a abertura da Semana, com a conferência equivocada de Graça Aranha (A emoção estética na Arte Moderna), até a leitura de trechos vanguardistas por Mário de Andrade, Menotti del Picchia, Oswald de Andrade e outros, o público se manifestava por apupos e aplausos fortes. Porém, o momento mais sensacional da Semana deu-se na segunda noite, quando Ronald de Carvalho leu um poema de Manuel Bandeira, o qual não comparecera ao teatro por motivos de saúde. O poema chamava-se "Os Sapos" e era uma ironia violenta aos parnasianos, que ainda dominavam o gosto do público. A reação se deu através de vaias, gritos,patadas. Mas, em sua iconoclastia, o poema delimitava o fim de uma época cultural

Principais participantes
·         Literatura: Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Graça Aranha, Ronald de Carvalho, Menotti del Picchia, Guilherme de Almeida, Sérgio Milliett.
·         Música e artes plásticas: Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Villa-Lobos, Guiomar Novaes.

Importância estética da Semana
Se a Semana foi realizada por jovens inexperientes, sob o domínio de doutrinas européias mal - assimiladas, conforme acentuam alguns críticos, ela significou também o atestado de óbito da arte dominante. O academicismo plástico, o romantismo musical e o parnasianismo literário esboroam-se por inteiro. É possível que a Semana não tenha se convertido no fato mais importante da cultura brasileira,como queriam muitos de seus integrantes. Houve dentro dela, e no período que a sucedeu ( 1922-1930), certa destrutividade gratuita, certo cabotinismo, certa ironia superficial e enorme confusão ideológica. Mário de Andrade diria mais tarde que faltou aos modernistas de 22 um maior empenho social, uma maior impregnação "com a angústia do tempo". Com efeito, os autores que organizaram a Semana colocaram a renovação estética acima de outras preocupações importantes. De qualquer maneira, o espírito modernista destruiu um imobilismo cultural que entravavam as criações mais revolucionárias e complexas, possibilitando um caminho livre à geração posterior. Apesar de todos os limites, a Semana de Arte Moderna deixou vários legados. Caberia a Mário de Andrade -verdadeiro líder e principal teórico do movimento- sintetizar a herança de 22: -A estabilização de uma consciência criadora nacional, preocupada em expressar a realidade brasileira.-A atualização intelectual com as vanguardas européias.-O direito permanente de pesquisa e criação estética.

Divulgação no Brasil
Os grupos modernistas procuraram divulgar suas idéias por meio de revistas de vanguarda, em torno das quais se aglutinavam determinadas correntes. As principais foram
·         Klaxon-Mensário de Arte Moderna: representou a primeira tentativa de organizar as idéias expressas pela Semana de Arte Moderna.
·         Publicada em São Paulo de maio de 1922 a janeiro de 1923. Contrapôs o futurismo (experimentação em velocidade na linguagem) e o primitivismo (próximo ao surrealismo e ao expressionismo, na busca do inconsciente).
·         Movimento Pau-Brasil: Liderado por Oswald de Andrade, propunha a redescoberta do Brasil, através de uma arte voltada para as características do país. O movimento é de natureza pictórica, folclórica, histórica, étnica, econômica, culinária e lingüística.
·         Verde-Amarelismo: Propunha que se abandonem as idéias européias na busca da verdadeira nacionaldade brasileira. Participam desse movimento Menotti Del Picchia, Plínio Salgado, Cassiano Ricardo, Raul Bopp e outros. Subdivide-se em Movimento da Anta e Movimento da Bandeira.
·         Corrente Primitivista: Teve suas idéias expressas na revista de antropofagia. Foi liderado por Oswald de Andrade. Em seu Manifesto Antropófago, propunha que só a antropofagia nos une, no sentido de que as culturas estrangeiras fossem devoradas e recriadas segundo nossas tradições e costumes. "Tupi, or not tupi, that is the question" seria o grande dilema da realidade brasileira.
·         Corrente Espiritualista: Tenta contestar a irreverência de outros grupos, através da defesa da tradição.
·         Outras revistas: Terra Roxa e Outras Terras, A Revista, Arco e Flexa, Verde, Maracajá, Madrugada.

Características do Modernismo
1.    Ânsia de  Modernidade (rejeição do passado)
2.    Liberdade de criação artística
3.    Sentimento nacionalista
4.    Presença do cotidiano e do prosaico

PRIMEIRA GERAÇÃO - 1922 - HERÓICA
Tem como princípios:
·         negação do passado, caráter destrutivo;
·         eleição do moderno como um valor em si mesmo;
·         valorização do cotidiano;
·         nacionalismo;
·         redescoberta da realidade brasileira;
·         desejo de liberdade no uso das estruturas da língua;
·         predominância da poesia sobre a prosa.

Autores principais
1) Oswald de Andrade: Obras: Memórias sentimentais de João Miramar (romance-1924); Serafim Ponte Grande (romance-1933); Pau-Brasil e Cântico dos Cânticos (poesia); O Rei da Vela (teatro-1937); Marco Zero (1943)Características Pessoais: espírito irrequieto, agitador. Foi o primeiro articulador do modernismo. Características Literárias: linguagem elíptica e rica em metáforas e neologismos; Capítulos curtos, fragmentados (técnica cinematográfica); Humor satírico (sátira à aristocracia cafeeira). Valorização do Brasil primitivo.
2) Mário de AndradeObras: Poesia: Há uma gota de sangue em cada poema ( 1917); Paulicéia Desvairada 1922); Losango Cáqui (1926); Clã do Jabuti (1927); Remate dos Males (l930); Lira Paulistana (1946) Ficção: Amar, verbo intransitivo (1927); Macunaíma (1928); Os Contos de Belazarte (1934); Contos Novos (1946) Ensaios: A Escrava que não é Isaura (l925); Aspecto da Literatura Brasileira (l943); O Empalhador de Passarinho (1944). Característica da Poesia: Primeiras obras com elementos modernizadores, Inovação estética, valorização da realidade de São Paulo, nacionalismo, indagação social.
3) Manuel Bandeira: Obras da primeira fase-poesia entre parnasiana e simbolista: Cinza das Horas; Carnaval. Obras da segunda fase: Ritmo dissoluto; Libertinagem; Estrela da Manhã; Belo-Belo; Lira dos cinqüent'anos. Características Pessoais: Poesia intimista, tom confidencial, linguagem coloquial, simplicidade, temas prosáicos e cotidianos, ironia, melancolia e bom humor.
4) Raul Bopp: Obra principal: Cobra Norato- trata-se de uma narrativa fantástica. Depois de estrangulara Cobra Norato e enfiar-se em sua pele, o herói percorre a selva amazônica na busca obsessiva da filha da rainha Luzia, deslumbrando-se a cada instante com um mundo mágico primitivo , os seres do rio e da floresta. Depois de vencer muitos obstáculos, encontra a noiva e rouba-a da cobra grande. Final feliz. Características: Linguagem coloquial, amorosa, rica em diminutivos; Obra primitivista na linha da antropofagia; A um tempo lírico e dramático, a presença de mitos, lendas, e cores locais dá ao poema o cunho de rapsódia amazônica.
5) Cassiano Ricardo: Obra: Martim Cererê (poesias); Poesia "Verde-Amarela"
6) Plínio Salgado: Obra: O estrangeiro (Romance ideológico de técnicas vanguardistas)
7) Antônio de Alcântara Machado: Obra: Brás, Bexiga e Barra Funda (contos de realismo irônico e sentimental e valorização do imigrante italiano) Estilo Modernista.

SEGUNDA FASE - 1930 - CONSOLIDAÇÃO
Tem como princípios:
·         estabilização das conquistas;
·         diminuição dos exageros e radicalismos;
·         ampliação da temática, deixando de usar apenas o particular e tendendo para o universal;
·         regionalismo (preferência pelo romance);
·         equilíbrio quanto ao uso do material lingüístico.
A segunda fase do modernismo brasileiro (1930-1945), mais conhecida como geração de 30, é menos demolidora que a fase anterior, marcando-se pelo espírito construtivo e pela estabilização das conquistas anteriores.

Autores principais da prosa
Absorvidas (parcialmente), as inovações estéticas propostas pela Geração de 22, a literatura brasileira se volta para os temas sociais. Escritores em sua maioria radicados no Nordeste se sensibilizaram e mesmo se revoltaram com o desequilíbrio sócio-econômico. De um lado, a aristocracia rural, os grandes fazendeiros; de outro lado, milhões de camponeses desvalidos e marginalizados. Nas cidades, a mesma injustiça. Os ricos e os pobres. A narrativa de 30 exprime esses contrastes, examinando-os com objetividade e senso crítico. O primeiro romance da geração de 30 é A Bagaceira, de José Américo de Almeida.

Cronologia de alguns romances
·         1928 - A bagaceira (José Américo de Almeida)
·         1930 - O Quinze (Rachel de Queiroz); O país do carnaval (Jorge Amado)
·         1932 - Menino de engenho (José Lins do Rego); Cacau (Jorge Amado)
·         1933 - Caetés (Graciliano Ramos); Clarissa (Érico Veríssimo); Os corumbas (Amando Fontes)
·         1934 - Bangüê (José Lins do Rego); São Bernardo (Graciliano Ramos)
·         1935 - Jubiabá (Jorge Amado); Música ao longe (Érico Veríssimo); Os ratos (Dyonélio Machado

1) José Lins do Rego: A obra de José Lins do Rego divide-se em três blocos temáticos: A) Ciclo da cana-de-açúcar - Menino de Engenho (1932), Doidinho (1933), Bangüê (1934), O Moleque Ricardo (1935), Usina (1936), Fogo Morto (1943). B) Ciclo do cangaço e misticismo - Pedra Bonita (1938), Cangaceiros (1953). C) Temas diversos - Água-Mãe, Pureza (1937), Riacho Doce (1939), Eurídice (1947). Características do autor: predominância da narrativa memorialista, linguagem marcada por forte oralidade, presença marcante do cenário (engenho Santa Rosa).
2) José Américo de Almeida: Obra: A bagaceira. No prefácio, José define o novo "regionalismo". Superando o exótico, os modistas lingüísticos, os lugares-comuns da literatura rural, o novo romance regional nasceria da "síntese entre o particular e o universal, isto é, da síntese entre os traços específicos de uma região e a vida de todos os homens".
3) Graciliano Ramos: Sua obra está traduzida para mais de dez idiomas e alguns de seus relatos já mereceram visão cinematográfica.Obras: Caetés (1933), São Bernardo (1934), Angústia (1936), Vidas Secas (1938), Infância (1945), Insônia (1947-contos), Memórias do Cárcere (1935).
4) Jorge Amado: Autor de fama internacional, traduzido para mais de trinta línguas, seus romances já venderam milhões de exemplares. Sua obra possui duas fases: I fase: O país do carnaval (1930), Cacau (1933), Suor (1934), Jubiabá (1935), Mar Morto (1936), Capitães da Areia (1937), Terras do sem fim (1942), São Jorge dos Ilhéus (1944), Seara Vermelha (1946), Os subterrâneos da Liberdade (1952). II fase: Gabriela, Cravo e Canela (1958), Velhos Marinheiros (1961), Os pastores da noite (1964), Dona Flor e seus dois maridos (1967), Tenda dos milagres (1970), Teresa Batista cansada de guerra (1972), Tieta do Agreste (1977), Farda fardão camisola de dormir (1980), Tocais grande (1984).
5) Rachel de Queiroz: Obras principais: O Quinze (1930), João Miguel (1932), Caminho de Pedras (1937), As Três Marias (1939).Características: narrativas bem sintonizadas com o espírito de 30. A valorização do universo regional, a linguagem precisa e objetiva e a ideologia paternalista que acompanha a pré-consciência do subdesenvolvimento marcam-lhe os textos, dos quais o mais conhecido continua sendo O Quinze.

6) Érico Veríssimo: É o maior romancista gaúcho e um dos mais populares escritores brasileiros.I fase: predominam romances urbanos.Clarissa (1933), Caminhos Cruzados (1935), Música ao longe (1935), Um lugar ao sol (1936), Olhai os lírios do campo (1938), Saga (1940), O resto é silêncio (1943).II fase:O Tempo e o Vento (1949-1962), Noite (1954), O senhor embaixador (1964), O prisioneiro (1967), Incidente em Antares (1971), Solo de Clarineta (Memórias - 1973). Com exceção de Saga, cuja ação ocorre, em grande parte, na Espanha, durante a Revolução de 1936, os outros romances são ambientados em Porto Alegre.
7) Dionélio Machado: Obras: Um pobre homem, Os ratos, O louco do cati.
8) Cyro MartinsObras principais: Campo fora (contos),Trilogia do Gaúcho a pé (Sem Rumo, Porteira Fechada, Estrada Nova).
9) Amando Fontes: Os corumbas - a história de uma família camponesa proletarizada em Aracaju.
10) João Alphonsus: Totônio Pacheco - a desarticulação de um velho "coronel" no mundo urbano.
11) Ciro dos Anjos: O amanuense Belmiro - a solidão e a perda de um lírico burocrata, descendente falido da oligarquia mineira.
12) Marques Rebelo: O Espelho Partido - romance cíclico sobre os costumes do Rio de Janeiro.

