IMPESSOALIZAÇÃO DA LINGUAGEM (Capítulo 10,
unidade I, p.112) WILLIAM ROBERTO CEREJA E TEREZA COCHAR MAGALHÃES. PORTUGUÊS LINGUAGENS.
Dignidade...
[...] Respeito, cidadania,
autoestima... A lista poderia ser enorme se eu continuasse buscando palavras
para relacionar o que nós, negros, estamos buscando ao longo dos anos para reafirmar
nossa negritude. Ainda somos vistos com os olhos da desconfiança e nossa
capacidade de trabalho é timidamente colocada à prova. O tempo – no entanto,
como sempre disse – não é para lamentações. Temos mais é que acreditar que
podemos mudar e enfrentar desafios. Nada de ficar com um olho no peixe e outro
no gato.
Fran Oliveira (Raça Brasil, nº 71)
Discriminação: o que é?
Quando alguém ou
um grupo julga uma pessoa não pelo que ela é, mas por sua nacionalidade, cor,
sexo, orientação sexual, isto é discriminar. Trata-se de um hábito arraigado em
todos os povos, aprendido pelas crianças ao copiarem as atitudes de seus pais,
com consequências medonhas na forma de guerras (tutsis contra hutus, sérvios
contra croatas) e opressão sistemática de grandes parcelas da população (negros
pelos brancos, índios pelos colonizadores, mulheres pelos homens, judeus pelos
cristãos, etc.). Apesar de ser muito difícil mudar opiniões aprendidas na
primeira infância, não é impossível exercitar a tolerância na forma de controle
de ações discriminatórias. Nos Estados Unidos, por exemplo, muitas corporações
já proíbem comentários e piadas sexistas (pressupondo que toda mulher é burra
ou prostituta ou inferior), racistas (contra negros, mulatos, índios, latinos)
e até mesmo contra pessoas com deficiências físicas.
(Gilberto
Dimenstein, Aprendiz do futuro. São
Paulo: Ática, 1997. P.58)
1. Uma das formas
de impessoalizar a linguagem é indeterminar o sujeito. Para isso, existem duas
possibilidades:
- suprime-se o
sujeito e coloca-se o verbo na 3ª pessoa do plural;
- emprega-se verbo
intransitivo ou transitivo indireto ou de ligação + pronome se.
Observe:
O presidente da
associação já redigiu o requerimento. / Já redigiram o requerimento.
Precisamos de
pessoas idealistas. / Precisa-se de pessoas idealistas.
Impessoalize os
enunciados que seguem utilizando um desses procedimentos ou, se possível, os
dois.
a)
As pessoas carentes nunca precisaram tanto de ajuda como
agora.
b)
Naqueles tempos, aos domingos os moradores iam tomar banho
no rio.
c)
Como as crianças eram felizes naquela casa!
d)
A professora perguntou de você na escola.
2. Outra forma de
impessoalização é passar orações na voz ativa para a voz passiva, suprimindo o
agente da passiva. Há dois meios de transformar a voz ativa em voz passiva:
- verbo transitivo
direto na forma analítica, acompanhado do auxiliar ser ou estar;
- verbo transitivo direto na forma sintética,
acompanhado da partícula apassivadora se.
Observe:
Quando alguém ou
um grupo julga uma pessoa não pelo que ela é...(ativa)
Quando uma pessoa
é julgada não pelo que ela é...(passiva analítica)
Quando se julga
uma pessoa não pelo que ela é...(passiva sintética)
Faça o mesmo com os enunciados a seguir, atentando
para a concordância do verbo com o sujeito paciente.
a)
Muitas corporações proíbem piadas e comentários sexistas.
b)
Os deputados aprovaram uma lei de validade discutível.
c)
O time aplaudiu os atletas novatos.
d)
Alguns funcionários tomaram decisões sem consultar o
diretor.
e)
Vocês podem encontrar os livros em todas as livrarias da
cidade.
3. Outra forma de
impessoalizar a linguagem é fazer uso de alguns verbos, como haver, fazer, existir, e expressões
como convém observar, é bom lembrar, é
preciso considerar, não se pode esquecer, é indispensável, é importante, etc.
