análise em LITERATURA
E REDAÇÃO -
tema polêmico
Texto 1.
Só alguns poucos negros
conseguem fazer curso superior no Brasil
Saiu o último estudo sobre desigualdade salarial
entre brancos e negros no Brasil. De acordo com o levantamento realizado pelo
Dieese e pela Fundação Seade, os brancos têm rendimento mensal médio de 760
reais, quase o dobro dos 400 reais que os negros recebem por mês.
Apresentados dessa forma, os números apontam para
uma idéia equivocada e simplista de que os patrões estão contratando brancos e
negros para postos de igual responsabilidade, mas, num ato preconceituoso,
decidem dar aos brancos um salário mais alto e aos negros vencimentos mais
modestos. Isso não acontece. Se estivesse ocorrendo, o problema racial no
Brasil até poderia ser enfrentado na delegacia de polícia ou na Justiça. A explicação para o abismo que separa os
rendimentos de negros e brancos é de outra natureza, muito mais profunda.
Negros e brancos recebem salários diferentes porque
não ocupam os mesmos postos de trabalho – nem estão habilitados a fazê-lo. A
máquina que produz a fissão social separa as raças aos poucos, e de forma
cirúrgica. De que outra maneira se pode explicar que, quando observada em
bloco, a população negra representa 45% do total da sociedade, mas, quando se
analisa o 1,7 milhão de brasileiros com
maior renda, os negros são apenas 10%?
Ela mostra alunos do curso de marketing
de uma universidade paulista que gentilmente se deixaram fotografar para esta
reportagem.
Tente contar
quantos estudantes negros aparecem na sala. Um talvez? Esse grupo não é uma
exceção, e os alunos selecionados para o curso foram escolhidos por vestibular
– não em entrevistas pessoais, que poderiam dar margem a práticas
discriminatórias. Os negros não aparecem na fotografia simplesmente porque não
conseguiram chegar à universidade. Por razões diversas, a maioria deles ficou
pelo caminho. Sem acesso à faculdade, não se habilitam a um bom posto de
trabalho.
Relegados a funções secundárias, acabam recebendo menos no fim do mês. O resultado
aparece no estudo: tomando-se em bloco o vencimento dos negros, eles realmente
ganham menos que os brancos, já que
possuem emprego de menor destaque. Para
entender por que os negros ganham menos, é preciso ir à origem do problema. Em
primeiro lugar, está o fator escolaridade. Segundo uma pesquisa feita pelo Ipea, o tempo médio de estudo de um jovem
branco com 25 anos é de 8,4 anos, enquanto o negro na mesma idade passou apenas
6,1 anos na escola.
O abismo fica evidente quando se observa o
currículo escolar. Considerando que um branco e um negro começaram juntos na 1ª
série do ensino fundamental, o branco vai até o 1º ano do colegial e o negro
abandona a escola na 6ª série. Como cada ano de estudo na vida de uma pessoa
representa um acréscimo de 16% em sua renda, a defasagem escolar torna-se a
primeira barreira para a conquista de melhor remuneração. Mas por que os negros
estudam menos? Uma resposta está na renda familiar dos estudantes. Ela é mais
baixa entre os negros, obrigando boa parte das crianças a interromper os
estudos mais cedo para ajudar no orçamento doméstico.
Trata-se de um círculo vicioso difícil de ser
rompido. Como são mais pobres, os negros estudam menos. Como estudam menos,
eles permanecem na pobreza. Muitos estudiosos acreditam que a melhor maneira de
reduzir a desigualdade é estabelecer cotas para negros na escola e no mercado
de trabalho.
Nos Estados Unidos, o sistema de cotas nas
universidades e na administração pública fez com que a classe média negra
dobrasse nos últimos vinte anos. Mas as chamadas "políticas
afirmativas" também produziram uma nova forma de disputa racial. Um
candidato branco que perde um bom emprego não por ser menos capacitado mas
porque a lei favorece o negro normalmente se considera injustiçado pela
política de cotas. Nesse caso, a política pode ser lida como uma forma de
preconceito.
A despeito dos debates acirrados, a verdade é que
nos Estados Unidos o sistema se mostrou eficiente para combater a desigualdade.
No Brasil, alguns órgãos públicos anunciaram recentemente a reserva de vagas
para negros. Também está sendo criada uma lei que estabelece a cota mínima de 25%
para atores negros em programas de televisão. As estatísticas apontam que a
situação do negro brasileiro tem melhorado em alguns setores. Segundo um
levantamento feito pelo IBGE, em cada grupo de dez negros, quatro estão parados
na pirâmide social. Dos seis que estão se mexendo, cinco estão subindo.
No mercado de trabalho, também ocorreram avanços.
Há dez anos, apenas 10% dos negros eram empregadores. Hoje os patrões negros representam 22% do
total. Como consequência, tornaram-se mais freqüentes cenas de negros em
restaurantes caros ou fazendo compras em lojas chiques nos shoppings. Os
avanços amenizam o problema, mas não escondem o fato de que existe enorme
desigualdade racial no Brasil.
Ainda falta muito para que as salas das
universidades, os cargos de chefia e os postos públicos mais cobiçados sejam
preenchidos de forma equilibrada entre brancos e negros.
Texto 2.