Autores principais da poesia
Em linhas gerais:
·         a poesia, a partir de 1930, apresenta crescente amadurecimento; abandona o espírito combativo e irreverente da década anterior e passa a caracterizar-se pelo espírito construtivo;
·         a linguagem é mais comunicativa e pessoal, sem desprezo da liberdade formal dos primeiros tempos do modernismo;
·         a temática é variada: temas sociais, religiosos, amorosos, espiritualistas caracterizam a poesia moderna da segunda fase.
1) Carlos Drummond de Andrade: Obras principais: Alguma Poesia (obra de estréia - 1930), Brejo das Almas, Sentimento do Mundo, Rosa do Povo, Claro Enigma, Fazendeiro do Ar, Lição de Coisas. Características: Nos primeiros livros, Drummond revela-se um poeta modernista pela presença de temas cotidianos, pela linguagem depurada (ausência do pitoresco), pelo humor (apesar do pessimismo e do desencanto). No entanto, não se percebem nele os exageros, a falta de racionalidade, o deboche, enfim, uma acentuada agressividade de outros poetas da época. Posteriormente, em livros como Sentimento do Mundo e Rosa do Povo, o poeta evolui para uma atitude participativa, uma poesia de solidariedade, provocada pelos sofrimentos causados pela guerra. Podemos considerar como características marcantes e quase permanentes do poeta:linguagem depurada, precisa; afetividade intensa, disfarçada pelo humor e ironia; sentimento de solidão, desencanto e pessimismo; temas prosaicos e cotidianos; poesia voltada para indagações filosóficas.
2) Cecília Meireles: Obras principais: Viagem, Vaga Música, Mar Absoluto, Doze Noturnos de Holanda, Romanceiro da Inconfidência (narrativa histórica em versos). Características: Virtuosismo verbal, musicalidade, preferência por versos curtos, delicadeza e espiritualidade. Melancolia que se manifesta na preferência por temas como solidão, fugacidade do tempo, resignação diante da falta de sentido da vida. Abstração,atmosfera de sonho e tom intimista.
3) Mário QuintanaObras: A Rua dos Cataventos, Canções, Sapato Florido, Espelho Mágico, O aprendiz de feiticeiro, Do Caderno H, Apontamentos para a história do Sobrenatural, A vaca e o hipogrifo. Em A Rua dos Cataventos, o autor adota o soneto, inovado pela linguagem coloquial. Temas variados: solidão, melancolia, as ruas de Porto Alegre. Em Espelho Mágico temos quadrinhas bem-humoradas sobre temas filosóficos. Em Sapato Florido e, Do Caderno H, poemas curtos em prosa, versando fatos do cotidiano, com o bom-humor permanente do poeta. Outras experiências poéticas surgem em O Aprendiz de Feiticeiro.
4) Vinícius de Moraes: Obras: Novos Poemas (1938), Cinco Elegias (1943), Poemas, sonetos e baladas (1946). Vinícius de Moraes foi famoso por seus belíssimos sonetos. Temas e características: o amor sensual e místico, o cotidiano e a denúncia social.
5) Jorge de Lima Obras principais: Invenção de Orfeu, Essa negra Fulô. Características e temas: a vida nordestina, a cultura negra, a religiosidade.
6) Murilo Mendes: Obra principal: Contemplação de Ouro Preto. Temas característicos: o "brasileiro modernista", a religiosidade metafísica.

Geração de 45
Já consolidados a partir de 1930, os ideais modernistas vão gradativamente se transformando, até desaparecer por completo aquela visão de ruptura com o tradicional, de destruição dos padrões vigentes. Novos caminhos são buscados, novos autores surgem. Cada vez mais presente, em todas as obras, a realidade brasileira. Surge a Geração de 45, nova safra de escritores brasileiros. A linguagem apresenta preocupação com o apuro formal, restauração da dignidade da linguagem e dos temas.
João Cabral de Melo Neto (1920): Nasceu no Recife, filho de tradicional família pernambucana. Passou a infância no mundo dos engenhos e fez seus estudos com os maristas. Em 1945 ingressou na carreira diplomática, tendo servido numa série de cidades européias. Obras: Pedra do sono (1942); O engenheiro (1945); Psicologia da composição(1947); O cão sem plumas(1950); Morte e vida Severina(1956); A educação pela pedra(1966); Museu de tudo(1975). Características do autor: linguagem depurada, precisa; ausência do pitoresco e do sentimental; busca da forma nua, despojada, obtida através do trabalho lúcido; reflexão permanente sobre a arte poética; poesia participante, denunciando o sofrimento dos nordestinos e a injustiça social.
Carlos Nejar: Voltado para uma temática existencial à partir de Livro do Tempo e O Campeador e o Vento inicia um processo poético com uma visão mais realista em que o meio passa a fornecer matéria viva para a sua reflexão sobre o homem. Tem como característica a habilidade verbal, a capacidade metafórica e a grande força rítmica dos versos. Possui poesia filosofante e abertura para uma temática social. Obras: Da Nações, Casa dos Arreios, Canga e Somos Poucos.

Tendências Poéticas
Concretismo: a linguagem poética dos anos 50 assimila a rapidez das transformações que o país atravessa neste período, o que leva à criação de uma estética de vanguarda marcada pela comunicação imediata, visual, direta e concreta. É o concretismo, corrente que irá marcar toda a produção cultural posterior, não só quanto à literatura, mas também quanto à música, às artes plásticas e ao cinema. Seus fundadores e principais representantes foram:
Augusto de Campos(1931): Deitava-se como um grande ensaísta polêmico no grupo Noigrandes, haja vista a contundência de seu artigo Concretismo e Ismo. Augusto de Campos publica: O Rei menos o Reino(1951); Poetamentos(1953), escreveu ensaios e algumas traduções.Haroldo de Campos(1929) Seu livro de estréia, Auto do Possesso(1950).
Décio Pignatari(1927): Preocupa-se mais com a poesia de novos códigos do que com a poesia propriamente dita. Seu livro de estréia: O Carrossel, escrito em 1950.
Poesia-praxis: em fins da década de 50, surge uma nova tendência poética vanguardista: a poesia-práxis, que tem como principal representante Mário Chamie. A poética desse grupo vincula a palavra ao contexto extralingüístico. A respeito da poesia práxis, assim se manifesta Mário Chamie: "O autor práxis não escreve sobre temas. Ele parte de áreas (seja um fato externo ou emoção), procurando conhecer todos os significados e contradições possíveis e atuantes dessas áreas, através de elementos sensíveis que conferem a elas realidade e existência."
Poesia Social: Surge em 1957, como forma de reação contra os excessos formais do concretismo, a poesia social, mais comunicativa e voltada para os problemas do país. Fazem parte desse grupo Ferreira Gullar, Thiago de Melo, Affonso Ávila e Jamil Haddad.
Ferreira Gullar (l930): Em suas obras, Ferreira Gullar, inicialmente, voltou-se aos experimentos concretistas, passando depois a uma opção participante, de uso da poesia como denúncia e crítica. Empregando muitas vezes ritmos e temas da literatura de cordel, Gullar põe a nu as tensões sociais, expondo forte conteúdo ideológico.
A Poesia Marginal: A chamada poesia marginal surge na década de 70. Apresenta linguagem diversificada, com textos muito próximos da prosa. Os temas, relacionados ao cotidiano, são abordados em tom coloquial, de conversa íntima, de confissão pessoal.Os poetas "marginais" preocupam-se principalmente com a expressão, ao contrário dos concretistas, que davam maior valor à construção do poema. A poesia marginal denuncia a situação de medo em que vivia o país, ainda sob ditadura militar.
Tropicalismo: Retomando a antropofagia oswaldiana, o Tropicalismo foi um forte movimento cultural iniciado em l967, a partir dos Festivais de Música Popular Brasileira da TV Record. Propondo uma postura nacionalista crítica e de ruptura forma, os tropicalistas realizaram uma verdadeira revolução estética no cenário cultural brasileiro. Influenciados pelo concretismo no que diz respeito à estética, tiveram entre seus criadores os nomes de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé, Os Mutantes (conjunto do qual participava Rita Lee), o maestro Rogério Duprat e o poeta Torquato Neto. Nas artes plásticas, a figura máxima da Tropicália foi Hélio Oiticica, artista incompreendido em sua época e hoje internacionalmente conhecido. Torquato Neto, que suicidou-se em 1972, ainda hoje possui poemas que são conhecidos, tais como um que foi musicado por Sérgio Brito: Go back.