Observe:
Eu acho que todos
devem colaborar na campanha da vacinação de idosos.
Convém que todos
colaborem na campanha da vacinação de idosos.
Faça o mesmo com os
enunciados que seguem:
a)
Nós queríamos acrescentar mais um item nas normas
escolares.
b)
Todos têm de cumprir rigorosamente o horário combinado.
c)
Tenho a impressão de que os danos causados pelas bebidas
alcoólicas são maiores do que os causados pelas drogas.
d)
Acho que algumas brincadeiras feitas nos trotes para
calouros são de mau-gosto.

Vai para o pódio ou não vai?
Nunca é tarde para aprender um esporte. Neste momento, por exemplo, somos 170 milhões em ação, tentando decifrar a ginástica olímpica. Não importa que poucos entre nós sejam capazes de distinguir entre um duplo twist carpado e um duplo twist esticado sem o auxílio do replay em câmera lenta. Daqui até o início das Olimpíadas teremos tempo suficiente para aprender a avaliar um exercício de solo com precisão de três casas depois da vírgula. "Ladrões! Esse era pra no mínimo 9,689!", vociferarão pais de família, com a mesma naturalidade de quem contesta um impedimento mal marcado.
Já vimos esse
filme. Até 1997, por exemplo, a palavra "saibro" não fazia parte do
vocabulário cotidiano. Na nossa cultura, se algo passasse de zero para 15,
fosse direto a 30 e logo depois a 40, tratava-se evidentemente de um sinal da
volta da hiperinflação, e não de um sistema exótico de contagem de pontos. No
entanto, bastou o Guga ser campeão em Roland Garros para que os resultados do tênis
passassem a aparecer diariamente no noticiário, junto com a cotação do dólar e
o ibope da novela das 9. A
prolongada má fase do nosso jogador número um, contudo, ameaça relegar o tênis
ao mesmo limbo habitado por esportes outrora populares, como
o xadrez de Mequinho e o salto triplo de
João do Pulo.

O fato é que não
gostamos de esporte: gostamos é de campeões. Precisaríamos nascer de novo para
aprender a apreciar uma competição esportiva como se deve. Na encarnação atual,
nosso negócio é torcer. Nem todos os esportes, infelizmente, são apropriados ao
nosso estilo de torcida. Ainda não se sabe como o mundo reagirá àquele mar de
camisetas amarelas nas arquibancadas de Atenas berrando "Ê Ô Ê Ô, A DAIANE
É UM TERROR!".
Observe o
contra-senso. Somos os inventores do único esporte verdadeiramente olímpico - o
frescobol, jogo singular em que não há vencedor nem vencido. Ainda assim, os
esportes em que não temos chances de ser campeões nos causam a mais olímpica
indiferença. Veja o caso da Fórmula 1. Alguém aí tem acompanhado as corridas de
verdade, como antigamente? Duvido. A gente deixa a TV ligada, mas é só para
passar o tempo, enquanto espera o Nelsinho Piquet Jr. chegar.
O mais espantoso é
que, com exceção do futebol, nossos campeões mundiais surgem em esportes que
nenhum brasileiro parece praticar na vida real. Antes do Guga, o Brasil só se
destacava pelo roubo de tênis. Ginástica é um esporte que normalmente só
praticamos com o orçamento doméstico. E nosso talento natural para o
automobilismo - a saber: atravessar o sinal vermelho, ultrapassar pelo
acostamento e molhar a mão do guarda - não serve para nada na hora de disputar
um grande prêmio.
O difícil de
torcer por esses esportes desconhecidos é aprender a conviver com a
irregularidade dos atletas. São poucas as modalidades em que conseguimos manter
nossa hegemonia de maneira consistente. Só existe um esporte em que não somos
ameaçados por nenhum país há muitos anos: o top-modelismo. Faz pelo menos duas
Copas do Mundo que Gisele Bündchen lidera o ranking, sem amarelar. O que mais
podemos querer? Daiane no solo, Gisele na passarela. É! CAM-PE-ÃO! É!
CAM-PE-ÃO!
Revista Época, 12/4/2004, coluna Xongas.
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