Desigualdade
entre negros e brancos cai na educação – em virtude do dia da consciência negra
no Brasil
As disparidades entre negros e brancos têm
diminuído na educação, mas isso ainda não se refletiu em queda da desigualdade
de renda na mesma proporção, indica o quarto Relatório Nacional de
Acompanhamento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), lançado pelo
governo federal no fim de março, em Brasília.
Entre a população que trabalha, o rendimento de
pretos ou pardos melhorou um pouco mais que o dos brancos, e a inequidade caiu.
Na população como um todo, a pobreza
encolheu, mas a redução foi semelhante entre os dois grupos — a desigualdade,
portanto, se manteve. Na avaliação do estudo, “os dados indicam a persistência
de práticas de discriminação”.
O estudo mostra que a tendência de universalização
do ensino fundamental — uma política mais geral, não voltada a determinadas
etnias especificamente — beneficiou negros e brancos. Em 1992, o percentual de
pessoas de 7 a 14 anos que frequentavam o ensino fundamental era de 75,3% para
pretos ou pardos e 87,5% para brancos. Já em 2008, as porcentagens eram
praticamente iguais: 94,7% no primeiro caso e 95,4% no segundo. Um dos efeitos
disso foi a queda da desigualdade no analfabetismo.
Na faixa etária de 15 a 24 anos, a taxa era de
95,6% para os brancos e 86,8% para os negros, em 1992. Já em 2008 os números
eram parecidos: 98,7% para os brancos, 97,3% para pretos ou pardos. No ensino
médio a desigualdade ainda persiste, embora em nível menor. Em 1992, a
proporção de brancos de 15 a 17 anos matriculados no antigo colegial (27,1%)
era quase o triplo da dos negros (9,2%). Em 2008, a diferença havia caído para
44% (61% entre os brancos, 42,2% entre pretos ou pardos). Quanto se adiciona o
componente gênero, porém, a questão se agrava. "As negras frequentam menos
as escolas, apresentam menores médias de anos de estudo e maior defasagem
escolar", afirma o estudo.
Se o perfil educacional de negros e brancos ficou
mais parecido, poderia se esperar que o
mesmo acontecesse com o rendimento. Não é o que tem ocorrido. A distância entre
trabalhadores brancos e os de cor preta ou parda diminuiu, mas ainda é grande.
Em 2008, estes últimos recebiam somente 56,7% da remuneração dos primeiros,
enquanto dez anos antes o percentual era de 48,4%. "Tal diferencial se
deve, em grande medida, à menor escolaridade média da população preta e parda,
que, no entanto, não é suficiente para explicar as diferenças de
rendimentos", afirma o relatório. O confronto dos dados de 1998 com os de
2008 mostra que, nos dez anos e para
todas as faixas de escolaridade, os pretos ou pardos sempre estiveram em
situação pior na população ocupada. Ao longo desse período, a desigualdade caiu
entre quem tem até 4 anos de estudos (
no máximo o antigo primário, portanto) e quem tem de 9 a 11 anos de estudos
(ensino médio completo ou incompleto).
Mas não mudou entre trabalhadores com 5 a 8 anos de
estudos (antigo ginásio completo ou incompleto) e aumentou entre os que têm
superior completo e incompleto. Quando se leva em conta não apenas os
trabalhadores, mas toda a população, a desigualdade se mostra estável. O
relatório aponta que, em 1990, 37,1% dos pretos ou pardos viviam abaixo da
linha de extrema pobreza do Banco Mundial (US$ 1,25 ao dia, em dólar calculado
pela paridade do poder de compra, que desconta as diferenças de custo de vida
entre os países). Em 2008, a proporção havia caído para 6,6% — um recuo de 82%
no período. Entre os brancos, a queda foi semelhante (83%): de 16,5%, em 1990,
para 2,8%, no ano retrasado. Os números mostram, portanto, que a proporção de
pessoas muito pobres entre os negros é mais que o dobro que entre os brancos.
Sob esse
ponto de vista, a desigualdade racial abre um fosso de cinco anos entre os dois
grupos: a extrema pobreza de pretos e partos de 2008 era a mesma que a de
brancos de 2003. Como afirma o estudo, apesar dos avanços "o objetivo da
igualdade racial requereria uma queda
mais acelerada da pobreza extrema entre pretos ou pardos".Fonte: Pauta Social, Comunicação Portal Social
1)
Qual a temática do texto 1? E a do texto 2?
2)
A que se refere a palavra “isso”,
na primeira linha do texto 2?
3)
Retire as partes do texto que foram colocadas entre aspas.
4)
De acordo com as duas últimas linhas do texto 2, conseguiu – se alcançar
a igualdade entre negros e brancos? Justifique.
5)
De acordo com os textos , fale
sobre as disparidades existentes entre brancos e negros nos aspectos:
a)
Econômico;
b)
Educação;
6)
“Sob esse ponto de
vista...”,
texto 2, a que se refere a palavra
em destaque?
7)
E você? Acha que ainda existe essa diferença social que foi evidenciada
no texto? Justifique.
8)
Fale sobre o avanço ocorrido no mercado, com base no penúltimo parágrafo
do texto 1.
9)
O quadro da discriminação vem de um fato histórico. Aponte esse fato.
10) Em que momento do texto 1,
esse fato indiretamente foi apontado?
11) Qual a sua opinião sobre
as cotas para negros nas universidades? Justifique.
12) Com base nos textos
em estudo, construa outro em 15 linhas. Não se esqueça de dar um título
sugestivo.
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