Geração de 50\60
No campo da ficção, duas tendências principais dominaram a literatura brasileira durante as décadas de 50\60. De um lado esta a nova narrativa de temática agrária, com seis autores hoje consagrados:
João Guimarães Rosa, Benito Barreto, Ariano Suassuna, José Cândido de Carvalho, Mário Palmério e João Ubaldo Ribeiro.
De outro deve ser destacado um surto de obras importantes de temática urbana em que se sobressaem diversos autores, dos quais podem ser citados Antonio Callado, Clarice Lispector, Lígia Fagundes Telles, Dalton Trevisan e Rubem Fonseca. Características: linguisticamente,  há uma clara e forte presença da variante caboclo-sertaneja da língua portuguesa; estruturalmente, a verossimilhança, típica do romance tradicional, não é respeitada, como é o caso de Sargento Getúlio e O Coronel e o lobisomem, nas quais o protagonista narra a própria morte; tematicamente, todas as obras possuem um traço comum: a ação se desenvolvem no interior, no sertão, em regiões de pequena propriedade, surgindo um conflito entre o mundo agrário e a civilização urbana.
João Guimarães Rosa(1908-1967): Nasceu no interior de Minas Gerais. Filho de um comerciante da região, ali fez seus estudos primários, indo posteriormente a Belo Horizonte, onde cursou Medicina. Mudando-se para o Rio de Janeiro em 1932, fez concurso para a carreira de diplomata no então Ministério do Exterior, iniciando uma atividade que o levaria a várias partes do mundo. Obras: Sagarana (contos-1946); Corpo de Baile (novelas,1956); Grande sertão: veredas(romance,1956); Primeiras estórias (contos, 1962); Tutaméia (contos, 1967); Estas estórias (contos, 1969)Características: Suas histórias são ambientadas no sertão de Minas Gerais ou em pequenos povoados da região, Apresentam o mundo sertanejo, investigando a natureza humana em sua essência, o que confere um sentido de universalidade ao seu regionalismo. É freqüente o conflito entre o bem e o mal. No que se refere à linguagem, o autor não se limita a reproduzir a fala sertaneja, ele estiliza a linguagem regional, procurando neologismos, arcaísmos, onomatopéias, aliterações, inovações sintáticas. O resultado é uma língua original e de grande força expressiva.
Benito Barreto(1929): Nasceu no nordeste de Minas Gerais. Filho de um pequeno proprietário e comerciante inicia sua atividade como militante de uma organização política de esquerda. Nesta condição, viaja pelo nordeste do país. Mais tarde inicia o curso de letras , desistindo em seguida e dedicando-se ao jornalismo, profissão em que continua atuando até hoje.Obra: Os Guainãs (Epopéia sertaneja que fala das fala das operações militares desencadeadas a partir da crise política ocorrida a partir de 1964, quando foi deposto o presidente João Goulart)
Clarice Lispector(1925-1977): Nasceu na Ucrânia e ainda pequena veio com a família para o Brasil. Com apenas dezessete anos escreve o seu primeiro romance, que abriria uma nova tendência na literatura brasileira. Morreu prematuramente, encerrando uma carreira polêmica Obras: Perto do Coração Selvagem (1943); O Lustre(1946); A cidade sitiada (1949); Laços de família (1960); A legião estrangeira(1964); A paixão segundo G. H.(1964); A hora da estrela (1977). Escritora metafísica, romancista e contista, voltou-se mais para a interiorização das personagens, deixando a realidade que as cerca de lado. Considera-se uma obra revolucionária no conteúdo e na forma. Utilizou os mais diversos recursos de estilo, desprezou a linearidade do enredo, afastou-se dos procedimentos literários de sua época. Características: profunda subjetividade, fluxos de consciência, psicologismo exagerado; atmosfera de sonho e fantasia, fluidez, interiorização extrema dos personagens; ausência de enredos objetivos.
Lygia Fagundes Telles(1923): Natural de São Paulo, Lygia Fagundes Telles fixa em seus relatos um universo semelhante ao de Clarice Lispector: o universo burguês feminino. Mas com algumas diferenças, pois, mesmo mantendo o interesse no movimento psicológico, é capaz de configurar com maior objetividade o mundo exterior. Obras: Ciranda de pedra, Verão no aquário, Antes do baile verde, As meninas, Seminário dos ratos e A disciplina do amor.
Dalton Trevisan(1925): Mestre na arte do conto curto e cruel, é criador de uma espécie de mitologia de sua cidade natal, Curitiba. Faz sua estréia na literatura em 1954. Obras: Novelas Nada Exemplares; A Guerra Conjugal; Cemitério de Elefantes; O vampiro de Curitiba. A obra de Dalton Trevisan capta flagrantes do cotidiano, do ambiente doméstico à marginalidade, revelando o lado patético, grotesco ou lírico destas cenas. Como o próprio autor declara, vai buscar sua inspiração em notícias policiais, frases no ar, bulas de remédio, pequenos anúncios,...
José Cândido de Carvalho: Obra: O Coronel e o Lobisomem. Na linha do realismo-mágico e da estilização da linguagem regional, o autor publica um só livro importante. Seu herói, o Coronel Ponciano de Azevedo Furtano, abandona o mundo mágico do interior, com suas sereias e lobisomens, fascinado pela beleza de Dª Esmeraldina. Na cidade é envolvido pela malícia de sua dama ( e do marido), que lhe encoraja as pretensões, abstendo-se de realizá-las. Explorado, empobrecido, observa atônito a ingratidão e a insensibilidade dos antigos aduladores, para morrer abandonado e louco. Notável no romance a grande força expressiva e a originalidade da linguagem.
Rubem Fonseca(1925): É romancista, roteirista de cinema e um grande mestre do conto. Os temas e recursos técnicos deste autor por vezes choca a sensibilidade do leitor. Apresenta temas, modos de falar e situações do marginal, da prostituta, da classe inculta da cidade.  Narra em primeira pessoa de modo a confundir autor e personagem.
Perseguido pela censura, teve suas obras proibidas de serem comercializadas, políticos, sociais e econômicos. Obras:  Sargento Getúlio Viva; O povo Brasileiro; O Sorriso do Lagarto
José J. Veiga(1915): Natural de Corumbá, Mato Grosso, estreou na literatura em 1959, numa coletânea de contos.Tem como principais características a presença de situações fantásticas, que são alegorias sobre a repressão vivida no Brasil durante a ditadura militar. Obras:A Hora dos Ruminantes, Sombras de Reis, Barbudos, Os pecados da tribo.
Antônio Callado(1917): A obra de Antônio Callado representa o pontão mais alto da literatura empenhada em fazer um papel da realidade brasileira contemporânea. Obras:A Madona de Cedro (1958), Quarup (1967), Memórias de Aldenham House(1989).
Josué Guimarães: Linguagem tradicional, por vezes um tanto descuidado, e o gosto do romance histórico. Josué Guimarães narra a trajetória dos colonos alemães, ao chegarem ao Rio Grande do Sul. Obras: A Ferro e Fogo (Tempo de Solidão; Tempo de Guerra). Os Tambores Silenciosos; É Tarde Para Saber; Dona Anja; Camilo Mortágua.
Moacir Scliar: Considerado um representante do realismo mágico, Scliar é hoje um dos escritores de maior projeção, com várias obras premiadas. Suas obras são caracterizadas pela presença frequente do fantástico, que às vezes parece um artifício pitoresco para melhor exprimir a realidade. Sua narrativa é centrada na comunidade judaica do Rio Grande do Sul. Obras: Carnaval dos Animais, A Guerra do Bonfim, O Exército de um Homem Só, O Doutor Miragem, O Centauro no Jardim, A Orelha de Van Gogh e O Olho Enigmático.
Luiz Antônio de Assis Brasil: Nota-se a preocupação em desmistificar os heróis de nossa História, apresentando-os em sua dimensão humana, com falhas, com fraquezas, mas exaltando também os momentos de grandeza. Também revela gosto pelo romance histórico, narrando principalmente a colonização açoriana no Rio Grande do Sul. Obras: Um quarto de légua em quadro, A Prole do Corvo, Bacia das Almas, Videiras de Cristal, Cães de Província e a Triologia Um Castelo no Pampa (Perversas Famílias, Pedra de Memória ).
Luís Fernando Veríssimo: Cronista e cartunista de projeção nacional, Veríssimo tem se destacado por fazer uma crítica bem humorada de nossa sociedade. Descrevem a paisagem urbana e mostram tipos brasileiros do cotidiano. Algumas crônicas desenhadas com personagens como As Cobras, A Família Brasil captam o humor trágico da sociedade brasileira e as perplexidades da geração adulta diante da nova geração. Obras: Ed Mort e Outras Histórias, O Analista de Bagé, A Velhinha de Taubaté, A Mulher do Silva, A Grande Mulher Nua, O Popular e O Jardim do Diabo.
Charles Kiefer: Contista e romancista de temática heterogênea, suas obras dão atenção principalmente à crise da sociedade agrária imigrante do sul. O igualmente jovem escritor nos dá testemunho daqueles tempos obscuros, que vêm se estendendo até nossos dias, como reflexo de um regime totalitário. Obras: Caminhando na Chuva, O Pêndulo do Relógio, Quem Faz Gemer a Terra, A Face do Abismo, Dedos de Pianista e Valsa para Bruno Stein.
Caio Fernando de Abreu: Autor cuja temática reflete com muita verdade o mundo atual e seus problemas. Em seus contos desfilam personagens marginalizados na sociedade brasileira, indivíduos oprimidos e solitários que buscam sentido para viver. Obras: Limite, O Ovo Apunhalado, Pedras de Calcutá, Morangos Mofados, Os Dragões Não Conhecem o Paraíso e Triângulos das Águas e Mel e Girassóis.

Teatro Contemporâneo
Nelson Rodrigues(1912-1980): Considerado nosso maior dramaturgo, suas obras provocam reações extremas que oscilam entre amor e ódio. Polêmico em suas colocações, criador de frases e expressões consagradas, Nelson retrata em suas peças a vida cotidiana do brasileiro de classe média, apontando seus vícios e seus aspectos desumanos como adultérios, incesto, traição, loucura, suicídio,...Em 1943, a encenação de Vestido de Noiva renovou por completo as bases formais e ideológicas do teatro brasileiro. Até então nosso mundo teatral vivia de textos importados, em geral de duvidosa qualidade. Já as peças nacionais primavam pela alienação da realidade e por valerem-se de uma linguagem extremamente artificial. Porém, o aspecto renovador não se reduziria a uma questão estilística: a renovação estava conjuntamente na matéria-prima de seus textos. Obras: Vestido de Noiva; Álbum de família; Beijo no asfalto; Toda nudez será castigada.
Gianfrancesco Guarnieri(1934): Autor preocupado com as denúncias dos problemas da realidade brasileira. Obras:Eles não usam Black-Tie; A semente Castro Alves pede passagem.
Ariano Suassuna(1955): Pernambucano, Ariano foi buscar nas fontes populares o motivo de sua dramaturgia. A principal peça que ele escreveu foi um auto, O Auto da Compadecida, que tem a dimensão de uma farsa, apresentada como pantomima e na qual a religiosidade tradicional do mundo nordestino combina-se com admirável criatividade e saudável irreverência social. Recentemente, Ariano Suassuna voltou a suas fontes para escrever o romance A pedra do Reino, que veio a comprovar a multiplicidade de seu talento. Chico Buarque de Holanda(1944) Escreveu: Calabar, Roda-viva,  Ópera do Malandro, e, juntamente com Paulo Pontes, Gota d’ Água.

PARNASIANISMO
O parnasianismo é uma estética literária de caráter exclusivamente poético, que reagiu contra os abusos sentimentais dos românticos. A poesia parnasiana voltada para onde há o ideal da perfeição estética e a sublimação da "arte pela arte". Teve como sua primeira obra Fanfarras(1882), de Teófilo Dias. Parnasse (em português, parnaso e daí parnasianismo): origina-se de Parnassus, região montanhosa da Grécia. Segundo a lenda, ali moravam os poetas. Alguns críticos chegaram a considerar o parnasianismo uma espécie de realismo na poesia. Tal aproximação é suspeita as duas correntes apresentam visões de mundo distintas. O autor realista percebe a crise da ‘síntese burguesa’, já não acredita em nenhum dos valores da classe dominante e a fustiga social e moralmente. Em compensação o autor parnasiano mantém uma soberba indiferença frente aos dramas do cotidiano, isolando-se na "torre de marfim", onde elabora teorias formalistas de acordo com a inconseqüência e o hedonismo das frações burguesas vitoriosas.

Contexto Histórico
Grandes acontecimentos históricos marcaram a geração dos parnasianos brasileiros. A abolição da escravatura (1888) coincide com a estréia literária de Olavo Bilac. No ano seguinte houve a queda do regime imperial com a Proclamação da República. A transição do século XIX para o século XX representou para o Brasil: um período de consolidação das novas instituições republicanas; fim do regime militar e desenvolvimento dos governos civis; restauração das finanças; impulso ao progresso material. Depois das agitações do início da República, o Brasil atravessou um período de paz política e de prosperidade econômica. Um ano após a proclamação da República, instalou-se a primeira Constituição e, em fins de 1891, Marechal Deodoro dissolve o Congresso e renuncia ao poder, sendo substituído pelo "Marechal de Ferro", Floriano Peixoto.

Características
Arte pela arte: Os parnasianos ressuscitam o preceito latino de que a arte é gratuita, que só vale por si própria. Ela não teria nenhum valor utilitário, nenhum tipo de compromisso. Seria auto-suficiente. Justificada apenas por sua beleza formal. Qualquer tipo de investigação do social, referência ao prosaico, interesse pelas coisas comuns a todos os homens seria ‘matéria impura’ a comprometer o texto. Restabelecem, portanto, um esteticismo de fundo conservador que já vigorava na decadência romana. A arte passava apenas a ser um jogo frívolo de espíritos elegantes.
Culto da forma: O resultado imediato dessa visão seria o endeusamento dos processos formais do poema. A verdade de uma obra residiria em sua beleza. E a beleza seria dada pela elaboração formal. Essa mitologia da perfeição formal e, simultaneamente, a impotência dos poetas em alcançá-la de maneira definitiva são o tema do soneto de Olavo Bilac intitulado "Perfeição".
Os parnasianos consideravam como forma a maneira do poema se apresentar, seus aspectos exteriores. A forma seria assim a técnica de construção do poema. Isso constituía uma simplificação primária do fazer poético e do próprio conceito de forma que passava a ser apenas uma fórmula resumida em alguns itens básicos:
·         Metrificação rigorosa
·         Rimas ricas
·         Preferência pelo soneto
·         Objetividade e impassibilidade
·         Descritivismo
Em vários poemas, os parnasianos apresentam suas teorias de escrita e sua obsessão pela "Deusa Forma". "Profissão de Fé", de Olavo Bilac, ilustra essa concepção formalista:
"Invejo ourives quando escrevo
Imito o amor
Com que ele, em ouro, o alto relevo
Faz de uma flor.(...)

Por isso, corre por servir-me
Sobre o papel
A pena, como em prata firme

Corre o cinzel(...)

Torce, aprimora, alteia, lima
A frase; e, enfim
No verso de ouro engasta a rima
Como um rubi
m
(...)
Temática greco-romana: Apesar de todo o esforço, os parnasianos não conseguiram articular poemas sem conteúdos e foram obrigados a encontrar um assunto desvinculado do mundo concreto para motivo de suas criações. Escolheram a antigüidade clássica, sua historia e sua mitologia. Assistimos então a centenas de textos que falam de deuses, heróis, personagens históricos, cortesãs, fatos lendários e até mesmo objetos: "A sesta de Nero", de Olavo Bilac foi considerado, na época, um grande poema:
"Fulge de luz banhado, esplêndido e suntuoso,
O palácio imperial de pórfiro luzente
É marmor da Lacônia. O teto caprichoso
Mostra em prata incrustado, o nácar de Oriente.

