A carta argumentativa
(Trabalhando o gênero)
Leia o texto que segue, produzido a propósito de um tema de redação
proposto pelo vestibular da Unicamp-SP. O texto solicitado devia ser uma carta,
dirigida a um integrante do congresso Nacional, na qual o candidato se
posicionasse a favor ou contra a obrigatoriedade do voto. Após a leitura,
responda às questões propostas.
São Paulo, 6 de setembro de
1991.
Exmo. Sr. Deputado Paulo
Vasconcelos
Em breve o Congresso
Nacional estará revendo a Constituição promulgada em 88. Entre os temas
polêmicos que farão parte dessa revisão certamente estará a obrigatoriedade do
voto.
A
discussão sobre esse assunto perde sentido sem uma reflexão sobre seu
significado. Durante anos a sociedade brasileira buscou reinstaurar a
democracia, regime em que o voto tem papel decisivo, já que é canal
privilegiado de expressão da vontade popular.
Se
a democracia plena está inevitavelmente vinculada à possibilidade de escolher,
o próprio ato de votar deveria ser uma escolha. É assim nos Estados Unidos,
país considerado por muitos um país como exemplar modelo democrático.
Portanto, é de se estranhar
que, em uma democracia, o direito de voto transforma-se em obrigação. Os votos
nulos e brancos quase ganharam as eleições de 89 em alguns recantos do país.
Boa parte dos eleitores de votos brancos e nulos apenas cumpriram uma obrigação
para não sofrerem as penalidades da lei. Estes votos até podem servir para
expressar a descrença de inúmeros brasileiros. Mas enquanto não ficar claro que
voto é direito, expressão de uma vontade, não estaremos construindo um estado
verdadeiramente democrático.
Apenas
quando entendermos de fato que o voto é um direito, não obrigação, poderemos
também entender o que significa direito à vida, à liberdade, à saúde e
educação, à igualdade de oportunidades e outros direitos garantidos pela
Constituição mas não pela prática social.
Por isso gostaria de,
enquanto cidadã, ver-me representada por V. Exª.. Conto com a lucidez que tem
demonstrado para defender em plenário a não obrigatoriedade do voto. Como eu,
tenho certeza de que muitos outros brasileiros agradecem seu apoio e decidida
vontade de contribuir para a construção de uma verdadeira democracia
brasileira.
Respeitosamente,
C.S.S
(Celeste Sampaio Saião, 20, professora)
In: Redação no Vestibular. São Paulo: Texto e oficio, s.d.,p.105
1- A carta argumentativa apresenta certas
características formais semelhantes às da carta pessoal, tais como data,
vocativo, corpo do texto (assunto), expressão cordial de
despedida e assinatura. Identifique cada uma dessas partes.
2- Como é próprio do gênero argumentativo, a carta
argumentativa tem a finalidade de persuadir o interlocutor. Para melhor atingir
esse objetivo, ela costuma apresentar uma estrutura semelhante à da
maior parte dos textos argumentativos. Inicialmente, apresenta a idéia
principal, que traduz o ponto de vista do autor sobre o assunto, geralmente
polêmico; em seguida, essa idéia é desenvolvida por argumentos; por
último, a carta é fechada com uma conclusão, que pode ser uma síntese
das idéias, uma recomendação ou sugestão, uma proposta, uma citação, etc. No
caso da carta em estudo:
a) Em qual parágrafo se encontra a idéia principal
definida pela autora? Indique a frase que traduz a idéia principal do texto.
b) Que papel têm os parágrafos anteriores a esse em
que se encontra a idéia principal?
c) Quais são os parágrafos que efetivamente
desenvolvem o ponto de vista da autora?
d) Que parágrafo é responsável pela conclusão da
carta?
e) Que tipo da conclusão é desenvolvido pela autora?
3- O desenvolvimento de uma argumentação pode ser
feito por meio de um único argumento (que se desdobra e é tratado em diferentes
aspectos) ou de vários argumentos. Na carta em estudo:
a) A autora desenvolveu seu ponto de vista com um ou
mais argumentos? Explicite-o (s).
b) Foi empregada uma comparação como meio de
fundamentar o ponto de vista da autora. Identifique-ª
4- Na carta argumentativa, a linguagem pode sofrer
variações, dependendo do interlocutor a quem ela se dirige e do meio pelo qual
é veiculada. Na carta lida:
a) A linguagem é culta formal, culta informal,
coloquial ou popular?
b) Em duas circunstâncias foram empregados pronomes de
tratamento: “Exmo. Sr.” e “V. Exª.”. Comente a adequação do emprego desses
pronomes ao contexto.
5- Em quase toda a carta, a autora debate o tema de
forma impessoal e sem se dirigir diretamente a seu interlocutor. Isso não
ocorre, entretanto, no penúltimo parágrafo. Observe nele o emprego de verbos e
pronomes.
a) Nesse parágrafo, predomina a 1ª pessoa ou a 3ª pessoa?
b) Em que tempo e modo predominantes estão as formas
verbais?
c) No penúltimo parágrafo, a autora emprega a forma
verbal gostaria, correspondente ao futuro do pretérito do indicativo.
Que efeito de sentido o uso desse tempo verbal tem no contexto?
d) Identifique no texto marcas de pessoalidade que
explicitem o posicionamento direto do autor.
e) Identifique no texto marcas que demonstrem a
tentativa de influir no pensamento do interlocutor.
f) Levando em conta as marcas apontadas no item
anterior, que outra função de linguagem predomina no texto, alem da
referencial?
g) Agora, tente produzir uma carta argumentativa
direcionando-a a alguém que ocupa uma posição privilegiada, exemplo: o
presidente da República ou algum deputado, ou até mesmo o prefeito de sua
cidade. Observação: não se esqueça de usar o pronome adequado e o vocativo.
h) Analise a concordância nominal na oração seguinte:
“Como é próprio do gênero argumentativo, a carta argumentativa tem a finalidade
de persuadir o interlocutor”.
3 comentários:
Cade a resposta ?
Respostas das perguntas
A carta argumentativa apresenta certas características formais semelhantes às da carta pessoal, tais como data, vocativo, corpo do texto (assunto), expressão cordial de despedida e assinatura. Identifique cada uma dessas partes.
Postar um comentário