Nero no trono ebúrneo estende-se indolente
Gemas em profusão no estágulo custoso
De ouro bordado vêem-se. O olhar deslumbra, ardente
Da púrpura da Trácia o brilho esplendoroso.

Formosa ancila canta. A aurilavrada lira
Em suas mãos soluça. Os ares perfumando,
Arde a mirra da Arábia em recendente pira.

Formas quebram, dançando, escravas em coréia.
E Nero dorme e sonha, a fronte reclinando
Nos alvos seios nus da lúbrica Pompéia."

Poetas do Parnasianismo
1) Olavo Bilac(1865-1918): Nasceu no Rio de janeiro, numa família de classe média. Estudou Medicina e depois Direito, sem se formar em nenhum dos cursos. Jornalista, funcionário Público, inspetor escolar, exerceu constantemente atividade nacionalista, realizando pregações cívicas em todo o país. Paralelamente, teve certas veleidades boêmias e foi coroado como "Príncipe dos poetas brasileiros". Obras: Poesia (l888); Tarde (1918). A exemplo de quase todos os parnasianos, Olavo Bilac escreveu poesias com grande habilidade técnica sobre temas greco-romanos. Se jamais abandonou sua meticulosa precisão, acabou destruindo aquela impassibilidade, exigida pela estética parnasiana. Fez numerosas descrições da natureza, ainda dentro do mito da objetividade absoluta, porém os seus melhores textos estão permeados por conotações subjetivas, indicando uma herança romântica. Bilac tratou do amor a parti de dois ângulos distintos: um platônico e outro sensual. A quase totalidade de seus textos amorosos tendem à celebração dos prazeres corpóreos.
"Nua, de pé, solto o cabelo às costas,
Sorri. Na alcova perfumada e quente,
Pela janela, como um rio enorme
Profusamente a luz do meio-dia
Entra e se espalha, palpitante e viva (...)

Como uma vaga preguiçosa e lenta
Vem lhe beijar a pequenina ponta
Do pequenino pé macio e branco
Sobe... Cinge-lhe a perna longamente;
Sobe ... e que volta sensual descreve
Para abranger todo o quadril! - prossegue

Lambe-lhe o ventre, abraça-lhe a cintura
Morde-lhe os bicos túmidos dos seios

Corre-lhe a espádua, espia-lhe o recôncavo

Da axila, acende-lhe o coral da boca (...)

E aos mornos beijos, às carícias ternas
Da luz, cerrando levemente os cílios
Satânica ... abre um curto sorriso de volúpia."
Em alguns poemas, contudo, o erotismo perde essa vulgaridade, adquirindo força e beleza com em "In extremis". Na hora de uma morte imaginária, o poeta lamenta a perda das coisas concretas e sensuais da existência. Em um conjunto de sonetos intitulado Via-láctea, Bilac nos apresenta uma concepção mais espiritualizada das relações amorosas. O mais recitado desses sonetos acabou ficando conhecido com o nome do livro.
Identificado com o sistema, o autor de Tarde tornou-se um intelectual a serviço dos grupos dirigentes, oferecendo-lhes composições laudatórias. Olavo Bilac sonegou o Brasil real e inventou um Brasil de heróis, transformando feroz bandeirante, como Fernão Dias, em apóstolo da nacionalidade. O caçador de esmeraldas foi uma frustrada tentativa épica:
"Foi em março, ao findar das chuvas, quase à entrada
Do outono, quando a terra, em sede requeimada,
Bebera longamente as águas da estação,
Que, em bandeira, buscando esmeraldas e prata,
À frente dos peões filhos da rude mata,
Fernão Dias Paes Leme entrou pelo sertão.

Além disso, cantou os símbolos pátrios, a mata, as estrelas, a "última flor do Lácio", as crianças, os soldados, a bandeira, os dias nacionais, etc.
2) Alberto de Oliveira (1857-1937): Nasceu em Saquarema, Rio de Janeiro. Diploma-se em farmácia; inicia o curso de Medicina. Ao lado de Machado de Assis, faz parte ativa na Fundação da Academia de Letras. Foi doutor honoris causa pela Universidade de Buenos Aires. Elegem-no "príncipe dos poetas brasileiros" num concurso promovido pela revista Fon-Fon, para substituir o lugar deixado por Olavo Bilac. Faleceu em Niterói, RJ, em 1937. Obras principais: Canções Românticas(1878); Meridionais(1884); Sonetos e Poemas(1885); Versos e rimas(1895). Foi de todos os parnasianos o que mais permaneceu atado aos mais rigorosos padrões do movimento. Manipulava os procedimentos técnicos de sua escola com precisão, mas essa técnica ressalta ainda mais a pobreza temática, a frieza e a insipidez de uma poesia hoje ilegível. Tinha como características principais da sua poesia a objetividade, a impassibilidade e correção técnica, a excessiva preocupação formal, sintaxe rebuscada e a fuga ao sentimental e ao piegas. Na poesia de Alberto de Oliveira, portanto, encontramos poemas que reproduzem mecanicamente a natureza e objetos descritivos. Uma poesia sobre coisas inanimadas. Uma poesia tão morta como os objetos descritos, como vemos no poema Vaso Grego:
Esta, de áureos relevos, trabalhada
De divas mãos, brilhante copa, um dia,
Já de os deuses servir como cansada,
Vinda do Olimpo, a um novo deus servia.

Era o poeta de Teos que a suspendia
Então e, ora repleta ora esvaziada,
A taça amiga aos dedos seus tinia
Toda de roxas pétalas colmada.

Depois... Mas o lavor da taça admira,
Toca-a, e, do ouvido aproximando-a, às bordas
Finas há de lhe ouvir, canora e doce,

Ignota voz, qual se de antiga lira
Fosse a encantada música das cordas,
Qual se essa a voz de Anacreonte fosse.

3) Raimundo Correia(1859-1911): Poeta e diplomata brasileiro, foi considerado um dos inovadores da poesia brasileira. Quando secretário da delegação diplomática brasileira em Portugal, publica aí uma coletânea de seus livros na obra Poesia(1898).
De volta ao Brasil, assume a direção do Ginásio Fluminense de Petrópolis. Com a saúde bastante abalada, retorna à Europa, vindo a falecer em Paris. Obras Principais: Primeiros Sonhos (1879) Sinfonias(1883) Versos e Versões(1887) Aleluias(1891)A exemplo dos demais componentes da tríade, Raimundo Correia foi um consumado artesão do verso, dominando com perfeição as técnicas de montagem e construção do poema. Tinha como características pessoais o pessimismo, o predomínio da simulação, percepção aguda da transitoriedade da ilusão humana, profundo se das virtualidades vocabulares. O gelo descritivista da escola seria quebrado por uma emoção genuína que humanizava a paisagem.

PRÉ-MODERNISMO
Convencionou-se chamar de Pré-Modernismo o período que vai de 1902, ano da publicação do livro Canaã de Graça Aranha, até 1922, na Semana de Arte Moderna. Durante esse período, coexistem em nossa literatura duas tendências básicas: A conservadora, marcada pelas produções poéticas parnasianas e simbolistas(Olavo Bilac, Raimundo Correia,...) e pela prosa tradicionalista(Rui Barbosa, Coelho Neto, Joaquim Nabuco); A inovadora, caracterizada pela incorporação de aspectos da realidade brasileira ao conteúdo das obras literárias. Destacam-se por utilizarem essa temática,  Euclides da Cunha, Monteiro Lobato, Lima Barreto e Graça Aranha.

Contexto Histórico
No período Pré-modernista identificamos a existência de grupos e classes sociais com interesses bastante conflitantes: num extremo, estavam situados os proprietários rurais de São Paulo e Minas Gerais, representantes de idéias extremamente conservadoras e também saudosistas. Em outro extremo os operários, influenciados por idéias revolucionárias e anarquistas, assumiam atitudes de franca oposição às elites. Entre ambos se situava a burguesia industrial emergente em São Paulo e no Rio de Janeiro, que se mostrava receptiva às idéias reformistas, além de profissionais liberais e setores do exército, francamente favoráveis a mudanças e permeáveis às correntes européias. Neste período ocorreram eventos importantes no país e a ocorrência de agitações populares, como a de Canudos, narrada por Euclides da Cunha na terceira parte de seu livro Os Sertões. Todas essas agitações contribuíram para os questionamentos manifestados na Semana de Arte Moderna de 1922.
Características
Embora os representantes do Pré-Modernismo apresentem traços individuais e estilos próprios, há neles alguns pontos em comum:
·         As obras apresentam uma ruptura com o passado, com o academismo e com os modelos preestabelecidos; são inovadoras;
·         Algumas obras são regionalistas;
·         Verifica-se a presença de alguns tipos humanos marginalizados pela elite; o sertanejo nordestino, o mulato, o caipira,...;
·         O sertão nordestino, os coboclos do interior  dos subúrbios, enfim, a realidade brasileira não-oficial surge como tema de inúmeras obras do período.

Autores
1. Euclides da Cunha(1866-1909): órfão aos três anos, é criado por suas tias. Matricula-se na Escola Politécnica do Rio de Janeiro. Cursa a escola Superior de Guerra. Após uma interrupção, forma-se engenheiro. Mais tarde torna-se colaborador do Estado de São Paulo, que o envia, em 1897, a Canudos (Bahia) como correspondente; fornece ao jornal as informações sobre a rebelião que já eclodira. Obras: Os Sertões (1902); Peru versus Bolívia(1907); Contrastes e confrontos(1907), À margem da história(1909). A obra mais importante de Euclides da Cunha-Os Sertões- não é ficcional. O autor deu a ela um caráter sociológico. O núcleo da obra é a campanha de Canudos movida pelas forças republicanas contra os jagunços liderados pelo fanático Antônio Conselheiro. Sua obra está totalmente dentro dos princípios científicos do final do século IX, o determinismo, que pode ser esquematizada assim: Determinismo Geográfico (o homem como produto do meio natural; o papel preponderante do clima na formação do meio; a impossibilidade civilizatória em zonas tórridas, como o sertão). Determinismo Racial (os cruzamentos raciais enfraquecem a espécie; a miscigenação conduz os homens à bestialidade e a toda a espécie de impulsos criminosos; o sertanejo é o caso típico de hibridismo racial) Determinismo Histórico (uma cultura, como a sertaneja, que por ausência de contato não reproduz o 'progresso' e as revoluções tecnológicas, operadas nos países centrais, permanecerá historicamente atrasada, tendendo a 'anomalias', a exemplo de Canudos). Dentro do esquema determinista e positivista, a obra se divide em três partes, delimitadas a rigor: A terra - O homem - A luta.
Na primeira parte, temos a visão cientificista do Naturalismo: o meio geográfico opressor, com sua vegetação pobre, o chão calcinado, a imobilidade e repetição da paisagem árida. Na segunda a questão racial avulta, interpenetrando-se com as influências mesológicas. Apresenta o negro, o branco e o mulato, além de Antonio Conselheiro, o messias fanático. Há a descrição física e psicológica do sertanejo, seus costumes,seu misticismo. A terceira parte da obra expõe com rigor jornalístico as investidas do exército contra Canudos. O ataque e vitória das forças do governo, o massacre e o fanatismo religioso. Os Sertões é uma mescla de romance e ensaio científico, relato histórico e reportagem jornalística, o que o torna impossível de enquadrá-lo nos limites de um gênero literário. Trata-se de uma obra de exceção. Esta 'epopéia às avessas' distingue-se do mero documento com verdades científicas pela presença e uso intencional da linguagem artística. O estilo é trabalhado, pomposo, enfático, cheio de antíteses e comparações.  É mais retórico nas passagens 'científicas e mais simples nas outras partes.
2. Graça Aranha (1868-1931): Diplomata, ensaísta, romancista e crítico brasileiro, Graça Aranha formou-se em Direito. Distinguiu-se como delegado do Brasil no Congresso Pan-Americano. Em missões diplomáticas, conviveu com Joaquim Nabuco, cuja amizade, aliada à publicação de um excerto do romance Canaã, valeu-lhe a eleição precoce para a Academia Brasileira de Letras, recém fundada. Graça Aranha participou da Semana de Arte Moderna, fato que motivou seu desligamento da Academia Brasileira de Letras. Obras: Canaã (1902); A estética da vida(1921). A sua principal obra, Canaã, se trata de um romance de tese, onde o autor focaliza uma comunidade de imigrantes alemães do Espírito Santo, discutindo a atitude do imigrante. Dois jovens alemães debatem permanentemente: Milkau prefere a integração, a harmonia, o amor; Lentz pretende a dominação dos povos mestiços pelos arianos, portanto a lei do mais forte. O romance é bastante denso, repleto de cenas de violência e dramaticidade, com uma linguagem por vezes impressionista.
3. Lima Barreto(1881-1922): Aos seis anos fica órfão de mãe. Faz o curso secundário e ingressa na Escola Politécnica do Rio de Janeiro, em 1897. Abandona o curso e vai trabalhar no Expediente da Secretaria da Guerra, para sustentar a família. Trabalha depois como jornalista no Correio da Manhã. Leva vida atribulada e entrega-se à boêmia, em virtude da loucura do pai e do seu complexo de cor. Esses problemas pessoais,  Lima Barreto transfere para seus livros.  Daí o caráter autobiográfico de seus personagens. Obras: Recordações do escrivão Isaias Caminha (1909); Triste fim de policarpo Quaresma(1911); Numa e ninfa(1915); Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá (1919); Os Bruzundangas (1923); Clara dos Anjos(1924); Cemitério dos vivos(1957). Características do autor: linguagem crônica, às vezes um tanto displicente; presença permanente da paisagem suburbana do Rio de Janeiro; presença emocional do autor, traduzida pela denúncia do preconceito racial, da opressão da gente simples do povo e a fixação da inconsistência moral dos poderosos.
4. Monteiro Lobato(1882-1948): Nasceu em Taubaté. Formado em Direito, exerceu brevemente a profissão. Além disso foi fazendeiro, editor, adido comercial nos Estados Unidos. A sua luta pelo petróleo valeu-lhe a prisão e o exílio. Obras: A obra completa de Monteiro Lobato está organizada em duas séries: 1ª série- literatura em geral, em 13 volumes: Urupês, Cidades Mortas, Negrinha, Idéias de Jeca Tatu, O Escândalo do Petróleo, Ferro, entre outros; 2ª série- literatura infantil, em 17 volumes: Reinações de Narizinho, Emília no País da Gramática, Aritmética da Emília, O Poço do Visconde, Geografia de Dona Benta e outros. Características do autor: atitude política progressista e atitude literária conservadora ("Paranóia ou Mistificação?"); preferência pelo conto, ambientados no interior paulista; Denúncia social, principalmente nos livros Urupês e Cidades Mortas; presença de forte sentimentalidade; cenas macabras; ironia; o tema predominante é a decadência da zona rural paulista, o atraso e o abandono da população interiorana.
5. Augusto dos Anjos(1884-1914): Filho de advogado paraibano, seguiu a mesma carreira do pai, formando-se em Direito. Mas jamais exerceu a profissão, tornando-se professor de língua portuguesa. Morreu muito jovem atacado de pneumonia. Obra: Eu. Augusto dos Anjos é um caso à parte na poesia brasileira. Autor de grande sucesso popular, foi ignorado pela crítica, que o julgou mórbido e vulgar. Possui tendências parnasianas e simbolistas. Esse autor pode ser considerado o verdadeiro pré-modernista,  pois ele soube antecipar uma série de procedimentos que as vanguardas sacramentariam em 22: a linguagem corrosiva, o coloquialismo e a incorporação à literatura de todas as 'sujeiras' da vida. Características do autor: temática científica e filosofante; linguagem científica tomada ao Evolucionismo; pessimismo; angústia moral; revolta; presença constante dos temas morte, doença, dor, cães e o próprio mundo vegetal.
6. Simões Lopes Neto(1865-1916): Descendente de estancieiros, nasceu em Pelotas e passou a infância no campo. Com treze anos vai para o Rio de Janeiro, estudando no Colégio Abílio. Mais tarde, entra para a Escola de Medicina, abandonando-a no 3º ano e voltando à Pelotas.
Ali, dedica-se a uma série de negócios malogrados.  
Morreu em Pelotas em total obscuridade literária. Obras: Cancioneiro guasca(1910); Contos Gauchescos(1912); Lendas do Sul(1913); Casos do Romualdo(1952). O autor se caracteriza pela linguagem regional, marcada pela oralidade, não apenas no diálogo, mas também na narração, graças ao artifício de criar um narrador fictício, o velho gaúcho Blau Nunes, que toma a palavra e conta as estórias. Em alguns momentos em Lendas do Sul a linguagem se torna solene. A linguagem é viva e cheia de dialetismos, o que, em parte, dificulta a leitura. O linguajar gauchesco é reproduzido pelo escritor, não se tornando pitoresco. O interesse pelo documento leva Simões Lopes Neto a elaborar uma coletânea de poesias populares: Cancioneiro guasca. E também à copilação da mitologia rio-grandense, Lendas do Sul, em que Boitatá, a Salamanca do Jarau e o Negrinho do Pastoreio são revividos pelo estilo oral do narrador pelotense.

QUINHENTISMO
(1500 - 1601)
O homem europeu apresenta-se em pleno século XVI com duas preocupações distintas: a conquista material, resultante da política das Grandes Navegações, e a conquista espiritual, resultante, no caso português, do movimento de contra-reforma. Essas preocupações determinaram as duas manifestações literárias do Quinhentismo brasileiro: a literatura informativa, com os olhos voltados para as riquezas materiais (ouro, prata, ferro, madeira, etc.), e a literatura dos jesuítas, voltada para o trabalho de catequese. Por outro lado, fora a carta de Pero Vaz de Caminha, considerada o primeiro documento da literatura no Brasil, as principais crônicas da literatura informativa datam da segunda metade do século XVI, fato compreensível, uma vez que a colonização só pode ser contada a partir de 1530. A literatura jesuítica, por seu lado, também caracteriza o final do Quinhentismo, tendo esses religiosos pisado o solo brasileiro somente em 1549.

Literatura Informativa
A literatura informativa, também chamada de literatura dos viajantes ou dos cronistas, reflexo que é das Grandes Navegações, empenha-se em fazer um levantamento da "terra nova", de sua flora, fauna, de sua gente. Daí ser urna literatura meramente descritiva e, como tal, sem grande valor literário. No entanto, seu valor histórico deve ser salientado, pois esses documentos são a única fonte de informação sobre o Brasil do século XVI. A principal característica dessa manifestação é a exaltação da terra, resultante do assombro do europeu que vinha de um mundo temperado e se defrontava com o exotismo e a exuberância de um mundo tropical. Com relação à linguagem, o louvor à terra transparece no uso exagerado de adjetivos, quase sempre empregados no superlativo. A Carta de Pero Vaz de Caminha, escrivão da armada de Cabral, sobre o achamento do Brasil, além do inestimável valor histórico, é um trabalho de bom nível literário. O texto da carta mostra claramente o duplo objetivo que, segundo Caminha, impulsionava os portugueses para as aventuras marítimas, isto é, a conquista dos bens materiais e a dilatação da fé cristã.

Literatura Catequética
Conseqüência da contra-reforma, a principal preocupação dos jesuítas era o trabalho de catequese, objetivo que determinou toda a sua produção literária, tanto na poesia como no teatro. Mesmo assim, do ponto de vista estético, foi a melhor produção literária do Quinhentismo brasileiro. Além da poesia de devoção, os jesuítas cultivaram o teatro de caráter pedagógico, baseado em trechos bíblicos, e as cartas que informavam aos superiores na Europa o andamento dos trabalhos na Colônia. José de Anchieta foi o mais conhecido jesuíta. Ele foi o autor da primeira gramática do tupi-guarani, várias poesias, seguindo a tradição do verso medieval, vários autos, também de natureza medieval, segundo o modelo deixado por Gil Vicente, misturando a moral religiosa católica aos costumes dos indígenas, sempre preocupado em caracterizar os extremos, como o Bem e o Mal, o Anjo e o Diabo.

Autores e Obras
Na prosa, destaca-se:
A) a Carta de Pero Vaz de Caminha (1500):
"...a feição deles é serem pardos,maneira de avermelhados,de bons rostos e bons narizes,bem feitos.Andam nus,sem cobertura alguma.Não fazem o menor caso de encobrir ou mostrar suas vergonhas e nisso têm tanta inocência com que têm em mostrar o rosto..."
Nesse trecho da carta destaca-se o primeiro choque cultural sofrido pelos portugueses.O mesmo deve-se ao fato de os índios andarem nus.
"...de ponta a ponta,é tudo praia...muito chã e muito formosa.(...) Nela,até agora,não pudemos saber que haja ouro nem prata...porém a terra em si é de muito bons ares,assim frios e temperados...
Águas são muitas;infindas.E em tal maneira é graciosa,que querendo-a aproveitar,dar-se-á nela tudo por bem das águas que tem. Porém o melhor fruto que dela se pode tirar me parece que será salvar essa gente.E essa deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve jogar..."
Nesse fragmento percebe-se a excelente impressão que o Brasil deixou em Pero Vaz de Caminha. Nota-se também a pretensão dos portugueses em achar que os índios "deveriam ser salvos".
B) o tratado da terra do Brasil e a História da província de Santa Cruz a que vulgarmente chamaram o Brasil,de Pero de Magalhães Gandavo (1576):
"...esta província de Santa Cruz está situada naquela grande América,uma das quatro partes do mundo.(...)Está formada essa província a maneira de harpa,cuja costa pela banda do norte do oriente ao ocidente e está olhando direitamente a equinocial;e pela do sul confina com outras províncias da mesma América povoadas e possuídas de povo gentílico,com que ainda não temos comunicação.E pela do oriente confina com o mar oceano Áfrico,e olha direitamente os reinos do Congo e Angola até o Cabo da Boa Esperança,que é o seu oposto.E pela do ocidente confina com as altíssimas serras dos Andes e fraldas do Peru,as quais são tão soberbas em cima da terra que se diz terem as aves trabalho em as passar..."
"...primeiramente tratarei da planta e raiz de que os moradores fazem seus mantimentos que lá comem em lugar de pão. A raiz se chama mandioca,e a planta de que se gera é da altura de um homem,pouco mais ou menos. Esta planta não é muito grossa,e tem muitos nós..."

C) o tratado descritivo do Brasil,de Gabriel Soares de Sousa (1587):
"...antes de comer não dão graças a Deus,nem lavam as mãos antes de comer,e depois de comer as limpam nos cabelos,corpos e paus;não têm toalhas,nem mesa,comem sentados, ou deitados nas redes,ou em cócoras no chão,e a farinha comem de arremesso,e deixo outras muitas particularidades que têm no comer e no beber,porque estas são as principais..."
Na poesia, destaca-se Padre José de Anchieta além da poesia,teve vital importância na catequese.
"...Ó que pão,ó que comida,
ó que divino manjar
se nos dá no santo altar
cada dia !
Filho da Virgem Maria
que Deus-padre cá mandou
e por nós na cruz passou,
crua morte,
e para que nos conforte
se deixou no sacramento
para dar-nos,com aumento,
sua graça..."

(Do Santíssimo Sacramento)
O assunto do poema é o sacramento da Comunhão,em que uma hóstia ingerida pelo cristão simboliza o corpo de Cristo. No teatro, destacamos o mesmo padre José de Anchieta,com a obra "Auto de São Lourenço".A mesma foi escrita em três línguas: tupi,espanhol e português.Trata do martírio de São Lourenço,que preferiu morrer queimado a renunciar a fé cristã. Outros autores importantes: os jesuítas Manuel da Nóbrega e Fernão Cardim.

EXEMPLO DE:
Literatura Informativa
Carta a EI-Rei Dom Manuel sobre o achamento do Brasil (fragmentos) - Pero Vaz de Caminha
Senhor, posto que o capitão-mor desta vossa frota e assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a nova do achamento desta vossa terra nova, que se ora nesta navegação achou, não deixarei também de dar disso minha conta. (...) E assim seguimos nosso caminho por este mar, de longo, até terça-feira d'oitavas de Páscoa , que foram 21 dias d'Abril, que topamos alguns sinais de terra. (...) E à quarta-feira seguinte, pela manhã, topamos aves, a que chamam fura-buxos. E neste dia, a horas de véspera , houvemos vista de terra, isto é, primeiramente d'um grande monte, mui alto e redondo, e d'outras serras mais baixas a sul dele e de terra chã com grandes arvoredos, ao qual monte alto o capitão pôs o nome o Monte Pascoal e à terra a Terra de Vera Cruz. (...) E dali houvemos vista d'homens, que andavam pela praia, de 7 ou 8, segundo os navios pequenos disseram, por chegarem primeiro. (...) A feição deles é serem pardos, maneira d'avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos, Andam nus, sem nenhuma cobertura, nem estimam nenhuma cousa cobrir nem mostrar suas vergonhas. E estão acerca disso com tanta inocência como têm em mostrar o rosto. (...)
O capitão, quando eles vieram, estava assentado em uma cadeira e uma alcatifa aos pés por estrado, e bem vestido, com um colar d'ouro mui grande ao pescoço. Acenderam tochas e entraram e não fizeram nenhuma menção de cortesia nem de falar ao capitão nem a ninguém. Um deles, porém, pôs olho no colar do capitão e começou d'acenar com a mão para a terra e depois para o colar, como que nos dizia que havia em terra ouro. E também viu um castiçal de prata e assim mesmo acenava para a terra e então para o castiçal, como que havia também prata. Mostraram-lhes um papagaio pardo, que aqui o capitão traz, tomaram-no logo na mão e acenaram para a terra, como que os havia aí. Mostraram-lhes um carneiro, não fizeram dele menção. Mostraram-lhes uma galinha, quase haviam medo dela e não lhe queriam pôr a mão, e depois a tomaram como espantados.

Literatura Catequética
Santa Inês, de José de Anchieta
Cordeirinha linda,
como folga o povo
porque vossa vinda
lhe dá lume novo!
Nossa culpa escura
fugirá depressa,
Pois vossa cabeça
vem com luz tão pura.
Vinde mui depressa
ajudar o povo,
pois, com vossa vinda,
lhe dais lume novo.
Cordeirinha santa,
de lesu querida,
vossa santa vinda
o diabo espanta.
Vossa formosura
honra é do povo,
porque vossa vinda
lhe dá lume novo.
Vós sois, cordeirinha,
de lesu formoso,
mas o vosso esposo
já vos fez rainha.
Por isso vos canta,
com prazer, o povo,
porque vossa vinda
lhe dá lume novo.
Virginal cabeça
pola fé cortada,
com vossa chegada,
já ninguém pereça.
Também padeirinha
sois de nosso povo,
POIS, com vossa vinda,
lhe dais lume novo.

REALISMO
O século XIX é marcado por grandes transformações econômicas e culturais. Há uma nova filosofia de vida, a qual é dita cética e materialista. Essa nova filosofia põe em evidência o fato de o homem ser um produto do meio e do momento em que vive. Com o progresso da ciência, o homem passa a indagar sobre as razões dos fenômenos; não mais permanece impassível diante dos acontecimentos e, em decorrência disso, profundas alterações ocorrem na estrutura econômica e social dos grandes centros urbanos.
A cultura será enriquecida pelo surgimento de grandes pensadores e algumas doutrinas marcantes: A Teoria da Evolução das Espécies, de Darwin, O Positivismo, de Comte, O Socialismo, de Marx.
Cria-se um contexto acentuadamente cientificista onde ganham espaço a experimentação, a observação, a pesquisa, a busca objetiva da verdade, enfim, uma atitude racional diante da vida. Os tumultos sociais, resultantes do conflito incipiente entre capital e trabalho, exigem do artista uma participação consciente no mundo. Já não há mais lugar para a fantasia, o sentimentalismo, o subjetivismo.
No Brasil, a partir de 1870, alguns fatos marcantes agitam a classe média urbana: a fundação do Clube Republicano, a Abolição, a crescente importância do Sul. Essa atmosfera liberal, abolicionista e republicana recebe o impulso de uma multidão de imigrantes europeus. Surgia um novo momento histórico-psicológico, uma nova maneira de ver o mundo, de situar-se diante da vida. O Romantismo não tinha nada a ver com tudo isso. O Romantismo era o passado. O Realismo foi um movimento literário marcado por uma oposição ao idealismo romântico. Desdobrou-se em:
- realismo e naturalismo, na prosa;
- parnasianismo, na poesia.
No Brasil: o romance realista surge, em 1881, com Machado de Assis que escreve Memórias Póstumas de Brás Cubas; o romance naturalista passa a ser cultivado por Aluísio de Azevedo nas obras: O Mulato, O Cortiço, Casa de Pensão; e por Júlio Ribeiro em A Carne; a poesia parnasiana tem como principais representantes: Olavo Bilac, Raimundo Correia, Alberto de Oliveira. 

Características
1) Objetividade, impessoalidade, equilíbrio, moderação
"Não digo que já lhe coubesse a primazia da beleza entre as mocinhas do tempo, porque isto não é romance em que o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas; mas também não digo que lhe maculasse o rosto nenhuma sarda ou espinha, não. Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza cheia daquele feitiço precário e eterno, que o indivíduo passa a outro indivíduo para os fins secretos da criação. Era isso Virgília, e era clara, faceira, ignorante; pueril, cheia de uns ímpetos misteriosos; muita preguiça e alguma devoção - devoção, ou talvez medo; creio que medo."(Machado de Assis)
Veja-se que não há aqui a idealização romântica. A moça Virgília não é "a mais bonita". Apenas "era bonita". Como se percebe, o autor não se envolve emocionalmente, mas observa de modo distante, descreve de maneira impessoal. Observe-se também a mistura de caracteres físicos e psíquicos, a presença da análise psicológica.
2) Racionalismo
Reflexo do racionalismo ideológico e científico da época, significa a possibilidade de uma investigação objetiva dos indivíduos, como tais, e como agentes de grupos da sociedade. Os resultados são análise psicológica e tipificação social.
"Vejam como Deus escreve direito por linhas tortas, pensa ele. Se mana Piedade tem casado com Quincas Borba, apenas me daria uma esperança colateral. Não casou; ambos morreram e aqui está tudo comigo; de modo que o que parecia uma desgraça..." (Machado de Assis - Quincas Borba)
3) Verossimilhança
A literatura deve refletir os mecanismos da vida, eis o projeto do autor realista. Os cenários são descritos com fidelidade, com minúcias às vezes até excessivas. As personagens nada têm da idealização anterior. São seres comuns, presentes no cotidiano, movidos pela satisfação nada espiritual de seus prazeres e suas necessidades imediatas.
4) Contemporaneidade
A tendência à verossimilhança leva os escritores a ambientarem suas obras no momento presente e em lugares próximos, as grandes cidades onde viviam.
5) Pessimismo
Ao contrário dos romances românticos, com seus heróis, heroínas, finais felizes e sentimentos nobres, a prosa realista na expressão muito feliz de Alfredo Bosi é "uma grande mancha pardacenta". As estórias de amor nunca se resolvem de modo feliz, ou virtuoso. A todo instante a sugestão da mesquinhez humana: o escravo Prudêncio, uma vez liberto, compra um escravo e passa a espancá-lo; Brás Cubas se regozija com a morte de Lobo Neves; a "virtuosa" Dona Plácida se corrompe por cinco contos de réis. E, pairando sobre tudo, a indiferença dos astros: "O Cruzeiro, que a linda Sofia não quis fitar, como lhe pedia Rubião, está assaz alto para não discernir os risos e as lágrimas dos homens". Com a sabedoria dos defuntos, Brás Cubas conclui: "Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria."
6) A preocupação estética
O estilo passa a ser objeto de extremo cuidado. A busca da perfeição formal leva os autores a um exaustivo trabalho de depuração da linguagem. A maneira de dizer as coisas adquire importância e transcende.

Romance Realista
1) Machado de Assis: É o nosso mais bem-sucedido, o mais profundo e o mais universal de nossos escritores. Nascido no RJ, descendente de família humilde, foi um autodidata. Viveu numa época em que o Brasil estava sob o regime monárquico escravocrata. D. Pedro II era, então, o imperador de nosso país. Por esse monarca ser grande apreciador da arte literária e por conhecer o valor intelectual do escritor, Machado de Assis consegue uma privilegiada posição social. Torna-se um grande e renomado romancista: pela originalidade e agudeza na concepção da vida; pela profunda análise dos sentimentos; pela extraordinária capacidade em caracterizar as personagens; pelo estilo sóbrio e conciso; pela linguagem adequada a cada gênero literário. Machado de Assis, um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras (1897), foi aclamado seu primeiro presidente, posição que ocupou até sua morte (1908). A poesia machadiana será abordada mais tarde, no Parnasianismo. A prosa machadiana tem duas fases distintas: uma com influências românticas, outra realistas.
Primeira Fase: crença nos valores da época; estrutura de folhetim; esquematismo psicológico. Obras: Ressurreição (1872); A mão e a luva (1874); Helena (1876); Iaiá Garcia (1878) - romances. Contos fluminenses e Histórias da meia-noite - contos. Crisálidas, Falenas e Americanas - poesia.
Segunda Fase: análise psicológica (os seres vistos em sua complexidade psíquica); análise dos valores sociais (os valores que a sociedade cria para justificar sua própria existência); pessimismo (descrença nos indivíduos e na organização social); ironia ( o chamado "sense of humor", inspirado nos ingleses Sterne e Swift); refinamento da linguagem narrativa. Obras:Memórias Póstumas de Brás cubas (1881), Quincas Borba (1892), Dom Casmurro (1900), Esaú e Jacó (1904), Memorial de Aires (1908) - romances. Papéis avulsos, Histórias sem data, várias histórias, páginas recolhidas, Relíquias de casa velha - contos. Ocidentais - poesias.

ROMANTISMO
Com a Revolução Industrial e a conseqüente alteração do modo de produção,a sociedade distingui-se em duas classes distintas:a burguesia capitalista e o proletariado. Politicamente, o absolutismo monárquico dá lugar ao liberalismo, através de movimentos que refletem a ascensão da burguesia, como a Revolução Francesa (1789).Os processos de independência do Brasil e dos Estados Unidos geram lutas civis entre liberais e conservadores,numa tentativa de conciliar as novas forças. Com a industrialização, formam-se grandes massas urbanas. O mercado literário, antes restrito aos salões da aristocracia, amplia-se e diversifica-se, atendendo aos interesses da nova classe dominante: a burguesia, que passa a ser grande apreciadora dessa arte literária. A publicação do poema Camões, de Almeida Garrett, em 1825, é considerada o marco inicial do Romantismo em Portugal, que se consolida a partir de 1836, com a publicação da Revista Panorama. Nessa revista aparecem textos literários de Alexandre Herculano e dramas de Almeida Garrett. No Brasil, o movimento romântico inicia-se em 1836 com a publicação, em Paris, da revista brasiliense Niterói. Um dos seus diretores - Gonçalves de Magalhães - lança, no mesmo ano, Suspiros Poéticos e Saudades-livro de poesias. O Romantismo surge, no Brasil, logo após a independência política, o que explica o intenso nacionalismo ufanista.

Características
1. Ufanismo e Culto da Natureza: Esse deslumbramento diante da Pátria inspira a primeira geração romântica e dá origem a uma importante característica do movimento: a divulgação promocional do Brasil, o êxtase diante da paisagem nacional.
"Minha terra tem palmeiras
onde canta o sabiá..."
ou
"Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores."
(Gonçalves Dias)
Ou ainda:
"Verdes mares bravios de minha terra natal,onde canta a jandaia nas frondes da carnaúba...
(José de Alencar)
"As luzes matutinas
Sorrindo entre neblinas
A várzea como é linda !"
(Fagundes Varela)
Esse entusiasmo nativista leva Alencar e Gonçalves Dias à idealização do índio, o brasileiro autêntico, e de todo indivíduo identificado com a Terra (O Gaúcho, O Sertanejo), porque valorizar o homem brasileiro implica a valorização da Pátria. Assim, o indianismo no Brasil é fruto do sentimento de fervor patriótico, por sua vez estimulado pela proclamação da independência. Igualmente daí, provém a busca da linguagem brasileira, com a freqüência de palavras de origem tupi-guarani, presentes na prosa de Alencar, bem como a insistência nas comparações com elementos da Terra:
"Os cabelos de Iracema eram mais negros que a asa da graúna..."
(José de Alencar)
Além disso, é importante lembrar que, no Arcadismo, a paisagem bucólica era utilizada como cenário para os amores do poeta, mas permanecia impassível, indiferente às emoções que ele sentia. No Romantismo, porém, a natureza compartilha  o sofrimento do poeta, tornando-se reflexo de seu mundo interior. A natureza passa a ser uma extensão do eu do poeta, mostrando-se triste ou alegre como ele, dependendo de seu estado de espírito.
"Oh! céu da minha terra - azul sem mancha
Oh! sol de fogo que me queima a fronte,
Nuvens douradas que correis no ocaso,
Névoas da tarde que cobris o monte;"
(Casimiro de Abreu)
"Amigo! O campo é o ninho do poeta...
Deus fala, quando a turba está quieta,
Às campinas em flor."
(Castro Alves)
2) Sentimentalismo: Todos os poetas são sentimentais. Todos nós, mais ou menos, somos sentimentais. Por isso não é suficientemente claro dizer que os escritores românticos foram sentimentais, porque os parnasianos, os simbolistas, os modernistas também o foram. A diferença está em que, na obra romântica, o sentimentalismo é exacerbado, manifestando-se pela dramaticidade das situações emocionais, pela paixão levada às últimas conseqüências, pelo aspecto candente dos sentimentos, as interjeições, os pontos de exclamação, o exagero vocabular.
"Lerás porém algum dia
Meus versos, d'alma arrancados,
D'amargo pranto banhados,
Com sangue escritos;- e então
confio que te comovas,
Que a minha dor te apiade,
Que chores, não de saudade,
Nem de amor,- de compaixão."
(Gonçalves Dias)
3) Subjetivismo: É entre os românticos que o EU do artista se transforma no centro às vezes absoluto da obra literária. A introspecção é conseqüência da inadaptação do poeta ao meio. Em conflito com a sociedade, o artista se refugia em seu mundo particular. O mundo objetivo é apenas pretexto, o meio de projetar aquilo que importa: a intimidade do poeta com o permanente desencanto.
"Desponta a estrela d'alva, a noite morre,
Pulam no mato ali geros cantores,
E doce a brisa no arraial das flores,
Lânguidas queixas murmurando corre.
Volúvel tribo a solidão percorre
Das borboletas de brilhantes cores;
Soluça o arroio; diz a rola amores
Nas verdes balsas donde o orvalho escorre.
Tudo é luz e esplendor, tudo se esfuma
Às carícias da aurora, ao céu risonho,
Ao flóreo bafo que o sertão perfuma!
Porém minh'alma, triste e sem um sonho,

Repete olhando o prado, o rio, a espuma:
- Oh! mundo encantador, tu é medonho !"
(Fagundes Varela)

4) Predomínio da Imaginação: Quando os poetas românticos se entregam à fantasia, criando um modo inverossímil, onde se movem seres irreais, estão na verdade fugindo do mundo real. Esse predomínio absoluto da imaginação se percebe na descrição do cenário, na caracterização das personagens e na própria narração. Veja-se, a propósito, a descrição da "Moreninha":
"Figure-se a mais bonita criança do mundo, com um vivo, agradável e alegre semblante, com cabelos negros e anelados voando em derredor do seu pescoço, com o fogo do céu nos olhos, com o sorrir dos anjos nos lábios, com a graça divina em toda ela, e far-se-á uma idéia ainda incompleta dessa menina." (Joaquim Manuel de Macedo)
Nesse trecho percebe-se a idealização, o exagero, o irreal. Essa fantasia leva os poetas e os romancistas românticos ao passado e a lugares distantes. Muitos romances românticos (Iracema, O Guarani, Ubirajara), se ambientam em lugares exóticos (a selva tropical) e se situam no passado. Isso se explica exatamente pelo fato de que é mais fácil construir um mundo de sonho quando se foge da realidade cotidiana, opressora, prosaica e , obviamente, mais difícil de se transformar naquilo que o poeta deseja. Imagine-se um escritor romântico em nossos dias, em Porto Alegre. No momento de construir sua fabulação, ele verá que o presente não serve. O rio de águas cristalinas onde a heroína romântica se banha não pode ser, é claro, o nosso Guaíba, de águas poluídas e margens contaminadas pela civilização. Mas, se recuarmos 2 ou 3 séculos, poderemos construir o cenário idílico ao sabor de nossa imaginação.

5) Tendência à espiritualidade: A atitude romântica diante da vida e, principalmente, do amor é sempre espiritual. As heroínas românticas não são mulheres sensuais, ansiosas por beijos de amor. A virgindade romântica, na verdade, transcende à virgindade meramente física. A virgem romântica é a menina-moça que nunca amou, que se descobre para a vida e vai conhecer um sentimento novo, na figura do herói. Esse amor romântico, absolutamente sublimado, é único e imorredouro.
"Amor é vida; é ter constantemente
Alma, sentidos, coração - abertos
Ao grande, ao belo; é ser capaz d'extremos,
D'Altas virtudes, ser capaz de crimes !
Compreender o infinito, a imensidade,
A natureza e Deus; gostar dos campos,
D'aves, flores, murmúrios solitários !"
(Gonçalves Dias)
Ou então:
"Amar é não saber, não ter coragem,
Para dizer do amor que em nós sentimos;
Sentir, sem que se veja, a quem se adora,
Compreender sem lhe ouvir, seus pensamentos
Segui-la, sem poder fitar seus olhos,
Amá-la, sem ousar dizer que amamos,
E, temendo roçar os seus vestidos,
Arder por afogá-la em mil abraços,
Isso é amor, e desse amor se morre!"
(Gonçalves Dias)
Na própria descrição da heroína, se caracteriza a atmosfera de pureza e sublimação em que se conduz o idílio. Vejamos a Cecília, de Alencar:
"Os grandes olhos azuis, meio cerrados, às vezes se abriam languidamente como para se embeberem de luz, e abaixavam de novo as pálpebras rosadas. Os lábios vermelhos e úmidos pareciam uma flor de gardênia dos nossos campos, orvalhada pelo sereno da noite; o hálito doce e ligeiro exalava-se formando um sorriso. Sua tez alva e pura como um floco de algodão tingia-se nas faces de uns longes cor-de-rosa, que iam desmaiando, morrer no colo de linhas suaves e delicadas."
Essa tendência de espiritualizar as relações amorosas se explica em virtude do severo código de valores morais que vigorava na época. Por isso os idílios românticos se transformam em namoros bem-comportados e em casamentos inevitáveis. Mesmo depois de autorizado pelo sacramento e pelos votos matrimoniais, o amor segue respeitoso e sublimado:
"A formosa moça trocara seu vestuário de noiva por esse outro que bem se podia chamar de traje de esposa; pois os suaves emblemas da pureza imaculada, de que a virgem se reveste quando caminha para o altar, já se desfolham como as pétalas da flor do outono, deixando entrever as castas primícias do santo amor conjugal." (Senhora - José de Alencar)
6) Ânsia de Liberdade: Quando nos voltamos para a estética romântica, vamos encontrar uma ânsia de libertação em relação aos modelos rígidos a que sempre esteve sujeita a arte clássica. O que importa agora são os impulsos individuais, as emoções, os sentimentos. Surge então o poema sem número predeterminado de versos, que vai terminar quando cessa a inspiração, a estrofação mais livre, a ausência freqüente de rima.
"Frouxo o verso, talvez, pálida a rima
Por estes meus delírios cambeteia,
Porém odeio o pó que deixa a lima
Quanto a mim ... é fogo quem anima
De uma estância o calor: quando formei-a
Se a estátua não saiu como pretendo,
Quebrou-a, mas nunca seu metal emendo."
(Álvares de Azevedo)
Esse desejo de liberdade, fruto da inadaptação ao meio e a exacerbação da interioridade do poeta, provoca também a ruptura ocasional em relação aos valores sociais vigentes:
"Meu herói é um moço preguiçoso
Que viveu e bebia, porventura,
Ao certo não o sei. Em mesa impura
Como vós, meu leitor; se era formoso,
Esgotara com lábio fervoroso
Como vós e como eu a taça escura...
Era pálido, sim...Mas não d'estudo:
No mais...era um devasso, e disse tudo !"
(Álvares de Azevedo)

7) Evasão ou escapismo: Desiludidos com seu próprio tempo e insatisfeitos com a realidade que os cerca, muitos autores românticos mergulham no chamado "mal do século", postura de frustração e imobilismo em face da realidade. Descontentes com a época em que vivem, buscam formas de fugir dela, através de evasões:
# no tempo: voltando em pensamento à época de sua infância, em que se sentiam protegidos pela figura da mãe ou da irmã.
"Oh, que saudades que eu tenho
Da aurora da minha vida
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais !"
(Casimiro de Abreu)

# no sonho: buscando refúgio para suas tristezas num mundo irreal, marcado por símbolos ou mitos.
"Oh! Nos meus sonhos, pelas noites minhas
Passam tantas visões sobre meu peito !
Calor de febre meu semblante cobre,
Bate meu coração com tanto fogo !"
(Álvares de Azevedo)

# na morte: que é vista como solução para as tristezas e a insatisfação. A idéia de suicídio aparece com intensidade, mostrando-se como a única possibilidade de escapar do sofrimento a que o ser humano se expõe a cada dia.
"Por isso , é morte, eu amo-te e não temo.
Por isso, é morte, eu quero-te comigo.
Leva-me à região da paz horrenda,
Leva-me ao nada, leva-me contigo."
(Junqueira Freire)
"Pensamento gentil de paz eterna,
Amiga morte, vem."
(Junqueira Freire)

Prosa Romântica
Quase todo romance romântico assume a estrutura de folhetim, uma vez que o artista deveria submeter-se às exigências do público burguês e dos diretores dos jornais. O sucesso do folhetim europeu em jornais brasileiros possibilitou o surgimento de vulgares adaptações, feitas por escritores de segunda categoria, até que, em 1844, sai à luz o romance "A Moreninha", de Joaquim Manuel de Macedo, mais do que uma simples cópia de narrativas européias. Surgia o romance brasileiro (em certos aspectos). E o nosso romance começava sob a dimensão do Romantismo.
Autores e Obras

1) Joaquim Manuel de Macedo: Nascido no RJ, formou-se em Medicina, a qual não praticaria seduzido pela carreira literária. Características do autor: Romance de costumes burgueses. Namoros bem-comportados, apego aos preconceitos burgueses, personagens e situações convencionais. Obras Principais: A Moreninha (1844) e O Moço Loiro (1945). Outras: Os Dois Amores, Rosa, Vicentina, O Forasteiro, Os Romances da Semana, A Luneta Mágica, As Vítimas Algozes, As mulheres de Mantilha, A Namoradeira, Um Noivo e Duas Noivas (romances); Cobé, O Cego, O Fantasma Branco, O Primo da Califórnia, Lusbela, Cincinato Quebra-louça, Vingança por Vingança (teatro); A Nebulosa (poema-prosa).

2) José Martiniano de Alencar: Natural do Ceará, onde nasceu em 1829. Pelo título de suas obras, percebe-se a efusão nacionalista que o leva a abranger, em seus romances, o Brasil, em sua totalidade geográfica, cidade e interior. Obras principais: Romances Urbanos: Cinco Minutos (1856), A Viuvinha (1857), Lucíola (1862), Diva (1864), A pata da gazela (1870), Sonhos d'ouro (1872), Senhora (1875), Encarnação (1877). Romances Regionalistas: O gaúcho (1870), O tronco do ipê (1871), Til (1872), O sertanejo (1875). Romances Históricos e Indianistas: O guarani (1857), As minas de prata (1862), Iracema (1865), Alfarrábios (1873), A guerra dos mascates (1873), Ubirajara (1874). Características do autor:Preferência pelo passado e pela natureza. Linguagem exuberante, adjetivação rica e sonora, comparações com a natureza brasileira, prosa rítmica, presença de termos indígenas.
3) Bernardo Guimarães: Nasceu em Ouro Preto, mas foi a São Paulo para estudar direito. Foi colega de Álvares de Azevedo. Características do autor- Introdutor do regionalismo e do sertanismo na literatura brasileira. Foi também poeta ultra-romântico. Principais Obras: O seminarista (1872) e A escrava Isaura (1875). Outras: Cantos de Solidão (1852), Poesias (1865), Folhas de Outono (1852), Novas Poesias (1876) (poesia); O ermitão de Muquém (1869), A Garganta do Inferno (1871), O Garimpeiro (1872), O Índio Afonso (1873), Rosaura, a Enjeitada (1883), O Bandido do Rio das Mortes (1904) (romances); A Voz do Pajé (teatro).
4) Franklin Távora: Nasceu no Ceará; formou-se em Direito em Pernambuco e mudou-se para São Paulo. Características:o regionalismo mais do que o assunto é polêmica; observações realistas dentro de um arcabouço de folhetim. Obras: O Cabeleira (1876), O Matuto (1878), Lourenço (1881); O Cabeleira é a mais conhecida.
5) Visconde de Taunay: Nasceu no RJ e cursou a Escola Militar. Participou da Guerra do Paraguai. Características do autor: meticulosidade em observar o cenário sertanejo. A cor local surge sem os desvios do exotismo ou do estilo, estilo pitoresco, emprego de termos e expressões típicas e regionais. Obras: A retirada da Laguna (1871), Lágrimas do coração, Manuscrito de uma Mulher, No Declínio, Céus e terras do Brasil e outras. A mais importante é Inocência (1872).
6) Manuel Antônio de Almeida: Nasceu no RJ; freqüentou o curso de Medicina, o qual não concluiu por ter se dedicado exaustivamente ao jornalismo. Características do autor: Focalização dos costumes populares e folclore carioca no tempo do Rei. Visão objetiva e bem-humorada da sociedade carioca da época. Ausência da idealização romântica. Obra:Memórias de um Sargento de Milícias
Poesia Romântica
Podemos delimitar três momentos dentro da poesia romântica nacional que apresentam temas e visões de mundo distintos entre si. Estes momentos coincidem com a formação de três gerações. E cada uma dessas gerações assume uma perspectiva própria, embora todas tragam em si o caráter romântico.

PRIMEIRA GERAÇÃO - NACIONALISTA
É composta por Gonçalves de Magalhães e Gonçalves Dias; seus modelos poéticos são Lamartine e Chateaubriand.Principais Temas: o índio; a saudade da pátria; a natureza; a religiosidade; o amor impossível. Essa geração é marcada intensamente pela busca de uma identidade nacional. O cenário tropical, retratado em toda a sua exuberância, é usado como motivo de orgulho e patriotismo.
Autores e Obras
1) Domingos José Gonçalves de Magalhães: Introdutor do Romantismo na poesia, com a obra Suspiros Poéticos e Saudades, em 1836. Principais Obras: novela: Amância (1844); poesia lírica: Suspiros Poéticos e Saudades (1836); poesia épica: A Confederação dos Tamoios (1856); teatro (em verso): Antônio José ou O Poeta e a Inquisição (1839)."
2) Antônio Gonçalves Dias: Descendente de três raças, pois era filho de português e cafusa, Gonçalves Dias transmite em sua obra a marca da origem. Responsável pela consolidação do Romantismo. Entre os românticos, foi o que melhor conseguiu equilibrar os temas exóticos e sentimentais com uma linguagem de linguagem de relativa simplicidade, fugindo tanto da ênfase declamatória como da vulgaridade. Principais assuntos: o índio; a saudade da pátria; a natureza; o amor. Obras Principais: Primeiros cantos (1846), Segundos cantos (1848), Sextilhas de Frei Antão (1848), Últimos cantos (1851), Os Timbiras (obra incompleta devido a um naufrágio).

SEGUNDA GERAÇÃO - INDIVIDUALISTA
Também chamada Subjetivista, Ultra-Romântica ou "Mal-do-século". Fazem parte dessa geração os poetas Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Junqueira Freire e Fagundes Varela; seus modelos poéticos são Byron e Mussett. Principais temas: a dúvida; o tédio; a orgia; a morte; a infância; o medo do amor; o sofrimento.
1) Álvares de Azevedo: Suas obras trazem a marca da adolescência - mas de uma adolescência tão dilacerada e tão conflituosa que termina por representar a experiência mais dramática de nosso Romantismo. Temas: amor (orgia, medo); morte; tédio (humor, dúvida). Principais obras: Lira dos vintes anos (poemas - 1853), Noite na taverna (contos - 1855), o conde Lopo (poema - 1886), Macário (teatro - 1855).
2) Casimiro de Abreu: Subjetivista como Álvares de Azevedo, substitui as conotações dolorosas que aquele dera à adolescência por uma visão graciosa e deslumbrada a respeito da juventude. Principais temas: o amor; a tristeza da vida; a saudade da infância; a saudade da pátria. Ingenuidade (no tratamento dos temas), simplicidade (no vocabulário), melancolia e afetividade.
3) Fagundes Varela: Embora tivesse talento, sempre lhe faltou originalidade. É muito versátil com relação aos temas, tem profundo sentimento religioso, descreve a natureza e o mundo sertanejo. Bastante presente em sua obra é o sofrimento pela perda do filho. Principais obras: Noturna (1861), O Estandarte Auriverde (ardor nacionalista), Cantos do Ermo e da Cidade (culto da natureza, evasão), Cantos e Fantasias, Vozes da América (1864), Anchieta ou o Evangelho nas Selvas (1875-poesia religiosa), Cântico do Calvário (lamenta a morte do filho).
4) Junqueira Freire: A poesia é totalmente autobiográfica. Retrata a inadaptação de um jovem na vida monástica e a presença contínua da morte. Obras: Inspirações do Claustro e Contradições Poéticas

TERCEIRA GERAÇÃO - CONDOREIRA
Também chamada liberal, social ou hugoana. Seu principal representante é o poeta Castro Alves. Tem como modelo poético o escritor Vitor Hugo. Seus principais temas são a defesa de causas humanitárias, a denúncia da escravidão e o amor erótico.
Castro Alves: Supera o extremado individualismo dos poetas anteriores, dando ao Romantismo um sentido social e revolucionário que o aproxima do Realismo. Castro Alves é cantor da liberdade e do futuro. Principais obras: Espumas Flutuantes (1870), A cachoeira de Paulo Afonso (1876), Os escravos (1883), Gonzaga (drama - 1875) Castro Alves é o caso típico do intelectual convertido em homem de ação. O poeta baiano estava consciente de sua situação de letrado e do papel que o letrado pode assumir dentro da sociedade. Compreendeu o significado da Educação num país constituído por analfabetos.

Teatro Romântico
O teatro brasileiro do século XIX está comprometido com a dependência cultural de nossas elites. Os textos procediam em sua quase totalidade da Europa; as companhias vinham de Portugal; respirava-se uma atmosfera dissociada da realidade local. Embora muitos românticos tenham escrito para o teatro, não chegaram a problematizar verdadeiramente a questão de uma dramaturgia brasileira, ao contrário do que aconteceu no romance e mesmo na poesia. Gonçalves Dias (Leonor de Mendonça), José de Alencar (O Demônio Familiar), Castro Alves (Gonzaga) e outros criaram obras esparsas e inspiradas em modelos europeus. Caberia a Martins Pena a elaboração de um conjunto de peças capazes de refletir aspectos da realidade nacional.
1) Martins Pena: Características do autor e da obra: linguagem coloquial; análise cômica dos costumes rurais e urbanos; inicia verdadeiramente o teatro brasileiro; humor popular (preferência pelas comédias); ausência de idealização. Obras principais: 
O juiz de paz na roça (1842), O judas em sábado de aleluia (1846), Quem casa quer casa (1847), O noviço (1853), Os dois ou o inglês maquinista (1871), A família e a festa na roça (1842), O caixeiro da taverna (1847).
2) José de Alencar: O Demônio Familiar (1857), Verso e Reverso (1857), As asas de um anjo (1860), Mãe (1862), O Jesuíta (1857).
3) Gonçalves Dias: Patkull (1843), Beatriz Cenci (1843), Leonor de Mendonça (1847).
4) Castro Alves: Gonzaga ou a Revolução de Minas (1876).
5) Álvares de Azevedo: Macário (1855).

SIMBOLISMO
Em oposição ao Parnasianismo, forma-se uma nova corrente literária, em que uma nova tendência se manifesta: o Simbolismo. Este é um movimento essencialmente poético, que se constitui num grito de revolta contra a razão anônima, contra a impessoalidade, contra a concepção mecanicista do mundo, veiculada pelo Naturalismo. Assim, o Simbolismo se aproxima do Romantismo pela reafirmação do indivíduo.
Contexto Histórico
Entre os séculos XIX e XX, os simbolistas conviveram num período em que o Brasil procurava conquistar sua maturidade mental e sua autonomia, Mesmo depois da Independência de 1822, a metrópole ainda continuava a exercer a sua ação colonialista. A primeira tentativa de autonomia deu-se com a Regência, mas só com a Proclamação da República que o Brasil se separou definitivamente de Portugal. Esse fato levou os homens de letras do século XIX a explorar o tema do nacionalismo. O início do movimento brasileiro é marcado por conflitos no sul do país (1893-1895): a Revolução Federalista e a Revolta Armada.

Características
Subjetivismo: Os simbolistas retomam a subjetividade romântica com outro sentido. Os simbolistas descem até os limites do subconsciente, enquanto os românticos desvendavam apenas a primeira camada da vida interior, onde se localizavam as vivências quase sempre de ordem sentimental. Esse fato explica o caráter ilógico ou o clima de delírio de grande parte dos poemas:
"Cristais diluídos de clarões álcares, Desejos, vibrações, ânsias, alentos,Fulvas vitórias, triunfamentos acres,Os mais estranhos estremecimentos..." (Cruz e Souza)
Sugestão: Abandona-se o descritivismo parnasiano em busca de uma revitalização do gênero lírico. São criadas novas imagens, metáforas e símbolos. Acentua-se o caráter obscuro de certas palavras e o emotivo de outras, tudo co repúdio à linguagem poética usual, carregada de lugares comuns, clichês e frases-feitas que se repetiam de geração em geração.. Trata-se de reinventar a linguagem. A verdadeira poesia consiste em não-dizer, em insinuar, sugerir.Cruz Sousa foi um especialista na utilização de imagens ousadas com efeito de sugestão, como no poema a seguir:"Cróton selvagem, tinhorão lascivo, planta mortal, carnívora, sangrenta, de tua carne báquida rebenta, a vermelha explosão de um sangue vivo.
Musicalidade: Na tentativa de sugerir infinitas sensações aos leitores, os simbolistas aproximaram a poesia da música. Trata-se de poesia com musicalidade em si mesma, através do manejo especial de ritmos da linguagem, esquisitas combinações de rimas, repetição intencional de certos fonemas, entre outros.

Poetas do Simbolismo
Cruz e Sousa: Muito cedo publicou Tropos e Fantasias com a colaboração de Virgílio Várzea. Vítima de preconceitos raciais, pois era filho de antigos escravos, não conseguiu profissão certa. Viveu quase na miséria, contando apenas com pequenos empregos. Teve a vida marcada por uma sucessão de tragédias, como a loucura da esposa, a morte de dois filhos, a miséria e a tuberculose.Obras: Broquéis (1893) Missal(1893) Faróis(1900) Últimos sonetos(1905). Características do Autor:Protesto contra a condição do negro, desejo de ultrapassar as limitações que a sociedade lhe impõe por causa de sua cor; Defesa dos miseráveis, dos negros e dos humilhados; Obsessão pela cor branca, através do uso freqüente do adjetivos como: alvo, luminoso, claro,...e de substantivos como neve, névoa, lírio, marfim,... Todo o sofrimento de Cruz e Sousa impregna a sua poesia e transmite ao leitor a aflição de quem se debate na solidão e no silêncio.
Alphonsus de Guimarães: Nasceu em Ouro Preto, estudou Direito em São Paulo e, voltando para Minas Gerais, exerceu a função de juiz em Mariana, onde morreu praticamente na obscuridade. Obras: centenário das dores de Nossa Senhora (1899)
Dona Mística(1899) Câmara ardente(1899) Kyriale(1902) Pastoral aos Crentes do Amor e de Morte(1902) A morte da mulher amada é o centro da temática amorosa do poeta. Sinhá Constança aparece sempre sublimada, evocada em imagens delicadas, sempre envolvida por uma auréola mística de pureza e virgindade, em versos às vezes, românticos. Alphonsus de Guimarães se caracteriza por uma religiosidade profunda. A mensagem cristã polariza o poeta e o conduz a uma atitude de adoração. Nossa Senhora mereceu-lhe versos devotos.
Alceu Wamosy (l895 -l923): Jornalista de profissão, foi amigo de Dionélio Machado, morreu em consequência de um ferimento no combate de Ponche Verde, na Revolução de l923, em que lutou ao lado dos governistas. É considerado o maior simbolista do Rio Grande do Sul. Celebrizou-se o Soneto Duas Almas, declamado por todo Rio Grande. Obras: Flâmulas Na Terra Virgem, Coroa de Sonhos Poesias. Eduardo Guimarães nasceu em Porto Alegre, em l892 e morreu no Rio de Janeiro em 1928. Foi cronista, contista, ensaísta, mas permanece, sobretudo como poeta. Sua obra foi publicada no volume intitulado “A Divina Quimera”, que mostra no geral características simbolistas: Obscuridade, vaguidade, intimismo e uma nítida tendência decadentista.
Eduardo Guimarães: Nasceu em Porto Alegre, em l892 e morreu no Rio de Janeiro em 1928. Foi cronista, contista, ensaísta, mas permanece, sobretudo como poeta. Sua obra foi publicada no volume intitulado A Divina Quimera, que mostra no geral características simbolistas: Obscuridade, vaguidade, intimismo e uma nítida tendência decadentista.

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